O novo site de notícias The Messenger estreou com o pé esquerdo nesta semana, entre frustrações e críticas de outros veículos de mídia e de analistas do setor de jornalismo.

O veículo foi lançado nesta segunda-feira (15), ao mesmo tempo em que estrelas da mídia digital como BuzzFeed  e Vice Media enfrentam dificuldades, prometendo um jornalismo objetivo e que não aposta em conteúdos “pensados para dividir e polarizar” seu público.

No entanto, os primeiros dias do portal foram marcados por problemas de indexação, conteúdo e críticas ao modelo de conteúdo.

O que é o novo site de notícias 

Anunciado em março deste ano, o The Messenger é um site de notícias criado por Jimmy Finkelstein, magnata da mídia que fundou  e depois vendeu sites como o The Hollywood Reporter e o The Hill.

O novo portal noticioso iniciou com um financiamento de US$ 50 milhões e mira em um número nada modesto de audiência: 100 milhões de leitores mensais até 2024.

Para alcançar os resultados, o veículo inicia os trabalhos com 175 jornalistas baseados em Nova York, Los Angeles e Washington.

Em março deste ano, Finkelstein informou ao The New York Times que queria criar um veículo respeitado e consumido por diversas esferas de público — algo similar à Vanity Fair ou o programa televisivo dos EUA “60 Minutes” no passado.

No texto de inauguração do site, o editor-chefe Dan Wakeford informou que verticais como “Negócios, Entretenimento, Tecnologia, Saúde e Bem-estar, Viagem, Gastronomia e Estilo” entrariam no ar em um futuro próximo.

O investidor acrescentou que espera que o The Messenger contrate cerca de 550 jornalistas quando estiver em pleno funcionamento.

Richard Beckman, ex-presidente do The Hill e parceiro de Finkelstein, afirmou que estes números devem fazer o The Messenger gerar “mais de US$100 milhões” em lucro no próximo ano.

“O lucro será um misto entre publicitário direto, conteúdo programático e patrocinado entre múltiplas plataformas”, explicou um porta-voz ao The New York Post.

Quais as críticas ao The Messenger?

Se os números citados acima fizeram você erguer a sobrancelha, é porque eles são altos demais para o momento do atual jornalismo.

Para piorar, críticos apontaram que o The Messenger teve dificuldades a mais na largada desta corrida.

Metas irrealistas para site de notícias

Segundo o New York Post, as metas de Finkelstein para o The Messenger estão longe da realidade, uma vez que veículos maiores e mais estáveis se debatem para atingir números mais modestos de audiência e lucro.

Redes noticiosas mais consolidadas, como Conde Nast, Vox Media e o próprio New York Post atingiram, em média, 83 milhões de visitantes mensais em fevereiro deste ano, segundo a Comscore.

Os executivos do novo site de notícias querem ultrapassar este número em um ano.

“O objetivo de atingir isso tudo em um ano não é apenas difícil — é ‘delirante'”, afirmou ao The Post um executivo de mídia em contato com os dois investidores.

Cadê o público?

Para piorar, o próprio The Messenger não aparece direito nos sites de busca nos Estados Unidos.

Ao digitar o termo em uma busca no estado de Iowa, por exemplo, o Google retornou outro veículo noticioso local de mesmo nome — algo que pode dificultar os planos de audiência do novo site.

No Brasil, a própria busca tende a esbarrar em dois homônimos não relacionados: um jogo e o aplicativo de mensagens da Meta (ex-Facebook).

Questionado, um porta-voz respondeu ao The Post:

“Assim como qualquer outra plataforma de mídia, leva um certo tempo para indexar no Google, algo que vai acontecer em breve”.

Apesar desse começo tortuoso, o representante informou, sem citar números, que bateram a meta de audiência “mais cedo que o esperado” e “de maneira orgânica”.

Mais do mesmo

No anúncio inicial, Dan Wakeford declarou que o site de notícias The Messenger tinha a missão de entregar um jornalismo “imparcial e objetivo”, para além das bolhas de opinião.

“Nossos talentosos jornalistas estão dedicados a desmistificar a carnificina de desinformação e a entregar notícias objetivas e imparciais.”

O portal de notícias estreou com uma entrevista exclusiva com Donald Trump, ex-presidente dos EUA, dias após perder um processo judicial por difamação e abuso sexual contra a jornalista e colunista E. Jean Carroll nos tribunais.

No entanto, críticos atacaram o material por desviar da questão — dando palanque para Trump criticar seu possível rival à candidatura presidencial de 2024, Ron DeSantis.

Segundo o jornalista e fundador do NiemanLab, Joshua Benton, a postura do The Messenger é, no mínimo, contraditória.

“O marketing do novo veículo “critica a falta de objetividade” de outros sites de notícia, mas não faz nada diferente.

“O mix de conteúdo (e às vezes o próprio conteúdo) é muito ao estilo tabloide britânico”, afirma.

Polêmicas com os financiadores do The Messenger

Tanto Finkelstein quanto Beckman são conhecidos por polêmicas. Os financiadores do site de notícias The Messenger são próximos do próprio Donald Trump, e de outros nomes do partido republicano dos EUA, como Rudi Giuilani.

“Esse é o cara que diz que só está interessado em ‘jornalismo equilibrado em uma era de tendencia, subjetividade e desinformação, com uma ordem para entregar as notícias — e não moldá-las.”, critica Benton.

Em 1999, Beckman ficou conhecido por tentar fazer duas funcionárias da revista Vogue se beijarem à força em público. O movimento levou as duas a bater a cabeça, com uma delas quebrando o nariz.

O executivo chamou a atitude de “brincadeira infeliz”, e foi levado à corte judicial — sendo obrigado a pagar valores próximos de US$ 10 milhões.