Londres – Menos de uma semana depois de ser “descoberta” por um desenvolvedor na loja de aplicativos do Google, a Threads da Meta veio ao mundo das redes sociais na quinta-feira com o gigantismo de suas irmãs, batendo a marca 10 milhões de usuários nas primeiras sete horas e provocando reação de Elon Musk ao lançamento de uma ameaça real. 

Mark Zuckerberg, o bilionário criador do Instagram, Facebook e WhatsApp, usou sua nova conta Threads para alfinetar o Twitter, enquanto anônimos e famosos correram para criar suas contas em um processo simples, importando os dados do Instagram.

E mais: provocativo, ele fez uma postagem no próprio Twitter, que usou pela primeira vez em mais de dez anos, com um cartoon de dois homens-aranhas se enfrentando. 

A brincadeira pode ser também uma referência a uma suposta luta física entre os dois bilionários praticantes de artes marciais, que se desafiaram nas redes sociais para uma disputa em um ringue. 

 

Mas também pode simbolizar uma briga jurídica, já que Musk disse que vai processar a Meta. Um advogado do bilionário encaminhou uma notificação para a empresa acusando-a de coleta de segredos comerciais, por ter supostamente contratado ex-funcionários do Twitter.

Por enquanto, a guerra está no terreno virtual. Ao dar as boas-vindas aos usuários no primeiro dia da Threads, Zuckerberg disse: 

“Vai levar algum tempo, mas acho que deve haver um aplicativo de conversas públicas com mais de 1 bilhão de pessoas. O Twitter teve a oportunidade de fazer isso, mas não acertou em cheio. Espero que consigamos”, disse Zuckerberg.

Segundo a empresa de pesquisas Statista, o Twitter tinha 368 milhões de usuários ativos em dezembro de 2022. 

Zuckerberg parece estar se divertindo com seu novo brinquedo, fazendo comentários e respondendo a usuários que deram os parabéns à novidade. 

Em alguns deles, mais alfinetadas no Twitter de Musk. O CEO da Meta respondeu a uma postagem do empresário e investidor Gary Ver dizendo esperar “gentileza” na plataforma: 

“Definitivamente estamos focando em gentileza e em fazer um ambiente agradável”. 

No início da manhã do lançamento, a Thread já aparecia na loja de aplicativos da Apple no Brasil como a rede social mais baixada.  Os dados mais recentes são de que 30 milhões se tornaram usuários em todo o mundo apenas no primeiro dia. 

Musk reage ao lançamento do Threads

Antes de anunciar que deve partir para uma briga jurídica, Musk reagiu ao lançamento do “Twitter do Instagram” com uma referência velada às denúncias de danos à saúde mental dos usuários jovens da plataforma  e de certa forma “defendendo” a proliferação de discurso de ódio no Twitter: 

“É infinitamente preferível ser atacado por estranhos no Twitter, do que se entregar à falsa felicidade de esconder a dor no Instagram”.

Publicações especializadas em tecnologia que se dedicam a antecipar os passos das plataformas digitais revelaram que o lançamento da Threads foi estrategicamente antecipado para aproveitar um momento de extrema fraqueza do Twitter depois da imposição de limites de postagem a serem vistas pelos usuários. 

O tiro de Zuckerberg foi perfeito, não tanto pelo número de usuários. Diferentemente das demais tentativas de concorrer com o Twitter (Mastodon, Bluesky, Truth Social), a Threads é atrelada ao Instagram, que tem mais de 2 bilhões de usuários ativos por mês.  Somente isso já garantiria o sucesso. 

Mas o momento escolhido foi um golpe perfeito, servindo para acentuar diferenças entre as duas redes e enfraquecer ainda mais o já combalido Twitter, que desde a aquisição por Musk, em outubro passado, vive uma crise operacional, de reputação e financeira. 

O aplicativo Threads foi lançado em 100 países na quinta-feira, mas por enquanto ficou fora da União Europeia. Segundo a Meta, o motivo foi a dificuldade de esperar para que Bruxelas “esclarecesse questões regulatórias sobre privacidade” à luz da nova lei do bloco. 

Ao fazer o download do “Twitter do Instagram”, os usuários aceitam a coleta de dados pessoais, incluindo financeiros e de saúde, o que também motivou críticas de Musk e de Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter e dono da rede Bluesky. 

A ameaça da Threads para o Twitter foi também exposta em uma entrevista do CEO do Instagram, Adam Mosseri, ao site especializado em tecnologia The Verge. 

Ele disse que a “volatilidade” e a “imprevisibilidade” do Twitter sob Musk deram a abertura para competir. 

Mosseri reconhece que o Twitter foi o pioneiro, e elogiou as “boas ofertas existentes por aí” para conversas públicas. Mas salientou o pilar que dá a vantagem competitiva ao Threads: 

“Pensamos que havia uma oportunidade de criar algo aberto e bom para a comunidade que já usava o Instagram.”

Como funciona o Threads 

Antes do lançamento, o Threads ganhou o apelido de “Twitter Killer” (assassino do Twitter). Ele combina a maioria das  funções da rede de Musk com a integração ao Instagram, uma combinação difícil de enfrentar. 

A Meta definiu sua nova rede social como uma “expansão do que o Instagram faz de melhor para o texto”. 

  • A inscrição é feita usando a conta do Instagram. O nome do usuário pode ser mantido ou personalizado
  • As mesmas contas podem ser automaticamente seguidas 
  • Postagens podem ter até 500 caracteres e incluir fotos e vídeos com até cinco minutos de duração
  • Os usuários veem um feed de postagens, chamado de “tópicos”, de pessoas que seguem, bem como conteúdo recomendado.
  •  O aplicativo permite que os usuários sejam privados no Instagram, mas públicos no Threads.
  • É possível filtrar as respostas aos seus tópicos que contêm palavras específicas.
  • Na primeira fase do lançamento, o Threads não terá propaganda 

Mas faltam algumas coisas que o Twitter tem e a novidade deixou de fora, pelo menos na primeira versão:

  • Não é possível enviar mensagens diretas (DM) 
  • O uso só pode ser feito pelo celular 
  • Há apenas um feed, em que aparecem recomendações e contas seguidas misturadas 
  • Não há estatísticas sobre trending topics 

Ainda assim, os efeitos começaram antes mesmo do lançamento da Threads. A hashtag #RIPTwitter (Descanse em Paz, Twitter) fez com que as buscas por ‘excluir Twitter’ no Google disparassem 983% no Reino Unido, de acordo com monitoramento da CasinoAlpha. 

Na manhã da quinta-feira, #Goodbye Twitter estava entre os trending topics da plataforma de Elon Musk, que ficou lotada de memes ironizando a situação – e muitos expressando alívio por finalmente terem para onde ir.