Londres – Um consórcio internacional de veículos de imprensa formado pelo projeto de jornalismo investigativo Forbidden Stories está dando continuidade ao trabalho do repórter britânico Dom Philips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, assassinados há um ano no Vale do Javari, Amazônia.

O crime, em 5 de junho, chocou o mundo e agravou a má reputação do Brasil na arena ambiental global, que se deteriorou ainda mais durante o governo de Jair Bolsonaro. 

Laurent Richard, fundador do Forbidden Stories e diretor do consórcio, explica na apresentação que as reportagens veiculadas como parte do Projeto Dom e Bruno, produzidas ao longo dos últimos meses, são uma forma de garantir que “o trabalho não morra com eles”. 

O consórcio à frente do Projeto Dom e Bruno

O Forbidden Stories nasceu em 2015, motivado pelo atentado ao semanário Charles Hebdo, em Paris, que deixou 12 vítimas fatais.

A inspiração foi uma iniciativa de 38 jornalistas de 28 veículos de imprensa nos EUA, que se uniram para completar uma investigação sobre fraude de terras conduzida pelo repórter Dan Bolles depois de seu assassinato.

O Projeto Dom e Bruno está reunindo grandes meios de comunicação internacionais como The Guardian, Der Spiegel e Le Monde, nacionais como TV Globo e Folha de S.Paulo e independentes como Repórter Brasil, Amazônia Real e Ojo Publico, além de organizações como The Bureau of Investigative Jornalismo e Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). 

As reportagens começaram a ser veiculadas no dia 1º de junho, cinco dias antes de a morte de Dom Philips e Bruno Pereira completar um ano. 

Um vídeo apresenta o projeto, denominado “uma investigação sobre a pilhagem na Amazônia”. 

Algumas reportagens aprofundam denúncias que o jornalista e o indigenista haviam feito ou que investigavam.

Outras trazem fatos novos sobre o trabalho de Dom e Bruno. Quando foi morto, o jornalista residente no Brasil investigava pesca ilegal em terras indígenas para seu próximo livro, acompanhado pelo indigenista. 

As últimas fotos e vídeos da dupla, que estavam no celular do jornalista resgatado por ativistas da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) em um trecho da floresta inundada, foram recuperadas pela Polícia Federal e tornadas públicas em um documentário da repórter Sônia Bridi para o Globoplay. 

Bruno Pereira havia se licenciado da Funai e trabalhava na Univaja. Em uma das imagens, Dom Philips aparece dois dias antes do crime conversando com um homem da vila de Ladário que é cunhado de um dos acusados de ter matado o jornalista e o indigenista, Amarildo da Costa. 

As imagens foram reproduzidas em todo o mundo pelos integrantes do consórcio. 

O britânico The Guardian, para o qual Dom Philips colaborava regularmente, dedicou quase toda a sua primeira página na quinta-feira (1) ao The Bruno and Dom Project. 

Jornal The Guardian participa de consórcio global com reportagens sobre o jornalista Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira assassinados na Amazônia

 

A editora-chefe do jornal, Katharine Viner, disse em um texto de opinião: 

Os defensores da floresta não devem ser mortos por expor crimes. Jornalistas não devem ser mortos por relatar fatos.

Laurent Richard, do Forbidden Stories, salientou que “Dom Phillips foi um dos jornalistas mais testados em batalha”, em 15 anos cruzando a região amazônica. E que Bruno, amigo e guia, “conhecia esse território melhor do que ninguém”.

Ele relembrou a fala da irmã de Dom Philips, Sian, quando os corpos dos dois foram descobertos, afirmando que o jornalista foi morto “porque tentou contar ao mundo o que está acontecendo com a floresta e seus habitantes”.