Londres – O mistério sobre os rumos profissionais da figura mais polêmica da mídia americana foi desfeito nesta terça-feira: demitido da Fox News no fim de abril, o jornalista Tucker Carlson anunciou em um vídeo postado no Twitter que passará a apresentar um programa próprio na plataforma de Elon Musk, esnobando convites que segundo a imprensa americana teria recebido de outras redes. 

Carlson, de 53 anos,  atacou a credibilidade da imprensa tradicional ao justificar a escolha do Twitter, que na sua opinião seria “a última grande plataforma que resta no mundo que permite a liberdade de expressão, pré-requisito fundamental para a democracia”.

O jornalista não deu detalhes sobre como será o programa, mas antecipou que vai repetir o modelo do que apresentava diariamente no horário nobre da Fox, com entrevistas e comentários sobre temas políticos e sociais dos EUA e do mundo, como a guerra da Ucrânia. 

A demissão de Tucker Carlson foi surpreendente, pois era um dos esteios da audiência da Fox e da identificação da emissora com o público conservador e de  extrema-direita.

O programa de Carlson tinha 3 milhões de telespectadores por noite. A audiência despencou depois de sua saída, com a apresentação a cargo de outros âncoras. 

A demissão ocorreu dias depois de a Fox ter feito um acordo de US$ 787,5 milhões para encerrar um processo movido pela empresa de urnas eletrônicas Dominion. A emissora era processada por difamação devido às reportagens acusando a Dominion de ter manipulado o resultado das eleições de 2020 para prejudicar Donald Trump. 

Antes do anúncio de Carlson, havia rumores de que ele  poderia iniciar uma carreira política, criar um podcast ou até mesmo uma rede de TV própria, mas ele optou pelo caminho mais barato e simples, tirando partido dos 7 milhões de seguidores que mantém no Twitter. 

No Twitter, Tucker Carlson x imprensa  

No vídeo publicado no Twitter, em que aparece sem terno e gravata como seu padrão na Fox,  o texto é curto: “we’re back” (estamos de volta).  

O discurso é agressivo e polarizador, com um ataque frontal à credibilidade da imprensa tradicional, inferindo-se críticas à própria Fox, sua ex-empregadora.

“Em breve, traremos para o Twitter uma nova versão do programa que temos feito nos últimos seis anos e meio”, disse Carlson no vídeo, acrescentando: 

 “A liberdade de expressão é o principal direito que você tem. Sem ele, você não tem outros”. 

Ele também afirmou que as pessoas consomem notícias que são “uma mentira do tipo mais furtivo e insidioso”, e que os fatos são tirados de contexto e manipulados. 

O apresentador, que atuou em grandes empresas jornalísticas como a Fox e a CNN, insinuou que depois de trabalhar durante 30 anos para a grande mídia, teria descoberto que o ato de falar a verdade ou de desrespeitar os limites impostos pela direção pode levar à demissão do profissional:

“A regra do que você pode dizer define tudo”. 

Ele criticou as notícias encontradas no próprio Twitter, por serem postadas pela mídia tradicional: 

“Na maioria das vezes, as notícias que você vê analisadas no Twitter vêm de organizações de mídia que são veículos de propaganda mal disfarçados.”

A popularidade de Carlson pode ser medida pela audiência da postagem do anúncio de sua volta, que teve mais de 75 milhões de visualizações. 

Musk reage a Tucker Carlson no Twitter

O dono do Twitter, Elon Musk, comentou a escolha de Tucker Carlson em uma postagem. Ele afirmou que não houve acordo para dar ao jornalista qualquer condição especial na plataforma, e que espera continuar atraindo usuários de todo o espectro político. 

“Nesta plataforma, ao contrário da via de mão única da TV, as pessoas podem interagir, criticar e refutar tudo o que é dito.

Também quero deixar claro que não assinamos nenhum tipo de acordo. Tucker está sujeito às mesmas regras e recompensas de todos os criadores de conteúdo.”

Batalha jurídica com a Fox 

Para levar seu plano adiante, Carlson terá que enfrentar uma batalha jurídica ou fazer um acordo com a Fox News, com quem tinha um contrato de US$ 20 milhões por ano, segundo o Wall Street Journal. 

Em caso de saída, o contrato teria uma cláusula de não competição até 2025 – ou seja, ele não poderia apresentar programas fora da Fox até o fim desse período.

O site americano Axios informou que os advogados de Carlson enviaram uma carta à Fox acusando-a de fraude e quebra de contrato, o que tornaria a cláusula de não competição inválida. 

A Fox News não comentou o motivo da demissão de CarlsonVários veículos relataram que comentários abusivos sobre executivos contribuíram para a decisão, o que pode ser o argumento da empresa perante tribunais. 

Vídeos vazados mostraram Carlson fazendo comentários misóginos, além de dizer que o canal de streaming Fox Nation “é uma m*”; e chamar um advogado da  Dominion de “fdp nojento”.

Há também especulações de que para resolver o imbroglio, Carlson poderia abrir mão da multa rescisória a que teria direito. Em troca, ficaria livre para seguir seu rumo e continuar em evidência, sem perder a conexão atual com seus seguidores.