Cieฬncia, tecnologia, inovacฬงaฬo, financฬงas e negoฬcios saฬo pautas prioritaฬrias para a miฬdia. Mas as mulheres estรฃo marginalizadas em boa parte delas na imprensa do Reino Unido e em paiฬses de liฬngua inglesa.
Eฬ o que mostram dois estudos feitos pelo Global Institute For Womenโs Leadership, do Kingโs Colle- ge Londres.
A pesquisadora Laura Jones eฬ autora de uma anaฬlise sobre a representacฬงaฬo feminina na cobertura da crise do coronaviฬrus, e co-autora de outra que examinou o noticiaฬrio financeiro e econoฬmico no paiฬs.
Utilizando teฬcnicas de big data, os dois trabalhos chegaram aฬ mesma conclusaฬo: a desigualdade na representacฬงaฬo eฬ flagrante.
Os estudos foram publicados em 2020, mas Jones acredita que pouco mudou desde entaฬo.
โO principal fator para a representacฬงaฬo na miฬdia eฬ a presencฬงa em posicฬงoฬes de poder poliฬtico, econoฬmico e social – e isso naฬo mudou substancialmenteโ.
Mulheres marginalizadas na cobertura da pandemia
A anรกlise de quase 150 mil artigos relacionados ร covid-19 publicados entre 1ยบ de marรงo e 31 de julho de 2020 nos 15 veรญculos de maior audiรชncia do Reino Unido, Austrรกlia e EUA constatou que apenas um terรงo das fontes citadas eram mulheres.
A persistรชncia da mรญdia em representar mulheres como donas de casa e mรฃes ficou evidenciada no estudo feito nos primeiros meses de pandemia.
Mais da metade das reportagens sobre cuidados infantis e violรชncia domรฉstica teve mulheres como personagens ou fontes.
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Entre os especialistas em ciรชncia mencionados na cobertura do perรญodo, sรณ 5% eram mulheres.
As fontes tambรฉm eram predominantemente masculinas nas matรฉrias sobre assuntos econรดmicos associados ร pandemia. Dos entrevistados, sรณ 15% eram mulheres.
Nas menรงรตes aos personagens polรญticos durante a pandemia, somente 15% se referiam a mulheres. Mesmo excluindo-se as referรชncias aos lรญderes nacionais masculinos dos paรญses analisados, o รญndice subiu apenas para 20%.
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Mulheres ร parte do noticiรกrio financeiro
A anaฬlise do noticiaฬrio financeiro teve como base quase 250 mil reportagens publicadas na editoria de negoฬcios do The Guardian ao longo de 20 anos e nos jornais Financial Times,The Economist e City AM em um periฬodo de seis anos.
As mulheres representaram menos de um quinto das fontes citadas. A pesquisadora salienta que a evolucฬงaฬo foi pequena entre 2014 e 2020.
โIsso estaฬ muito aqueฬm da igualdade, e as mulheres saฬo ainda menos representadas entre os empresaฬrios notaฬveis apresentados na imprensaโ, diz o estudo.
No The Guardian, dirigido por uma mulher, a representacฬงaฬo feminina medida em 2019, de 17%, estava muito aqueฬm da taxa de 32% das empresas signataฬrias do Women in Finance Charter, um compromisso assumido por empresas financeiras em 2016 para aumentar a inclusaฬo de geฬnero no setor.
Foco em iniciativas para melhorar a situaรงรฃo
A pesquisadora acredita que as redacฬงoฬes devem ir aleฬm de buscar fontes mulheres para as mateฬrias.
โNaฬo estamos falando apenas de garantir que mais mulheres sejam trazidas para discutir temas em evideฬncia, mas tambeฬm que mais foco seja dado a temas importantes para as mulheresโ, sugere.
Para ela, tambeฬm eฬ fundamental a diversidade no comando das redacฬงoฬes, para influenciar nas decisoฬes editoriais.
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Laura Jones aponta ainda caminhos para aumentar a representacฬงaฬo em cieฬncia. O primeiro eฬ que as instituicฬงoฬes removam barreiras como aquelas impostas a mulheres que se licenciam para ter filhos, o que aumentaria a quantidade delas como fontes e a chance de serem protagonistas das notiฬcias.
A pesquisadora tambeฬm enfatiza a importaฬncia de apoio quando mulheres cientistas que se relacionam com a miฬdia saฬo alvo de asseฬdio online.