Internado nesta quarta-feira (5) para o tratamento de complicações uma leucemia, o ex-primeiro-ministro da Itália e atual senador, Silvio Berlusconi, de 86 anos, sempre gostou de ter os holofotes voltados para ele.

Dono do Mediaset, um dos maiores conglomerados de mídia do país, Berlusconi foi fundador do partido Força Itália e assumiu o cargo de primeiro-ministro da Itália por três vezes.

Também presidiu o AC Milan por 31 anos e é proprietário do Monza desde 2018, time que tirou da terceira divisão e levou para a primeira, um fato inédito na história do clube.

Berlusconi faz sucesso no TikTok

Em 2022, o político mostrou que continua contemporâneo, criando um perfil no TikTok.

Com vídeos bem humorados no TikTok e alguns reproduzindo trechos de suas falas no Senado italiano, Berlusconi já tem 772 mil seguidores. Algumas postagens já passaram de 10 milhões de visualizações.

A ideia surgiu com a redução da idade mínima para votar em senadores de 25 para 18 anos. Isso representou um aumento de mais de 4 milhões de potenciais eleitores. 

E deu certo. Berlusconi acabou sendo eleito senador no ano passado.

Ele começou a carreira na área de construção civil, mas em 1973 criou a TeleMilano, inicialmente destinada a transmitir programação para propriedades de sua própria empresa.

Na década de 80, a conexão com o então primeiro-ministro italiano Betino Craxi e um tino comercial apurado levaram Berlusconi a aproveitar a oportunidade de quebrar o monopólio da TV estatal RAI, no momento em que crescia a demanda por mais canais.  

Ele o fez com maestria, investindo fortemente para atrair talentos da própria RAI a peso de ouro e contando com a simpatia do Estado para ganhar concessões.

Na TV italiana, os apresentadores de programas jornalísticos e de entretenimento são a pedra fundamental, e eles estavam nos canais da Mediaset. 

O grupo de mídia de Berlusconi é influente e respeitado, com canais de jornalismo, entretenimento e esportes em TVs abertas e fechadas, além de uma plataforma de streaming. 

Como efeito colateral, ele ajudou a própria mídia estatal, forçando a RAI  se modernizar para encarar um concorrente poderoso. 

Berlusconi estendeu o império de mídia para o jornalismo impresso e para o segmento editorial, com os títulos Il Giornalli e a editora Mondadori, exercendo influência sobre os livros publicados no país.

Há outros chamados “media tycoons” na história atual ou recente da mídia, como Rupert Murdoch e os brasileiros Roberto Marinho, já falecido, e Silvio Santos, ainda em atividade.

Mas nenhum deles combinou como Berlusconi o protagonismo político, a influência sobre a opinião pública com um jornalismo respeitado e a capacidade de gerar uma máquina de receita, virando um dos maiores bilionários do mundo. 

Gestões polêmicas à frente do governo italiano

Silvio Berlusconi ocupou o cargo de primeiro-ministro durante nove anos somando suas três passagens, sendo o que por mais tempo permaneceu no cargo no pós-guerra. É também o terceiro com mais tempo desde a unificação da Itália, atrás de Benito Mussolini e Giovanni Giolitti.

Durante essas gestões, ele acumulou polêmicas, como acusações de assédio sexual, corrupção e envolvimento com a máfia.

Desde 2010, Berlusconi foi investigado pelo Caso Rubygate, por ter remunerado os serviços sexuais de uma menor de idade, a marroquina Karima El Mahrug, conhecida como Ruby, e por ter cometido abuso de poder ao obter a liberação da jovem após sua detenção por furto.

Em 2011, protagonizou o escândalo chamado “bunga bunga”, envolvendo festas com menores de idade em sua mansão. Dois anos depois foi condenado no caso Ruby a sete anos de cadeia e proibido de exercer qualquer cargo público.

Mas, em 2015, o Supremo Tribunal italiano concluiu que Berlusconi não tinha como saber que Ruby não tinha 18 anos e o inocentou. A sentença colocou Berlusconi de volta à vida política.

Seu partido tem aliança liderada pelo grupo de extrema-direita Fratelli d’Italia, que propaga o lema “Deus, Pátria e Família”.

A união elegeu Giorgia Meloni (ex-Ministra da Juventude de Berlusconi) como a primeira mulher a liderar o governo italiano.

Vendo suas indicações ao governo rejeitadas pela nova comandante, Berlusconi buscou em sua amizade com o presidente russo Vladimir Putin uma arma contra Meloni, defensora da Ucrânia na Otan. 

Berlusconi definiu Putin como “um homem da paz” a seus colegas de partido, deixando claro o seu desacordo com a premiê.

Berlusconi tem histórico de problemas de saúde

Em setembro de 2020 contraiu Covid e a partir de então foi internado várias vezes até meados de 2021 por diversos motivos, incluindo problemas cardíacos e sequelas da infecção.

Em janeiro de 2022, ameaçou concorrer à presidência da Itália, mas retirou a candidatura dois dias antes do pleito, que acabou reelegendo o presidente Sérgio Matarella.

Berlusconi foi levado às pressas para o hospital nesta quarta (5) com dificuldades para respirar e baixos níveis de oxigênio no sangue.

Segundo o jornal Corriere della Sera, o quadro era de estresse para os sistemas cardiovascular e respiratório. A mídia italiana mostrou imagens dos filhos chegando ao hospital nesta quinta-feira.