Londres – O abismo entre a proporção dos que se informam apenas pelas mídias sociais e os que acessam diretamente os aplicativos ou sites da mídia tradicional na internet nunca foi tão grande, revela a pesquisa feita para o Digital News Report 2023, publicado nesta terça-feira (14) pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo, baseado em Oxford.

Segundo o estudo, a diferença passou para oito pontos percentuais (30% preferindo o acesso pelas mídias sociais e 22% pelos canais da imprensa) contra cinco no ano passado e um em 2021. Até 2020, o acesso pelos canais da imprensa sempre fora maior.

A virada aconteceu por causa dos jovens de 18 a 24 anos, que demonstram clara preferência pelo acesso de notícias pelas mídias sociais, conteúdos mais divertidos e com mistura de áudio, vídeo e texto, além de prestar mais atenção em influenciadores do que jornalistas em plataformas como TikTok, Instagram e Snapchat.

Pesquisa avalia comportamento em mídias sociais e tradicionais 

O relatório anual do Instituto Reuters é feito com base em uma pesquisa de hábitos de consumo de notícias e opiniões sobre as empresas jornalísticas e mídias sociais como fonte de informação em 46 países.

Veja outros destaque do relatório, que tem o Brasil como um dos países pesquisados

  • O consumo de notícias por meio de mídias tradicionais, como TV e impressos, continua a cair na maioria dos mercados, enquanto o consumo online e pelas mídias sociais não preenche a lacuna. Consumidores on-line estão acessando notícias com menos frequência do que no passado e também estão se tornando menos interessados.
  • Menos da metade (48%) dos 94 mil entrevistados em 46 países, incluindo o Brasil, disse estar muito ou extremamente interessado em notícias, uma queda acentuada em relação os 63% observados em 2017.
  • A confiança nas notícias caiu 2 pontos percentuais, revertendo o aumento observado em muitos países durante a pandemia de coronavírus. Em média, 40% dos entrevistados dizem confiar na maioria das notícias na maior parte do tempo.
  • Em todos os mercados, 56% das pessoas dizem se preocupar em identificar a diferença entre notícias verdadeiras e falsas na internet – um aumento de dois pontos percentuais em relação ao ano passado.
  • Em todos os países, a maioria dos usuários online diz que ainda prefere ler as notícias em vez de assisti-las ou ouvi-las, por fornecer mais velocidade e controle no acesso às informações, embora em alguns países essa tendência comece a se reverter. O consumo de notícias de vídeo tem crescido constantemente em todos os mercados, com a maioria desse conteúdo acessada pelo YouTube ou Facebook.
  • Os podcasts de notícias continuam a ressoar com o público principalmente mais jovem, mas continua sendo uma atividade minoritária em geral. Cerca de um terço (34%) dos entrevistados disseram acessar um podcast mensalmente.

Pesquisa mostra desconfiança em relação a algoritmos 

A pesquisa aprofundou também o questionamento nos algoritmos das mídias sociais, vistos com desconfiança cada vez maior. 

Boa parte do público é cética em relação à seleção de notícias oferecida pelos mecanismos de busca e mídias sociais.

Menos de um terço (30%) diz que ler matérias selecionadas com base no consumo anterior é uma boa maneira de obter notícias, uma queda de 6 pontos percentuais a menos do que quando a pergunta foi feita pela última vez em 2016.

Mas mesmo assim, o número ainda é maior dos que os que 27% que preferem que a seleção seja feita por jornalistas e organizações da mídia tradicional.

Fadiga de notícias é constatada pela pesquisa 

A proporção dos usuários que dizem evitar notícias, muitas vezes ou às vezes, permanece próxima dos máximos de todos os tempos: 36% da amostra total, considerando todos os mercados pesquisados pelo Instituto Reuters.

Esse grupo se divide entre aqueles que evitam periodicamente todas as fontes de notícias e os que restringem sua busca de notícias em momentos específicos ou para determinados tópicos. Esse público é o mais propenso a demonstrar interesse em jornalismo positivo ou de soluções.

A maioria dos entrevistados afirmou não estar procurando mais notícias, e sim notícias que pareçam mais relevantes, e os ajudem a entender os problemas que enfrentam.

Pesquisa mostra que preferência por notícias em mídias sociais nunca foi tão grande

A situação em 2023 praticamente inverte o cenário de 2018, quando o relatório começou a ser elaborado. Naquela época, 32% dos leitores preferiam se informar diretamente pelos canais da imprensa tradicional, contra 22% dos que faziam isso pelas mídias sociais.

Em 2023, a proporção dos que se informam pelas mídias sociais é de 30%, contra 22% que continuam preferindo buscar notícias diretamente nos canais digitais da mídia tradicional.

Segundo a pesquisa, os países escandinavos são os que apresentam maior proporção de leitores que preferem o acesso direto à mídia tradicional, com a Finlândia à frente (63% dos entrevistados), seguida de Noruega, Dinamarca e Suécia.

Entre os países com maior proporção de pessoas que preferem acessar notícias pelas mídias sociais estão a Tailândia (64% dos entrevistados), Filipinas, Chile e Peru.

Um quarto dos entrevistados (25%) disse preferir se informar por sites de buscas como o Google, índice que também supera os 22% que se informam diretamente nos canais digitais da mídia tradicional. Enquanto o acesso de notícias pela mídia tradicional caiu 10 pontos desde 2018, o acesso pelo Google subiu 1 ponto percentual.

O estudo mostra que parcelas menores da amostra ainda preferem se informar por alertas do celular (9%), agregadores de notícias (8%) e até pelo e-mail (5%). Em relação a 2018, a informação pelos alertas do celular cresceu 3 pontos, e os agregadores 2 pontos. O uso do e-mail como fonte de notícias caiu um ponto.

Acesso dos jovens aos canais da mídia tradicional caiu pela metade 

Em 2018, a proporção dos leitores de mais de 35 anos (53%) era praticamente que preferiam se informar pelos canais digitais da mídia tradicional era praticamente a mesma dos jovens da faixa de 18 a 24 anos (52%).

De lá para cá, enquanto a proporção dos mais velhos permaneceu praticamente a mesma (52%), a dos jovens caiu para menos da metade, passando para apenas 24%.

TikTok é a rede que mais cresce entre os jovens

O TikTok já é a terceira rede mais usada pelos jovens de 18 a 24 anos para se informar, com um crescimento assombroso desde 2019, passando de 5% para 38%.

O líder continua sendo o Instagram, sendo utilizado por 60% dos jovens dessa faixa etária, mas com um crescimento de apenas 1 ponto em relação a 2019.

A maior queda entre os jovens é a do Facebook, embora a rede continue sendo a preferida para acessar notícias na soma de todos os públicos.

Sua derrocada entre o público mais jovem começa em 2019, quando tinha 61% da preferência, e de lá para cá não parou de despencar, sendo utilizado atualmente por apenas 38% dos usuários de 18 a 24 anos para a busca de notícias.

Instragram e TikTok são as que mais crescem na busca de notícias

As preferências dos mais jovens se refletem na análise das preferências da amostra total dos entrevistados, considerando todas as idades, com relação ao uso das mídias sociais para o acesso às notícias.

O Instagram, com 14%, e o TikTok, com 6%, foram as que mais cresceram em relação ao ano anterior, com aumento de dois pontos percentuais.

Os únicos que caíram foram o Facebook, passando para 30% para 28%, embora continue na liderança, e o Facebook Messenger, caindo de 7% para 6%.

Considerando apenas os jovens de 18 a 24 anos, o uso do TikTok para se informar chega a 20%, um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao ano passado.

Tópicos de notícias que ressoam nas redes

Os usuários do Twitter são mais propensos a prestar atenção a assuntos mais complexos, como política e negócios, do que os usuários de outras redes, enquanto os usuários do TikTok, Instagram e Facebook são um pouco mais propensos a consumir postagens divertidas (ou sátiras) relacionadas a notícias.

O estudo apontou a ambivalência, e possivelmente a fadiga, sobre a guerra na Ucrânia em todas as redes.

O TikTok é usado muito mais para notícias políticas no Peru, onde tem sido usado por estudantes para organizar protestos políticos, bem como no Quênia e no Brasil, do que nos Estados Unidos, Canadá ou Cingapura.