Londres – A suposta perseguição ‘quase catastrófica’ do príncipe Harry e de sua mulher Meghan Markle por fotógrafos de celebridades (paparazzi) em Nova York na terça-feira virou uma nova crise de imagem para o casal, com sugestões de exagero na versão divulgada pela assessoria de imprensa dos Sussex e a reação bem americana da agência de fotografia envolvida no caso.
Ao ser instado pelos advogados de Harry e Meghan a entregar fotos e imagens capturadas na perseguição, o advogado da Backgrid respondeu:
“Na América, como tenho certeza de que vocês sabem, a propriedade pertence ao seu dono; terceiros não podem simplesmente exigir que seja dada a eles, como talvez os reis possam fazer”, disse ele na carta.
Enviada no dia seguinte ao incidente, a correspondência assinada pelos advogados de Harry e Meghan “exigia” que a Backgrid fornecesse “imediatamente” cópias de todas as fotos, vídeos e/ou filmes feitos pelos fotógrafos freelancers depois que o casal deixou o evento e nas horas seguintes”.
O advogado da Backgrid fez mais ironias sobre o regime monárquico versus o republicano dos países:
“Talvez você devesse conversar com seu cliente e avisá-lo de que suas regras inglesas de prerrogativa real de exigir que os cidadãos entreguem suas propriedades à Coroa foram rejeitadas por este país há muito tempo.
E finaliza: “Estamos ao lado dos fundadores da nossa pátria”, referindo-se aos republicanos que declararam independência da Coroa britânica em 1776.
Harry e Meghan x imprensa
O novo imbroglio envolvendo Harry e Meghan e a imprensa acontece em um momento propício para o casal se colocar como vítima da mídia sensacionalista.
O julgamento do processo movido pelo príncipe contra o grupo que edita o jornal Daily Mail começou na semana passada e deve se estender por seis semanas.
Harry, que em junho se tornará o primeiro membro da família real a depor em um tribunal desde o século 19, pede reparação por ter sido alvo de espionagem por detetives e escutas telefônicas ilegais, junto com outras celebridades.
Ele tem outros dois processos em curso, contra outros grupos que editam tabloides.
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Uma das razões alegadas para a mudança do casal para os EUA foi a perseguição implacável dos tabloides britânicos. Mas o episódio desta terça-feira mostra que não importa o regime de governo do país, republicano ou monarquista, celebridades são alvo da mídia em qualquer lugar.
E nesse caso, a repercussão não está sendo favorável, embora as reportagens mencionem com certa simpatia o trauma de Harry devido à morte da mãe, a princesa Diana, vítima de um acidente automobilístico em Paris em 1997 quando era perseguida por paparazzi.
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Como foi a perseguição pelos paparazzi
Harry e Meghan estavam saindo de uma cerimônia de premiação do Women of Vision Award no Ziegfield Ballroom, junto com a mãe dela, Doria Ragland. A chegada e a permanência deles no local foi pública, documentada por fotógrafos, com Meghan brilhando em um vestido dourado.
O problema foi na saída, pois aparentemente eles fariam uma visita privada e não queriam expor o endereço, daí terem usado a porta dos fundos para deixar o prédio.
As versões sobre a história são confusas. A assessora de imprensa de Harry e Meghan, Ashley Hansen, disse à mídia que o casal estava “incrivelmente assustado e abalado” com a experiência e que ela nunca os vira tão vulneráveis.
Ela disse:
“Essa perseguição implacável, que durou mais de duas horas, resultou em várias quase colisões envolvendo outros motoristas ns ruas, pedestres e dois policiais da polícia de Nova York.
“Embora ser uma figura pública traga um nível de interesse do público, isso nunca deve custar a segurança de ninguém.
“A divulgação dessas imagens, dadas as formas como foram obtidas, incentiva uma prática altamente intrusiva que é perigosa para todos os envolvidos”.
A segurança alegou que pelo menos 15 sinais de trânsito teriam sido foram ignorados por paparazzi dirigindo “agressivamente e mal” em carros e motos.
No entanto, a Backgrid emitiu um comunicado negando que os fotógrafos freelance (três de carro e um de bicicleta) tivessem feito algo errado e insistindo que eles “não tinham intenção de causar qualquer sofrimento ou dano”.
Pelo contrário: a Backgrid disse que os fotógrafos presentes relataram que parte da escolta de segurança de Harry “estava dirigindo de uma maneira que poderia ser considerada imprudente”. Mas a Backgrid também disse que leva as preocupações do casal a sério e investigará o incidente.
A polícia de Nova York admitiu que houve a perseguição. Mas dois policiais minimizaram o enredo, descrevendo-o como “um pouco caótico” em vez de “quase catastrófico”.
Para piorar, um taxista chamado à delegacia para onde Harry e Meghan foram depois que a perseguição começou – e que acabou retornando com o casal para o mesmo lugar depois que fotógrafos foram vistos seguindo o carro deu várias entrevistas rindo da situação.
Sukhcharn Singh disse que relato deles era “exagerado” e que nunca se sentiu em perigo.
“Não foi como uma perseguição de carro em um filme. Eles estavam quietos e pareciam assustados, mas é Nova York – é seguro”, disse ele ao Washington Post.
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As regras para fotos de paparazzi nos EUA
Segundo a agência Reuters, em Nova York não há leis proibindo fotógrafos de documentaram pessoas em locais públicos, como acontece na Califórnia. Uma lei de 2013 proíbe captura de imagens de criança de maneira ofensiva no estado onde vivem as estrelas de Hollywood. Outra pune direção perigosa para busca de imagens.
Como nada disso existe em Nova York, a recusa da Backgrid em entregar as imagens estaria amparada pela lei local. Mas o assunto está longe de terminar, com repercussões sobre o suposto exagero, a coerência de não querer ser fotografado estando em um local público e a conduta dos fotógrafos.
A Associação de Fotógrafos de Imprensa de Nova York emitiu um comunicado na quarta-feira condenando o comportamento relatado como uma violação do princípio básico de que os fotógrafos de notícias devem agir como “documentaristas e observadores”.
Enquanto isso, do outro lado do oceano, a família real segue ignorando as confusões de Harry e Meghan com a imprensa ou qualquer outra novidade sobre o casal.
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