Londres – Mais de 300 empresas jornalísticas internacionais como New York Times, Washington Post, Bloomberg TV, Le Monde, Deutsche Welle, RAI, Agencia EFE e Al Jazeera uniram-se em um protesto contra a cobrança de uma taxa para o credenciamento de jornalistas interessados em acompanhar a convenção anual do Partido Conservador, marcada para outubro.
Por ser o encontro do partido governista, os debates e decisões aprovadas na convenção são de interesse local e internacional, já que sinalizam os rumos de política interna e externa do país. Nenhum outro partido britânico impõe cobrança para credenciar jornalistas.
Em uma carta aberta publicada nesta terça-feira (20), a FPA (Foreign Press Association, que reúne os correspondentes estrangeiros) “se opõe ferozmente” à medida, sob o argumento de que permitir a livre cobertura de assuntos de interesse público é “um princípio fundamental de uma sociedade livre e democrática”.
Associações de mídia locais também contestaram medida do Partido Conservador
A Convenção será realizada em Manchester. A taxa é de 137 libras (R$ 830) para jornalistas que se inscreverem ate 1º de agosto, e 800 libras (RS$ 4,8 mil) para os que pedirem credenciamento a partir dessa data.
O texto contra a medida é assinado por empresas jornalísticas e correspondentes de mais de 60 países, incluindo o Brasil.
Há duas semanas, uma outra carta aberta havia sido endereçada ao Partido Conservador pela FPA junto com outras associações de jornalismo britânicas, sem sucesso.
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O momento não poderia ser pior para o Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak, que atravessa uma crise econômica devido ao aumento do custo de vida e também política.
Nesta segunda-feira, o Parlamento votou em peso a favor do relatório de uma comissão disciplinar responsabilizando o ex-primeiro-ministro Boris Johnson de ter mentido na casa sobre o caso Partygate (festas realizadas na sede do governo durante o lockdown da covid-19).
Na semana passada, Johnson antecipou-se a uma possível punição e renunciou ao mandado parlamentar, lançando dúvidas sobre seu futuro político e atirando na própria agremiação que o elegeu. Pesquisas de intenção de voto mostram larga vantagem para o Partido Trabalhista, que tem grandes chances de vencer as eleições gerais de 2024.
No fim de semana, o jornal Daily Mirror publicou um vídeo mostrando uma animada festa de Natal na sede do governo em 2020, enquanto o país estava isolado.
EXCLUSIVE: First ever Partygate video revealed as Tories drink, dance and laugh at Covid rulespic.twitter.com/vIHbuIqWWf
— The Mirror (@DailyMirror) June 17, 2023
Nesse contexto, aprofundar a antipatia da mídia internacional e das organizações de defesa da liberdade de imprensa era tudo o que o Partido Conservador não precisava. Mas é o que ele está fazendo ao encarar a guerra sem mudar de posição.
Segundo a FPA, nenhum outro país do mundo cobra taxas a jornalistas para cobrir eventos dessa natureza.
Ainda que grandes empresas jornalísticas signatárias da carta possam pagar (enquanto outras menores e freelancers ou jornalistas independentes como blogueiros terão dificuldades), a posição da imprensa estrangeira é a de defender o princípio da liberdade de imprensa.
“É lamentável que o Reino Unido, parte da Media Freedom Coalition, co-organizador da primeira Conferência sobre Liberdade de Mídia do mundo, um país com orgulhosa tradição de independência de imprensa, seja o primeiro a taxar efetivamente os jornalistas para fazerem o seu trabalho” diz o texto.
O argumento do Partido Conservador para justificar a cobrança não convenceu:
Disseram-nos que os motivos são administrativos, para cobrir os “milhares” de não comparecimentos. No entanto, parece não haver provas desses não comparecimentos e não há outro evento comparável que exija que os jornalistas paguem pela cobertura .
A primeira cobrança da taxa aconteceu no ano passado. Este ano, as associações de mídia locais e a que reúne os correspondentes estrangeiros resolveram enfrentar a medida, em nome da liberdade de imprensa.
“Apelamos aos organizadores da conferência do partido Conservador para descartar ou reembolsar as cobranças e permitir matérias justas e gratuitas para todos” diz a carta.
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