O lançamento no mercado internacional de duas novas opções do telefone Nokia 2660 Flip em cores ‘jovens’ – Pop Pink e Lush Green -pela a HMD Global sinaliza a aposta em uma tendência que vem ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo: dar uma tempo nas redes sociais e na internet.
Mais do que o preço baixo, os chamados “dumbphones” (“celulares burros” em tradução livre) viraram uma alternativa para quem deseja ficar longe da ansiedade do celular, incluindo jovens.
Os aparelhos não permitem instalar aplicativos, como os das redes sociais. E não têm tela sensível ao toque. Há uma câmera e um teclado para escrever mensagens de texto, além do telefone para chamadas de voz.
Celular novo com carinha de antigo
Desde 2019, a fabricante da Nokia vem ressuscitando os “dumbphones”, celulares à moda antiga cujo foco é oposto ao “smartphone” — ser mais barato e fazer somente o básico.
No lançamento das novas cores do 2660 Flip, Lars Silberbauer, diretor de marketing da HMD Global, fabricante dos aparelhos Nokia, confirmou a tendência de busca por celulares sem redes sociais e apps (chamados de “feature phones” pela empresa) após muitos terem “momentos arruinados” por uma notificação.
“Houve um aumento por interesse de aparelhos dobráveis, e acreditamos que ele está vindo de uma necessidade de tirar uma folga do fluxo constate de notificações digitais e posts nas redes sociais”
O movimento é basilar para a estratégia da Nokia, que há alguns anos redirecionou sua produção para aparelhos nas linhas intermediária e de entrada, mais acessíveis ao público.
Além do 2660 Flip, a HMD Global ressuscitou outros aparelhos antigos, como o Nokia 105 e 110, de 2012, com pequenos ajustes, mas sem muita diferença — todos permanecem sem tela sensível ao toque e acesso a lojas de apps.
Hoje, a empresa surfa sem concorrentes no mercado global de dumbphones, com o Nokia 105 sendo o feature phone mais vendido no mundo em 2022, segundo o IDC.
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O interesse de jovens nesse tipo de celular é impulsionado por celebridades nas redes sociais.
Em janeiro deste ano, a cantora americana Camila Cabello, que tem 13 milhões de seguidores no Twitter, compartilhou sua decisão de aderir à “revolução do telefone flip”.
@Camila_Cabello , now i feel inspired/want to get a TCL flip phone ☎️ 📱 now 😭❤️❤️ I am #teamcamila #teamflipphone
— Camila’s cheerleader 😋🍭 Camila plz follow bck 💞 (@camilacheerlead) January 13, 2023
De ‘somente ao necessário’ para ‘detox’ de redes sociais
O sucesso dos “dumbphones” pode não estar só na nostalgia, mas em uma mudança de mercado: as pessoas estão percebendo o impacto de um celular com notificações sem parar, puxando-os de volta às redes sociais.
Em 2022, quase 80% das vendas de “dumbphones” vieram da Índia e de países do Oriente Médio e África, segundo a Counterpoint.
As compras foram realizadas, em sua maioria, por pessoas que não tinham poder aquisitivo ou conhecimento digital para usar um smartphone.
Mas a mesma pesquisa aponta um crescimento da aquisição desses aparelhos entre Millennials (1981-96) e Geração Z (1997-2012) nos Estados Unidos, segundo a CNBC.
Ao que tudo indica, estas gerações estão limitando, por conta própria, o acesso a smartphones, tendo em vista os impactos de aplicativos e da internet na saúde mental.
Em uma análise sobre o lançamento da Nokia na revista Telecoms.com, o especialista Andrew Wooden observa que a tendência indica que gerações mais jovens, em particular, estão reconhecendo os potenciais lados negativos de muitas mídias sociais e seu impacto nas interações sociais reais e talvez na saúde mental:
“Optar por deixar o iPhone em casa e pegar o telefone flip sem internet ao sair à noite com os amigos pode ser uma maneira mais saudável de socializar.
Mas pode não ser o ideal se for preciso chamar um Uber para voltar para casa”.
Em artigo sobre o avanço dos smartphones no portal acadêmico The Conversation, o professor de gestão de varejo Omar H.Fares, da Universidade Metropolitana de Toronto, também considera o desejo de detox digital como fator para a Geração Z trocar os smartphones pelos dumbphones.
Em 2022, as pessoas nos Estados Unidos passaram mais de 4,5 horas diárias em seus dispositivos móveis, segundo o professor. No Canadá, os adultos relataram ter gasto cerca de 3,2 horas por dia em frente às telas em 2022.
Um relatório publicado pelo Departamento de Saúde dos EUA em maio deste ano alertou para o impacto das rede sociais na autoimagem corporal, exposição a discurso de ódio, sono e bem estar emocional dos jovens.
“A resposta é que não temos evidência suficiente para dizer que são seguras, mas há evidências crescentes de que seu uso está associado a males para a saúde mental dos jovens”, afirma o documento.
Dados do Moor Research antecipam que a exaustão do mundo digital será responsável por um aumento de 5% do mercado global nos próximos anos.
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