Londres – Os italianos encontraram uma forma original e eficiente de protestar contra a absolvição de um homem de 67 anos que tocou as partes íntimas de uma jovem de 17: mostrar que o entendimento de um tribunal de Roma sobre o tempo necessário para o assédio ser considerado crime é inaceitável.
O acusado é zelador da escola onde a jovem estuda, e em abril de 2022 colocou a mão dentro de sua roupa de baixo na frente de outros estudantes, justificando depois como sendo “uma brincadeira”.
Devido à justificativa para a absolvição – o fato de o toque ter durado apenas entre 5 e 10 segundos e por isso não configuraria intenção libidinosa pela lei criminal – revoltou os italianos, que iniciaram um movimento nas redes com postagens em alusão aos 10 segundos.
Anônimos e famosos contra o assédio
De anônimos a famosos, usuários passaram a postar vídeos em que aparecem tocando a si próprios ou sendo apalpados enquanto relógios vão marcando o tempo – evidenciando que 10 segundos é uma eternidade para quem sofre o abuso.
A ideia foi do ator Paolo Camilli, da série White Lotus, que usou o Instagram e o TikTok para manifestar sua indignação com a justificativa do tempo.
A partir daí a moda pegou, com outros famosos como a influenciadora Chiara Ferragni, que tem 29,4 milhões de seguidores no Instagram, também postando vídeos semelhantes.
“Toque leve”
A sentença proferida por três desembargadores é abertamente favorável ao homem. Além de relativizar o tempo em que o ato durou, os magistrados escreveram também que foi “quase um toque leve”, e que a ação poderia ter sido uma manobra desastrada do réu”, que só percebeu o desconforto quando a jovem reclamou do caráter inoportuno do gesto.
A mobilização nas redes com as hashtags #10secondi e #palpatabreve serviu para colocar em pauta a normalização do assédio sexual na Itália e o risco de decisões como essas fazerem com que mulheres abusadas não denunciem os casos.
A estudante, que não foi identificada, disse ao jornal Corriere dela Sera que se sentiu duplamente traída – pela escola, que não a apoiou, e pelo sistema de justiça.
Mas a justiça acabou sendo feita pelas redes sociais, condenando o abusador e a Corte que tomou a decisão de inocentar o zelador, recusando o pedido da promotoria de uma pena de três anos e meio de prisão.
Alguns vídeos contaram com a participação especial de homens protagonizando abusadores, como este em que o casal contracena para denunciar o absurdo da sentença.
#Tweet muto (ma non troppo) #10secondi pic.twitter.com/PkY9l6kaFa
— M@rio (@roar_2017_) July 12, 2023
Jornalista da Itália venceu caso de assédio
Uma jornalista italiana teve mais sorte em sua demanda judicial.
Em dezembro de 2022, um torcedor foi condenado a pagar multa e a uma pena de prisão suspensa por ter atacado a repórter esportiva Greta Beccaglia durante uma transmissão ao vivo ao fim de uma partida na Toscana.
O homem foi proibido de frequentar estádios por três anos.
Leia também | Itália: repórter de TV ganha indenização de torcedor que a apalpou em transmissão ao vivo