Quase 35 anos depois do assassinato de Hugo Bustíos, jornalista da revista semanal Caretas, o político peruano Daniel Urresti,  que já foi ministro do interior e candidato a presidente, foi condenado a 12 anos de prisão como um dos autores do crime.

Urresti foi sentenciado por sua participação na emboscada militar na qual o jornalista foi baleado em 24 de novembro de 1988 em Huanta, Ayacucho, nos Andes peruanos. 

Ele era oficial da inteligência militar do exército na época do crime, que ocorreu no período mais tenso do conflito entre forças de segurança e o grupo Sendero Luminoso. 

Inicialmente o ataque que resultou no assassinato do jornalista foi atribuído aos rebeldes.

Depois ficou comprovado que Bustios, que cobria os conflitos denunciando abusos de direitos humanos praticados pelos dois lados, foi morto em uma operação com agentes à paisana. 

Ele estava acompanhado de outro jornalista, Eduardo Rojas, viajando de moto em direção a um povoado para investigar um assassinato atribuído ao Sendero Luminoso. 

Os dois foram alvo de uma emboscada e baleados, mas Rojas escapou com vida.

Ex-ministro condenado nega participação no ataque

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas, testemunhas relataram que Hugo Bustíos foi alvo deliberado do ataque.

O ex-ministro condenado fazia parte da operação, mas sempre negou participação no crime.

Ele chegou a ser absolvido, mas em 2019 uma decisão da Suprema Corte anulou a decisão.

“Esta sentença abre novas oportunidades na luta contra a impunidade nos crimes contra a vida dos jornalistas […]”, disse a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ).

No entanto, a IFJ lamentou o tempo decorrido entre o crime e a punição. 

“Todos os processos judiciais abertos sobre casos contra a vida de profissionais da imprensa devem resolvidos rapidamente e não demorar 35 anos para chegar a condenações”, afirmou a nota da IFJ. 

Campanha por condenação dos responsáveis pelo ataque

A Associação Nacional de Jornalistas do Peru (ANP) celebrou a sentença:

“É um importante passo em direção à justiça para Hugo Bustíos e sua família, bem como para todos os jornalistas que foram vítimas da violência e da impunidade no exercício do seu trabalho”. 

Durante esses quase 35 anos, a ANP  acompanhou as ações da família Bustíos e manteve viva a memória do jornalista. 

Sharmelí, filha de Hugo, participou de um painel sobre impunidade no qual apresentou o caso de seu pai a centenas de jornalistas que participaram do último Congresso Mundial da IFJ, realizado em 2022 em Omã.

Ela empreendeu uma luta incansável para não deixar a morte do pai impune.

Depois da condenação do ex-ministro, ela postou uma foto de um pequeno altar em homenagem ao pai e à mãe, e escreveu: 

“Acabo de chegar em cassa depois de uma maratona que foi a leitura da sentença contra Daniel Urresti A primeira coisa que fiz foi acender uma vela para os meus amados pais e digo: a justiça foi feita 34 anos depois. O caminho foi duro e doloroso, mas hoje só quero agradecer.”

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Advogados do ex-ministro condenado Daniel Urresti informaram que vão recorrer da sentença.