Londres – Ao manter o primeiro lugar no ranking de soft power da consultoria britânica Brand Finance em 2023, perdido por pouco para a Alemanha em 2021 e retomado em 2022, os EUA demonstraram que continuam mestres na arte de influenciar o mundo.
Uma nova enquete realizada pelo instituto de pesquisas britânico YouGov em nove países (Grã-Bretanha, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Austrália e Singapura) publicada no dia 6 de abril mapeou a impressão das pessoas sobre a influência dos EUA e se achavam que era demasiada.
A influência principal é nas telas: em quase todos os países, os filmes americanos são os percebidos como de maior impacto local.
Entre 66% e 89% dos entrevistados consideram que o cinema americano tem grande ou média influência no país.
Os que percebem mais essa a influência são os australianos, enquanto os que vivem em Singapura são os menos incomodados.
Impressão parecida acontece quando os pesquisadores indagaram o público sobre a TV e a música.
Entre 61% e 85% disseram haver influência alta ou média no conteúdo exibido na telinha e nas canções mais populares.
Novamente a Austrália vem em primeiro. Mas em último estão os britânicos, que têm uma rica história no rock e artistas influentes no mundo pop contemporâneo, como Adele, Harry Styles e Ed Sheeran.
De forma geral, os australianos se demonstraram os mais insatisfeitos com o nível de influência americana no entretenimento.
A maioria diz que há muita influência dos EUA em filmes (65%), TV (59%) e música (53%).
No Reino Unido, 55% acham que a influência de Hollywood é significativa.
“Na verdade, filmes, TV e música figuraram quase sempre na pesquisa como as três principais opções em cada país para as áreas de muita influência dos EUA – talvez sem surpresa, já que também são as áreas em que as pessoas sentem o nível mais forte de influência”, explica Matthew Smith, chefe de jornalismo de dados do YouGov.
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Influência dos EUA no jornalismo
Smith salienta, no entanto, que o impacto cultural da América vai além do entretenimento, como revelado pela pesquisa.
Cerca de metade ou mais dos entrevistados em cada país examinado (de 47% a 65%) dizem que há uma quantidade substancial de influência dos EUA no jornalismo.
A França é o mercado onde essa percepção é mais acentuada, com 32% apontando “muita influência”. Nos outros países, as taxas variam de 12% a 22%.
Já o Reino Unido, onde a rede BBC é uma força importante na mídia, a impressão de influência americana é menor.
O país não tem uma versão local da rede americana CNN, como acontece no Brasil, e canais como a Sky News e a ITV fazem uma boa cobertura de assuntos globais e dos EUA em particular.
A influência americana na cultura política foi outro impacto examinado na pesquisa do YouGov. Os que acham que ela é moderada ou alta variam de 44% na Austrália a 31% no Reino Unido.
Já no Esporte, os entrevistados de Singapura são os que mais veem influência americana, com 49% deles apontando impacto alto ou moderado.
Do outro lado estão Reino Unido, com 28%, e Dinamarca, com 29%.
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A influência do inglês
A forma de falar dos americanos é mais uma área em que a influência é percebida. Dependendo do país, entre 50% e 67% dos entrevistados disseram que há impacto moderado a alto.
Embora o inglês seja originalmente da Inglaterra, a pesquisa mostra que a visão sobre a influência do inglês na língua local está mais relacionada aos EUA, como resultado da presença forte do país em entretenimento e na mídia.
A Suécia é o país onde essa percepção é mais forte, com 29%. Na outra ponta está a Espanha, com 15%.
Austrália e Reino Unido, que têm o inglês como primeira língua, aparecem em quinto e em oitavo lugar.
O estudo apurou que 20% dos italianos acham que há muita influência americana na língua e na maneira como as pessoas falam na Itália (embora nem toda a infiltração na língua inglesa tenha uma origem americana).
Os franceses (20%) são igualmente propensos a que haja muita influência americana na língua. Em todos os países pesquisados, os números variam entre 15% (Espanha) e 29% (Suécia).
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Itália e França estão entre os países cujos governos tentam reverter essa tendência.
Embora o francês ainda seja largamente adotado em áreas como a diplomacia e em organismos como o Comitê Olímpico Internacional, o inglês se consolidou como língua de negócios.
O presidente da França, Emmanuel Macron, estabeleceu a “reprojeção” do francês no mundo como um de seus objetivos. Este ano será inaugurada a Cité Internationale de la Langue Française, um centro cultural dedicado a promover o idioma.
Na Itália, o partido da primeira-ministra Giorgia Meloni, de inclinação nacionalista, apresentou no início do mês de abril um projeto de lei para punir com multas de até 100 mil euros o uso de estrangeirismos em documentos oficiais.
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As marcas e o Natal
Segundo a pesquisa do YouGov, pelo menos metade das pessoas em cada país (52% a 73%) também enxergam os EUA moldando as marcas que usam e compram.
Até mesmo o Natal é visto como pelo menos um pouco americanizado por muitos, embora os dinamarqueses sejam notavelmente os menos propensos a pensar que sua tradição natalina nacional é muito afetada (19%, contra 30% a 64% em outros lugares).
Isso poderia explicar por que uma outra pesquisa internacional revelou que os dinamarqueses são os mais propensos a ver o Natal como uma celebração “adequada”, em vez de comercializada.
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