Londres – O caso do apresentador misterioso da BBC acusado de ter pago para receber fotos pornográficas de uma pessoa menor de idade teve capítulos surpreendentes nesta segunda-feira (10), com um advogado desqualificando as denúncias da família em nome da suposta vítima e a decisão da polícia de ainda não abrir inquérito para investigar se houve crime.
Um defensor da pessoa no centro da controvérsia, hoje com 20 anos, divulgou um comunicado dizendo que nada inapropriado ou ilegal aconteceu – e descrevendo as alegações feitas pelo The Sun como “lixo”.
O advogado disse que há uma discórdia com a mãe e o padrasto, afirmando que eles levaram o caso à BBC e posteriormente ao tabloide The Sun contra a vontade da suposta vítima.
Apresentador da BBC cometeu crime?
A polícia metropolitana de Londres informou que está investigando para apurar se houve crime, que só se configurará caso haja provas de que o envio de fotos, ocorrido ao longo de três anos, começou quando a pessoa era menor.
Segundo a família, pagamentos totalizando 35 mil libras (RS$ 220 mil) teriam financiado o vício em crack da pessoa menor de idade.
Nesta segunda-feira, a BBC informou em um comunicado que a polícia solicitou que investigações internas sejam paralisadas, possivelmente para não prejudicar investigações oficiais.
A idade de consentimento para atividades sexuais no país é 16 anos, mas para compartilhamento de fotos é de 18, com pena de prisão para infratores que recebam as imagens.
Mais do que uma história de fofocas, o caso está colocando em pauta práticas do jornalismo e levantando um debate sobre a conduta de corporações diante de denúncias envolvendo seus funcionários.
O nome do apresentador, suspenso e fora do ar, não foi divulgado em respeito à lei de privacidade.
As especulações nas redes sociais continuam, muitas apontando para um âncora de telejornais da BBC depois que vários “suspeitos” se manifestaram dizendo que não eram eles.
Mas o nome do apresentador pode jamais ser oficialmente conhecido, caso não haja confirmação de crime, hipótese que não pode ser descartada depois dos novos acontecimentos.
A não ser que um parlamentar decida revelar o nome do envolvido na tribuna da casa, já que os parlamentares têm imunidade quanto a processos de privacidade e um deles poderia fazer isso sem riscos. Ou que ele próprio o faça.
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Jornal questionado por denúncias contra apresentador da BBC
O jornal The Sun, que na sexta-feira (8) revelou a história contada pela família, começa a ser questionado por não ter mostrado evidências das acusações relatadas na reportagem, como extratos bancários ou imagens comprovadamente trocadas quando a suposta vítima seria menor de idade.
O advogado da pessoa envolvida afirmou que entrou em contato com o jornal para dar sua posição, mas o The Sun não a incluiu na reportagem publicada na edição impressa de sábado.
O caso tem toques de seriado. O advogado enviou a carta-bomba com a posição de seu cliente à BBC pouco antes do telejornal da noite desta segunda-feira.
A notícia representou uma reviravolta no caso, já que até então não havia muito questionamento sobre a veracidade das acusações.
Katie Razzall, editora de cultura e mídia da BBC, escreveu: “Recebemos esta carta no final da tarde e ela faz afirmações importantes que, se verdadeiras, potencialmente lançam algumas dúvidas sobre a história que estava nas primeiras páginas durante o fim de semana”.
O que diz o The Sun
O The Sun se defendeu dizendo que sua reportagem era sobre “pais muito preocupados que fizeram uma reclamação à BBC sobre o comportamento de um apresentador e o bem-estar de seu filho”, que não teriam sido tratadas adequadamente pela rede pública.
O contato da família com a BBC foi feito em 19 de maio, mas o apresentador seguiu no ar e só foi afastado na sexta-feira, quando o caso foi revelado pelo tabloide, que pertence ao grupo do magnata da mídia Rupert Murdoch.
A BBC não deu detalhes sobre como teria sido a investigação interna a partir da denúncia recebida, mas sugeriu que não houve cooperação dos denunciantes fornecendo detalhes ou provas, o que gerou críticas.
O The Sun diz ter visto evidências que apoiam as preocupações, mas não especificou se eram fotos feitas quando a pessoa comprovadamente tinha 17 anos ou pagamentos feitos nessa época, lançando dúvidas sobre os acontecimentos – e isso pode explicar a decisão da polícia de não abrir um inquérito na segunda-feira, e pedir à BBC para interromper processos internos.
O padrasto acusou a BBC de “não dizer a verdade” e alegou que ela mentiu ao dizer que “novas alegações” levaram à suspensão do apresentador. Ao jornal The Sun, ele disse ter informado à rede que a pessoa tinha 20 anos e que a troca de fotos acontecia há três.
A mãe indagou quem estaria pagando o advogado, e sugeriu que o apresentador usou sua influência sobre a pessoa envolvida para convencer a se dissociar da denúncia.
Mancha para o apresentador e para a BBC
Mesmo que as fotos não tenham sido trocadas quando a pessoa era menor, ou que não haja provas disso, o caso é uma mancha para a carreira do profissional envolvido e para a própria BBC, que vive um momento delicado em seus 100 anos de história.
Por ser uma emissora pública que depende de financiamento dos contribuintes, rumores de má conduta de seus profissionais (como sugestões de que o apresentador tenha enviado fotos explícitas dele próprio feitas dentro do local de trabalho) – colocam em dúvida o rigor esperado da empresa com a sua equipe.
No domingo o governo fez alguma pressão para que o caso fosse tratado “com seriedade”, mas desde ontem adotou posição mais cautelosa, sem crucificar a BBC e pedindo ‘tempo’ para que os fatos sejam esclarecidos. Esse tem sido o discurso de ministros e secretários, indagados sobre o episódio a cada entrevista.
O assunto tomou conta da mídia e dos círculos políticos, fazendo o primeiro-ministro, Rishi Sunak, se manifestar pedindo apuração rápida.
Por coincidência, o diretor-geral da BBC, Tim Davie, tinha uma entrevista coletiva previamente agendada para esta terça-feira, com o objetivo de apresentar o relatório anual da corporação.
Ele disse aos repórteres que o apresentador só soube da denúncia no dia 6 de julho, quando a rede foi contactada pelo The Sun, colocando em questão o protocolo interno para lidar com denúncias capazes de abalar a reputação da corporação.
Davie admitiu que ‘lições foram aprendidas’, e que a BBC avaliaria se os protocolos devem ser revistos.
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