Londres – Um novo serviço lançado nos EUA promete dar dor de cabeça para corporações e marcas por atitudes e campanhas de marketing classificadas como “politicamente corretas”, incentivando boicotes e perseguições que antes eram voltadas apenas para companhias que não se comportavam bem diante da sociedade.
O Woke Alert, criado pela ONG Consumers Research, está enviando mensagens aos inscritos “denunciando” corporações que apoiem iniciativas classificadas como de extrema-esquerda, como dar voz a pessoas trans.
Woke (acordado, na tradução literal) é a palavra usada para definir de forma pejorativa o comportamento politicamente correto, visto por uma parte da sociedade como exagerado e desnecessário ou que atenta contra valores conservadores.
A proposta é contestar e boicotar corporações que estejam “colocando ativistas progressistas e suas agendas perigosas antes dos interesses dos consumidores”, como diz o slogan.
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ONG vai julgar o que é ‘politicamente correto’
Criada em 1929, a Consumer Research se apresenta como organização educacional independente cuja missão é “aumentar o conhecimento e a compreensão de questões, políticas, produtos e serviços de interesse dos consumidores e promover a liberdade de agir com base nesse conhecimento e compreensão.”
O lançamento do Woke Alert pegou carona na crise da cerveja Bud Light, que contratou em abril uma pessoa trans, Dylan Mulvaney, com 1,8 milhão de seguidores no Instagram e 10 milhões no TikTok, para uma campanha que se revelou desastrosa para a imagem e para os negócios.
Mulvaney postou um vídeo em que mostra uma lata de Bud Light com sua imagem estampada e diz ter recebido “o melhor presente de todos”.
A ação foi feita para promover a Bud durante o torneio de basquete conhecido como March Madness – só que a loucura da história acabou sendo a onda negativa contra a marca.
Postagens de pessoas jogando embalagens da cerveja no lixo ou amassando-as se multiplicaram nas redes. A holding Anheuser-Busch perdeu US$ 5 bilhões no valor de marca após o episódio.
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Os danos da campanha da Bud irão respingar sobre outras empresas, que a partir do lançamento do Woke Alert ficarão vulneráveis a boicotes e campanhas em mídia social.
Além do alerta sobre a Bud, já saiu também um contra o whisky Jack Daniels, por uma campanha publicitária de 2021 estrelada por drag queens.
O texto desse alerta menciona ainda a Nike como uma das marcas que “tentam agradar os ativistas “woke” diante do público americano cada vez mais confuso sobre gênero. Mas por enquanto ela não foi agraciada com um alerta próprio.
A Bud sentiu o golpe e tentoua reverter os prejuízos à sua imagem e aos seus negócios com uma nova campanha, fundamentada em imagens icônicas para os americanos conservadores: um cavalo que percorre cenários típicos da América.
O texto fala da cerveja que nasceu no país e arremata com um nacionalista “esta é a história do sonho americano”.
Inspiração para outras iniciativas ‘anti-woke’
A porteira de um sistema organizado para canalizar insatisfações com o politicamente correto e punir as marcas que adotam práticas ou fazem campanhas que não agradam aos mais conservadores foi aberta pela Consumer Reach, e pode acabar servindo de inspiração para outras iniciativas.
Baseada em Washington, a ONG é presidida por Will Hild, advogado com experiência em políticas públicas. Segundo o site Axios, o Woke Alert está sendo lançada com investimentos “centenas de milhões de dólares”, sem origem divulgada.
Ele disse ao Axios acreditar que as empresas devem se concentrar em seus clientes, “e não em políticos “woke” e ativistas progressistas”.
Além de fazer barulho, a Consumer Reach atua em nível legislativo, tentando influenciar parlamentares para evitar leis vistas como exemplos do pensamento politicamente correto.
O site tem um “rastreador de legislação ESG”, apontando o dedo para estados que aprovaram leis sobre meio ambiente, diversidade e governança.
O movimento pode acabar influenciando corporações a retrocederem em projetos ou campanhas para se protegerem de ataques que coloquem em risco seus lucros.
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