Londres – Contrariando a tendência global de evitar o noticiário, a chamada “evasão de notícias” recuou no Brasil em um ano, segundo o novo relatório Digital News Report 2023 do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo da Universidade de Oxford. 

Apesar de a polarização política ser considerada pelos pesquisadores como uma das causas para as pessoas evitem se informar, as polarizadas eleições presidenciais de 2022 tiveram um efeito oposto no país, segundo o Reuters, fazendo cair de 53% para 41% a quantidade de pessoas que declararam evitar notícias frequentemente ou às vezes. A média global é de 36%. 

Publicado nesta quarta-feira (14) o documento, analisa opiniões e comportamento do público em relação a notícias, empresas jornalísticas e plataformas digitais em 46 países, com base em pesquisas realizadas em cada mercado envolvendo ao todo 93 mil pessoas. 

Relatório mostra queda de confiança no jornalismo 

Mas em outra métrica o Brasil está alinhado ao conjunto do universo pesquisado: a queda de confiança nas notícias, está em 43%, percentual baixo do que os 48% do ano anterior e 19 pontos  menor do que em 2015. 

Relatório Jornalismo Instituto Reuters

Ainda assim, ela é maior do que a média global, de 40%, uma queda de 2 pontos percentuais em relação ao relatório anterior. 

No Brasil, a opinião melhora quando a pergunta é sobre confiança nas fontes de notícias consumidas pelo entrevistado e não sobre todo o universo de notícias – mas ainda assim fica abaixo da metade: 47%. 

Segundo o Instituto Reuters, os motivos para essa opinião são a polarização das eleições de 2022 e as críticas e agressões a jornalistas no país, que corroem a confiança do público no jornalismo como instituição. 

O Brasil ocupa a 92% posição no ranking global de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. 

Notícias nas plataformas digitais 

Outra tendência global que se repete no Brasil é a perda de espaço do Facebook como fonte de notícias. Em um grupo de países selecionados, a plataforma caiu de 42% em 2016 para 28% este ano.

Ainda figura como a principal, mas marcas como TikTok, WhatsApp, Instagram e YouTube ganharam terreno 

No Brasil, a  plataforma da Meta caiu 12 pontos percentuais em dois anos, e agora fica atrás do Instagram para consumo de notícias, apurou a pesquisa. Já o TikTok foi o de maior crescimento. 

Mas o relatório destaca que grandes empresas jornalísticas como Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e O Globo ainda têm mais seguidores no Instagram e Twitter.

E que empresas de TV abertas também parecem mais interessadas em concentrar esforços em outras redes sociais onde conseguem promover melhor seu conteúdo. 

O consumo de fontes tradicionais de notícias, como televisão e mídia impressa, diminuiu significativamente na última década, diz o estudo.

Relatório de jornalismo fontes de acesso a notícias

O Instituto Reuters mediu ainda o alcance das principais marcas de jornalismo brasileiras, separadas por uso diário e uso semanal, e a confiança do público em cada uma. 

Míidas de maior alcance no Brasil relatório jornalismo Instituto Reuters

No entanto, a análise de confiança, que no Brasil apontou BandNews, Folha de S.Paulo, Globo, Metrópolis e o Estado de S.Paulo como as mais bem classificadas,, foi condenada nesta terça-feira pela jornalista filipina Maria Ressa, prêmio Nobel da Paz. 

Metodologia do relatório de jornalismo questionada 

Em uma entrevista ao jornal The Guardian, ela revelou que deixou o conselho consultivo do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo no ano passado por discordar da metodologia. 

Seu veículo, o Rappler foi listado em 2022 como o menos confiável do país. 

Ressa disse ao Guardian que “o relatório, financiado em parte pelo Google, não leva em consideração o impacto das campanhas de desinformação, principalmente em países onde os governos usam seus poderes para atacar a mídia livre”.

“Também não reflete o preconceito nas plataformas de tecnologia que têm grande controle sobre a distribuição de notícias ou o impacto de campanhas de desinformação”, afirma.

Ressa diz que os resultados do relatório são usados por adversários para desqualificar o jornalismo dos veículos apontados como menos confiáveis, mesmo sendo reconhecidos no mundo pela independência e ética. 

“Nós não estamos sozinhos. Este ‘estudo’ é como dar uma arma carregada a governos autocráticos que tentam silenciar jornalistas independentes não apenas nas Filipinas, mas em países como Brasil e Índia, onde as operações de informação e a lei são usadas para perseguir, assediar e calar”.

Emily Bell, diretora do Tow Center for Digital Journalism na Universidade Columbia, também se manifestou sobre o modelo do relatório, afirmando que ele fornece “apenas uma perspectiva parcial da mídia contemporânea”. 

Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Instituto Reuters  defendeu a robustez da metodologia e disse: “Lamentamos o abuso contra Maria Ressa e a maneira como nossa pesquisa foi deturpada. Reagimos publicamente contra isso e continuaremos a fazê-lo”.