Londres – Jornalistas e meios de comunicação foram alvos de ataques violentos durante os protestos contra a prisão do ex-primeiro-ministro Imran Khan, que mantêm o Paquistão em uma situação de caos desde terça-feira (9).
O caso mais grave foi o incêndio ocorrido na Rádio Paquistão. De controle estatal, ela teve seus estúdios destruídos por cerca de 200 manifestantes em Peshawar, capital da província de Khyber-Pakhtunkhwa.
Durante os protestos pelas diversas cidades do país, repórteres foram agredidos, os carros de reportagem foram danificados e vários jornalistas foram presos pela polícia acusados de “incitar a violência”. A internet foi bloqueada, impedindo o acesso às notícias dos veículos digitais.
Khan é libertado, mas caos segue no Paquistão
Os protestos começaram um dia após a prisão de Imran Khan, em 9 de maio. Ele foi primeiro-ministro do Paquistão de 2018 a 2022.
A Suprema Corte anulou a prisão nesta quinta-feira (11), mas o caos no Paquistão continua.
Os partidários de seu partido, o PTI – Pakistan Tehreek-e-Insaf (“Movimento Paquistanês pela Justiça”), foram às ruas nas maiores cidades do país e atacaram os símbolos da autoridade civil e militar, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras.
As autoridades reagiram restringindo o acesso em todo o país a plataformas de mídia social, incluindo o Twitter e o Facebook. Além disso, determinaram períodos de desligamento total da internet em Islamabad e outras cidades, como relatou a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ).
Em um comunicado nesta sexta-feira, a Rádio Paquistão, a mais antiga emissora do país, descreveu o ataque sofrido.
Os manifestantes inicialmente quebraram o portão, saquearam a recepção e seguiram para os estúdios, destruindo os equipamentos.
Duas horas mais tarde os agressores retornaram para uma nova sequência de vandalismo e incendiaram o prédio.
O fogo atingiu também veículos e motos estacionadas no pátio da emissora, como mostram imagens divulgadas pela rede.
A Repórteres Sem Fronteiras relatou que durante os protestos os carros de reportagem para transmissão via satélite da Dawn News TV, Aaj News, Khyber News e Express News foram atacados com pedras e bastões.
O caminhão da Dawn News TV ficou bastante danificado e um de seus ocupantes, o jornalista Arif Hayat, foi ferido por estilhaços de vidro. O repórter do Express News, Vishal Khan, foi um dos atacados pelos manifestantes.
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Polícia do Paquistão prende jornalistas
A polícia prendeu pelo menos dois jornalistas de meios de comunicação considerados próximos ao partido PTI de Imran Khan. O âncora da TV Bol News, Imran Riaz, foi preso no aeroporto de Sialkot, no leste do Paquistão, por “incitar a violência”.
Quase ao mesmo tempo, o âncora da Samaa TV, Aftab Iqbal, foi preso em sua casa em Lahore, segundo relatos que foram confirmados algumas horas depois por sua filha pelo Twitter.
Embora a Suprema Corte tenha decidido no final da tarde que a prisão de Imran Khan era “inválida”, a medida não foi capaz de diminuir a tensão nas ruas do Paquistão.
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, o caos segue no país, com soldados posicionados nas principais vias da capital, Islamabad, e em várias outras grandes cidades, bloqueando o acesso dos jornalistas.
Liberdade de imprensa no Paquistão
O Paquistão ocupa o 150º lugar no ranking Global Press Freedom Index, que mede a liberdade de imprensa em 180 países.
O país é apontado pela Repórteres Sem Fronteiras, responsável pela elaboração do índice, como um dos mais perigosos do mundo para jornalistas, com três a quatro assassinatos por ano, que ficam completamente impunes:
“Qualquer jornalista que ultrapassar os limites ditados pelo Inter-Services Public Relations (ISPR) – uma ramificação da agência de inteligência – está sujeito a ser alvo de vigilância, sequestros e detenções nas prisões do estado.”
O país tem leis severas para reprimir a liberdade de imprensa e de expressão, segundo a RSF:
“A Autoridade Reguladora de Mídia Eletrônica do Paquistão (PEMRA), criada em 2002, preocupa-se menos com a regulamentação do setor de mídia e mais com o conteúdo veiculado”.
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