Londres – A Rússia ignorou as pressões internacionais para libertar o jornalista americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, preso em março, estendendo a prisão preventiva por mais três meses depois de uma audiência realizada nesta terça-feira (23).

Cidadão americano filho de imigrantes da antiga União Soviética, o jornalista de 31 anos foi preso pelo serviço de segurança FSB em 29 de março em Yekaterinburg, na região dos Urais, acusado de coletar segredos sobre o complexo industrial militar da Rússia.

Inicialmente ele ficaria preso até 29 de maio, mas a pedido do FSB, o Tribunal Distrital de Lefortovo, em Moscou, estendeu a detenção até 30 de agosto, conforme informações de agências de notícias russas. 

Rússia restringe acesso ao jornalista americano preso

Segundo o FSB, Gershkovich estaria usando sua credencial de jornalista para  “espionagem no interesse do governo americano”, acusação negada por ele, pelo Wall Street Journal e pelo governo dos EUA. 

É o primeiro jornalista preso na Rússia por espionagem desde a Guerra Fria. 

A audiência desta terça-feira não foi anunciada com antecedência. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matt Miller, disse a jornalistas que que representantes da embaixada dos EUA em Moscou compareceram à sessão, mas não falaram com Evan Gershkovich.

A agência de notícias russa Interfax citou um oficial do tribunal dizendo que os pais de Gershkovich estavam em Moscou e foram admitidos no prédio onde ocorreu a sessão, mas não puderam acompanhá-la nem falar com o filho. 

A informação também foi confirmada por uma produtora da CNN via Twitter. 

O Wall Street divulgou um comunicado sobre a audiência: 

“Hoje, nosso colega e respeitável jornalista Evan Gershkovich compareceu a uma audiência pré-julgamento em um tribunal de Moscou.

Embora não esperássemos mudanças na detenção injusta de Evan, estamos profundamente desapontados. As acusações são comprovadamente falsas e continuamos a exigir sua libertação imediata”.

Se condenado, Evan Gershkovich pode pegar até 20 anos de prisão. 

Os Estados Unidos também renovaram os pedidos para que a Rússia liberte Gershkovich após a audiência de terça-feira.

Visitas ao jornalistas negadas pela Rússia

O acesso consular ao jornalista continua gerando atritos entre EUA e Rússia. Funcionários da Embaixada americana em Moscou tiveram permissão para apenas uma visita a Gershkovich na prisão. 

No dia 5 de abril, ele recebeu a visita de advogados do jornal onde trabalha. 

Na semana passada, as autoridades russas negaram novamente um pedido de visita consular a Gershkovich, supostamente em retaliação por Washington negar vistos a jornalistas pró-Kremlin que desejam visitar a sede das Nações Unidas em Nova York, segundo o jornal The Moscow Times. 

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, disse na segunda-feira à agência de notícias Interfax que Moscou não estabeleceu ainda condições específicas para restaurar o acesso do jornalista preso às visitas consulares. 

Desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, as condições de liberdade de imprensa se deterioraram ainda mais na Rússia sob Vladimir Putin.

A prisão do jornalista americano é um dos episódios citados pela organização Repórteres Sem Fronteiras para justificar a queda do país no Global Press Freedom Index de 2023.