Um integrante do partido governamental Liga Awani e líder de um condado regional de Bangladesh foi preso no sábado (19) por envolvimento direto no linchamento do jornalista Golam Rabbani Nadim, que acabou morto devido aos ferimentos.
A violência aconteceu no dia 14 de junho na cidade de Jamalpur, cerca de um mês após a publicação de reportagens desfavoráveis sobre Mahmudul Alam Babu, visto na cena entre os linchadores. Ele perdeu o cargo, assim como seu filho, que está foragido.
Horas antes do linchamento, o jornalista havia publicado nas redes sociais a notícia do arquivamento de uma reclamação do político contra ele, o que segundo organizações de direitos humanos e de mídias locais motivou a vingança.
Jornalista foi morto no caminho para casa
Bangladesh ocupa o 163º lugar entre 180 nações no ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. Atos violentos contra profissionais de mídia são comuns no país.
Em abril passado, um jornalista que denunciara crimes ambientais foi espancado e jogado do segundo andar do prédio onde trabalhava, mas sobreviveu.
Pela extrema violência e associação direta de uma autoridade ao crime, o caso de Golam Rabbani Nadim teve repercussão em todo o país, com protestos da população.
Familiares da vítima, jornalistas e entidades de defesa da imprensa pressionaram as autoridades a investigar e punir os assassinos. Várias prisões já foram feitas, incluindo assessores próximos ao político.
A mulher de Nadim, Monira Begum, registrou uma queixa de homicídio listando 22 pessoas identificadas, incluindo Alam Babu e seu filho, e outras 21 não identificadas.
Leia também | Terceiro jornalista de rádio é assassinado nas Filipinas desde a posse de Ferdinand Marcos Jr.
Denúncias do jornalista morto
Golam Rabbani Nadim era correspondente em Jamalpur do portal de notícias on-line banglanews24.com e repórter do canal privado Ekattor TV.
As matérias de sua autoria sobre Alam Babu apontavam corrupção e problemas na vida conjugal do político.
Uma delas foi uma entrevista com uma mulher que alegava ter sido casada com ele, período em que foi vítima de abusos até finalmente se divorciar.
Amam Babu entrou com um processo baseado na Lei de Segurança Digital contra o jornalista, mas o tribunal de crimes cibernéticos rejeitou a denúncia.
Na noite em que divulgou a informação do arquivamento, Nadim voltava para casa de moto quando um grupo de 15 a 20 pessoas interceptou-o e arrastou-o para um local ermo, onde ele foi espancado.
Resgatado por pessoas que estavam no local, a vítima chegou ao hospital inconsciente, falecendo no dia seguinte por perda de sangue decorrente de um dos ferimentos na cabeça.
O canal de televisão local Ekkator TV exibiu imagens de câmeras de segurança que mostram Mahmudul Alam Babu na cena.
O jornalista Al Mujaheed, que acompanhava a vítima, relatou que o político estava dando ordens à distância.
ONGs pedem punição a assassinos de jornalista
Em nota, o coordenador da Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) na Ásia, Beh Lih Yi, exigiu punição para os autores do crime contra Golam Rabbani Nadim, morto em decorrência de seu trabalho como jornalista.
“Autoridades de Bangladesh devem garantir que todos os envolvidos neste ataque sejam levados à justiça para por um fim aos números absurdos de impunidade de atos violentos contra profissionais de imprensa.”
Entidades locais de defesa da liberdade de imprensa, como os Jornalistas Bangladenses na Imprensa Internacional e a Associação de Imprensa de Bakshiganj, ecoaram as críticas.
Leia também | Jornalista que investigava escavações ilegais é jogado de prédio em Bangladesh
Liberdade de imprensa em Bangladesh
O Instituto Internacional de Imprensa (IPI) documentou pelo menos 72 ameaças ou violações à liberdade de imprensa em Bangladesh no ano passado, incluindo assédio legal e violência física contra jornalistas.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, um quinto da população do país vive abaixo da linha da pobreza e não possui acesso à mídia convencional, o que coloca torna a internet fundamental a circulação de notícias e informações locais.
A grande mídia é controlada pelo governo ou por grupos empresariais, e jornalistas são frequentemente alvo de assédio judicial e de violência praticada por simpatizantes do partido que comanda o governo, Liga Awami.
O país tem uma lei de segurança digital considerada draconiana por entidades de liberdade de imprensa, que foi usada por Mahmudul Alam Babu para tentar silenciar Golam Rabbani Nadim.
Bangladesh, que fica o Sul da Ásia, está em uma região difícil para o jornalismo. Um relatório lançado pela Federação Internacional de Jornalistas no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa documentou a situação de vários países da região.
Entre 2021 e 2022, a Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês) registrou 257 violações graves em uma região que inclui nações conhecidas pelo desrespeito à liberdade de imprensa e de expressão: Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.
Leia também | Prisões, mortes, agressões: relatório documenta violações da liberdade de imprensa no Sul da Ásia