Londres – A data do lançamento do novo “Twitter do Instagram”, o aplicativo Threads da Meta, não poderia ter sido pior para a plataforma de Elon Musk, que desde a semana passada está sob uma avalanche de críticas devido à redução do número de postagens que os usuários podem ver.
Nesta segunda-feira, a Meta confirmou que o Threads chega às lojas de aplicativos na quinta-feira (6), e liberou imagens da novidade, que deve ser integrada ao Instagram e terá visual bem parecido com o do Twitter, permitindo compartilhar “ideias, opiniões e criatividade”.
Publicações e analistas especializados em tecnologia comentaram que a data prevista para o lançamento do chamado “Projeto Barcelona” era o fim de julho, mas teria sido antecipada aproveitando o momento propício da crise no Twitter por causa do limite de postagens.
Plataforma de Musk em crise
O limite que gerou a crise foi justificado por Musk como uma medida para evitar “níveis extremos” de coleta de dados por empresas que operam sistemas de inteligência artificial generativa, mas houve rumores de que o motivo real seria dificuldade financeira para pagar serviços de hospedagem.
Os boatos não são infundados. Os pagamentos ao Google Cloud chegaram a ser interrompidos recentemente, e foram retomados em fins de junho depois da entrada da nova CEO da plataforma, Linda Yaccarino.
Embora tenha aumentado no sábado o número de tweets que os usuários podem ver (10 mil para contas verificadas, 1 mil para não verificadas e 500 para novas contas que não pagam pelo selo azul), Musk virou alvo de uma série interminável de memes, enquanto plataformas alternativas como a Mastodon, Bluesky (de Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter) e até a Truth Social de Donald Trump viram disparar o número de novos usuários.
A BlueSky chegou a parar de receber novas inscrições, agora possíveis apenas por meio de convite.
No entanto, nenhuma delas pode se comparar ao poder da Meta, que entra na briga com o Twitter com um arsenal poderoso: o alcance do Instagram, que tem 1,35 bilhões de usuários no mundo e continua crescendo.
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Novo “Twitter” da Meta baseado no Instagram
Este é o trunfo do Thread, que chegará primeiro para os usuários dos EUA e no dia seguinte (7) para o resto do mundo. A página para baixar a novidade já está disponível nas lojas, com uma descrição de como funcionará.
Antes de a Meta confirmar o lançamento, um desenvolvedor atento, Alessandro Paluzzi, encontrou no sábado uma página apresentando o Thread no Google Play, e a notícia se espalhou.
Além do visual e da mecânica semelhantes às do Twitter, a novo produto da Meta aparentemente será associado ao Instagram. A tela de login divulgada sugere que o login será feito com a mesma conta, o que facilitará a adesão.
O concorrente do Twitter também parece importar diretamente os seguidores e listas de seguidores do Instagram dos usuários, em vez de obrigar o usuário a construir comunidades do zero.
O exemplo de uma nova postagem mostra a contagem de caracteres, com um pequeno clipe de papel para incluir anexos. Ao visualizar postagens, há ícones familiares para curtir, republicar, responder e compartilhar, e as imagens do usuário são pequenos círculos.
“Threads é onde as comunidades se reúnem para discutir tudo, desde os tópicos de seu interesse hoje até o que será tendência amanhã”, diz o texto de apresentação na App Store. Mais Twitter, impossível.
“Qualquer que seja o seu interesse, você pode seguir e se conectar diretamente com seus criadores favoritos e outras pessoas que amam as mesmas coisas – ou criar seguidores leais para compartilhar suas ideias, opiniões e criatividade com o mundo.”
Mas a Meta não vai voar em céu de brigadeiro. Jack Dorsey foi o primeiro a apontar o dedo para riscos de privacidade descritos na tela de apresentação do produto nas lojas de aplicativo, que informa os dados que podem ser coletados.
“Todos os seus Threads [postagens] pertencem a nós”
All your Threads are belong to us https://t.co/FfrIcUng5O pic.twitter.com/V7xbMOfINt
— jack (@jack) July 4, 2023
Ao entrar no mercado para concorrer com o Twitter, o Threads deve também enfrentar escrutínio em relação às políticas de moderação e presença de personalidades controvertidas, associadas a discurso de ódio e desinformação.
Este foi o motivo principal para o início da crise no Twitter, tão logo Elon Musk efetivou a compra da plataforma, em outubro do ano passado em clima de “liberou geral”.
Celebridades manifestaram oposição, e anunciantes suspenderam publicidade no Twitter. Ao mesmo tempo, Elon Musk fez demissões em massa que afetaram os trabalhos de moderação de conteúdo. O novo Twitter da Meta precisará de atenção para não incorrer no mesmo risco.
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Twitter x Meta, dentro e fora do ringue
Nas últimas semanas, notícias sobre um enfrentamento físico entre os bilionários chefões da Meta e do Twitter, ambos praticantes de lutas, divertiu os seguidores das redes sociais.
O provocador Musk postou um desafio a Zuckerberg, que respondeu com um lacônico “envie-me a localização”. Mas a guerra realmente importante entre o Twitter e a Meta deve acontecer a partir desta quinta-feira fora do ringue.
Incorporar funções de concorrentes em seus seus produtos tem sido um padrão recente para a Meta.
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Mas dessa vez não se trata de uma função ou recurso, e sim de uma plataforma inteira, posicionada para disputar espaço com outra que vem despencando em número de usuários, prestígio e capacidade de geração de receita para se manter de pé.
Apesar dos tweets entusiasmados de Elon Musk, as notícias e avaliações do mercado não são nada favoráveis. A consultoria britânica Brand Finance atestou uma queda de 32% no valor da marca Twitter em um ano, em um relatório publicado em junho.
Enquanto isso, o WhatsApp da Meta estreou na lista das 10 mais valorizadas (que tem o Google na liderança), e o Instagram ficou em sexto lugar, subindo um ponto em relação a 2022. O Facebook é o terceiro, depois do TikTok em segundo.
A compra do Twitter por Elon Musk interrompeu uma trajetória ascendente. O valor da marca da plataforma havia aumentado 85% em 2022 em comparação a 2021, passando para US$ 5,7 bilhões, segundo o Brand Finance Media 50 do ano passado, divulgado em maio, logo após o anúncio da aquisição, que só viria a se efetivar em outubro.
Do outro lado do “ringue”, o Instagram é a jóia da coroa da Meta. Segundo o Digital News Report do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo de Oxford, ela foi a plataforma mais acessada por jovens de 18 a 24 anos em uma pesquisa combinando dados de 12 países, incluindo o Brasil.
E vem crescendo como opção para consumo de notícias, um ponto forte do Twitter, que sempre reinou no jornalismo e na política.
Considerando-se usuários de todas as idades, o Instagram aparece em 4º lugar par notícias (com 14%), em curva ascendente e superando o Twitter, que foi assinalado como opção por 11% dos entrevistados pelo Reuters.
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