Londres – A justiça italiana quebrou o padrão de impunidade de crimes contra jornalistas, determinando indenizações que totalizam 25 mil euros (R$ 137 mil) e pena de 18 meses de prisão, suspensa por cinco anos, a um torcedor que atacou a repórter de TV Greta Beccaglia durante uma transmissão ao vivo. 

O juiz concedeu a suspensão da prisão do agressor, o dono de restaurante Andrea Serrani, condicionada à realização de cursos sobre prevenção, assistência psicológica e recuperação para indivíduos condenados por violência sexual.

Ele também foi suspenso dos estádios por três anos. 

Agressão à jornalista ao vivo 

Beccaglia, da TV Toscana, foi apalpada por Serrani enquanto fazia uma passagem ao vivo no Estádio Castellani entre o Fiorentina e o Empoli, na cidade de mesmo nome, em 27 de novembro de 2021. 

Ela comentava o resultado do jogo quando Serrani, de 46 anos, se aproximou, deu um tapa em seu traseiro e continuou caminhando.

Greta protestou: “Desculpe, você não pode fazer isso”. A gravação se tornou viral. 

O torcedor não foi o único criticado pela agressão à jornalista. O apresentador que ancorava a transmissão, Giorgio Micheletti,  foi suspenso da TV Toscana por ter tentado minimizar o incidente. Ele foi acusado de não apoiar a repórter.

Um mês depois, Micheletti anunciou a decisão de deixar o jornalismo esportivo na TV, embora assegurando que os acontecimentos não influenciaram a decisão. 

Com a sentença proferida no dia 20 de dezembro, Greta Beccaglia receberá uma indenização de 15 mil euros (R$ 82 mil).

O responsável pela agressão à jornalista terá também que pagar 10 mil euros (R$ 54 mil) divididos entre a Ordem dos Jornalistas e o sindicato nacional de jornalistas italiano (FNSI), que havia entrado com uma ação civil.

Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Beccaglia disse que a decisão era “uma vitória para todas as mulheres”. 

“Ninguém tem o direito de violar nossos direitos, de considerar nosso corpo um troféu, ninguém deve nos humilhar, nos denegrir, nos considerar um objeto. Ninguém.”

Depois da agressão, que aconteceu dois dias após o Dia Internacional para Eliminar a Violência contra as Mulheres, jogadores de futebol entraram em campo no Estádio Castellani com marcas vermelhas em seus rostos para destacar o flagelo da violência doméstica, como parte da campanha “Dê cartão vermelho à violência contra as mulheres”.

A Federação Europeia de Jornalistas disse esperar que a decisão judicial iniba ataques sexuais a jornalistas.  

A Federazione Nazionale Stampa Italiana (FNSI),  declarou: “Convidamos todos os nossos colegas a sempre denunciar qualquer tentativa de intimidação, ameaça ou agressão porque cada um desses episódios é um ataque não apenas em nível individual, mas contra todos os jornalistas”.

Os secretários gerais da IFJ e da EFJ, Anthony Bellanger e Ricardo Guterrez, comemoraram a sentença mas chamaram a atenção para o assédio:

“A situação para milhares de jornalistas, especialmente mulheres, ainda é muito insegura e instamos a mídia a desenvolver políticas robustas para lidar adequadamente com a violência no trabalho, adotando uma abordagem de tolerância zero à violência baseada em gênero”, disseram em nota. 

Apesar de vitoriosa na justiça, Greta Beccaglia disse continuar recebendo ameaças online mais de um ano depois da agressão, com pessoas alegando que o torcedor estava apenas brincando. 

A jornalista disse que doará a indenização a organizações que defendem direitos das mulheres.