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Unicef: desinformação contribuiu para queda no número de crianças vacinadas no Brasil

Brasil tem queda no número de crianças vacinadas e na confiança em vacinas e ONU aponta desinformação como motivo

Foto: DJ Paine | Unsplash

Na semana em que a Organização Mundial de Saúde (ONU) promoveu sua campanha mundial de imunização e a aplicação da vacina bivalente foi ampliada, uma novo estudo feito pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) aponta a desinformação e polarização política como responsáveis pela queda de confiança em vacinas e pela redução de crianças vacinadas no mundo.

No Brasil, quase 26% das crianças não receberam nenhuma dose de vacina em 2021, segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2023: Vacinação Para Cada Criança.

A confiança do brasileiro em vacinas caiu 10%, ficando em 89%. Embora o país ainda esteja acima da média internacional, que é de 80%, já chegou a ficar muito próximo dos 100% devido ao sucesso da campanha contra a poliomielite e de outras ações de vacinação em massa 

Desinformação e vacina

O relatório do Unicef mostra que em um universo de 55 países estudados, apenas três não apresentaram queda nas taxas de vacinação infantil depois da pandemia. 

Além do Brasil, a ONU destaca o caso de Angola, onde 43% das crianças não receberam vacinas. No meio rural, onde o acesso à informação e a recursos básicos de saúde são menores, 50% das crianças nunca foram imunizadas.

Catherine Russel, diretora-executiva do Unicef, observa que o medo da vacina não é o principal motivo para a queda na taxa de crianças vacinadas em nível global, diante de outros fatores como miséria e falta de investimentos de governos em imunização infantil.

Mas aponta que a desconfiança não pode ser ignorada. 

Russell lembrou que durante a crise da covid-19, as vacinas foram desenvolvidas rapidamente e salvaram muitas vidas.

No entanto, ela ressalta que o medo e a desinformação sobre todos os tipos de imunização passaram a “circular tão amplamente quanto o próprio vírus”.

Juliano Diniz, coordenador de pesquisas e análises políticas do Unicef, associa os índices verificados no Brasil à proliferação da desinformação, que se acentuou durante a pandemia sobretudo nas redes sociais. 

Protestos contra as vacinas ganharam as ruas em várias cidades do mundo, com ativistas contrários à imunização procurando sensibilizar mães para os supostos riscos e fazendo com que a percepção negativa se estendesse para qualquer tipo de vacina. 

As famílias e a comunidade precisam acreditar na importância da vacinação infantil, e nós precisamos combater a desinformação que prolifera principalmente nos meios digitais.

Segundo Diniz, boa parte das crianças que não recebem vacinas está no meio rural, em áreas urbanas de maior pobreza e em áreas de conflito ou situação humanitária.

O especialista afirma que o reflexo nas taxas de vacinação infantil aponta para a necessidade de acompanhar as percepções do público para compreender se foi uma situação pontual ou vai se firmar como uma tendência. 

O estudo descobriu também que depois da pandemia, pessoas abaixo de 35 anos e mulheres são mais propensas a desconfiar das vacinas do que aquelas acima de 65 anos, o que pode estar ligado a uma maior exposição a informações nem sempre confiáveis disseminadas pelas redes sociais.

A desinformação e a conspiração tornaram-se um desafio crescente para a percepção pública das vacinas.

Pais e cuidadores cientes de informações factuais e baseadas em evidências relevantes para suas dúvidas e preocupações têm maior probabilidade de confiar nas vacinas.

Revolta após vídeo com desinformação sobre vacinas 

O documento da Unicef cita um exemplo ocorrido no Paquistão em 2019 para demonstrar o poder das mídias sociais para disseminar desinformação sobre vacinas. 

Um vídeo encenado afirmava que uma vacina contra a poliomielite havia causado a hospitalização de menores, exibindo imagens falsas de crianças deitadas imóveis em camas.

O vídeo falso atraiu 24 mil interações no Twitter em 24 horas, de acordo com a checadora de fatos First Draft.

Em Peshawar, segundo o Unicef, 45 mil crianças foram levadas ao hospital por pais amedrontados na semana em que o vídeo chegou às redes sociais.

Uma multidão incendiou uma clínica de saúde em Peshawar, matando dois policiais e um profissional de saúde. Cinco dias depois que a desinformação circulou pela primeira vez, as autoridades locais suspenderam uma campanha antipólio.

Vacinação no Brasil e no México 

De acordo com a Opas, a região das Américas é a segunda do mundo com a pior cobertura vacinal. Cerca de 2,7 milhões de crianças não receberam todas as doses da vacina em 2021, ficando sem proteção total contra difteria, tétano e coqueluche.

Brasil e México respondem por mais da metade das crianças sem nenhuma vacina na região.

Dados do Ministério da Saúde mostram que o percentual de crianças vacinadas contra sarampo, difteria, meningite e poliomielite vem caindo desde 2016. No caso da difteria, a taxa caiu de 90% em 2013 para 64% em 2022. 

“A queda da cobertura é um problema multifatorial, mas a desinformação tem uma influência considerável”, explica o infectologista Éder Gatti, diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, responsável pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

Em maio de 2021, pouco mais de seis meses depois da aprovação das primeiras vacinas contra o coronavírus, uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo na Universidade de Oxford em oito países constatou que 40% dos usuários de WhatsApp no Brasil tinham recebido fake news sobre a Covid-19 pelo serviço de mensagens.

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