Londres – Com a possibilidade cada vez mais concreta de Julian Assange ser extraditado para os EUA, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) iniciou nesta segunda-feira (17) uma campanha de uma semana em Washington para pressionar o governo americano a desistir dos processos contra o fundador do Wikileaks, preso em Londres. 

A campanha foi iniciada com uma “manifestação móvel” para mobilizar o apoio público a aderir à campanha #FreeAssange e sensibilizar congressistas. 

Parando na Casa Branca, no Departamento de Justiça, no Departamento de Estado, no prédio do Capitólio e nas embaixadas da Austrália (país natal de Assange) e do Reino Unido, um caminhão exibiu mensagens destacando o perigo que as acusações feitas a Assange e uma possível extradição para julgamento nos EUA  representam para o jornalismo e para o direito do público a ser informado. 

Apenas uma etapa para Assange ser extraditado

Julian Assange passou quase sete anos asilado na embaixada do Equador em Londres, e há quatro está preso na penitenciária de Belmarsh, enquanto a defesa tenta impedir a extradição pedida por Washington. 

Todos os recursos foram esgotados. Falta apenas as uma etapa na Corte britânica para que ele seja extraditado.  

Caso isso aconteça, Assange pode ser condenado a até 175 anos de prisão sob 18 acusações relacionadas à publicação do WikiLeaks em 2010 de centenas de milhares de documentos confidenciais vazados, incluindo evidências de crimes de guerra e violações de direitos humanos.

Segundo a RSF, ele seria o primeiro editor processado sob a Lei de Espionagem, que impede a defesa do interesse público e traz consequências para a liberdade de imprensa

“Isso estabeleceria um precedente perigoso que poderia ser aplicado a qualquer jornalista, editor ou fonte em qualquer lugar do mundo, e teria um profundo efeito inibidor nas reportagens de interesse público.

O caminhão exibiu um clipe do vídeo Collateral Murder, tornado público através do WikiLeaks, expondo um ataque ar-terra de um helicóptero militar Apache dos EUA em um subúrbio de Bagdá. Mais de 10 civis morreram, incluindo dois jornalistas da Reuters.

“Este vídeo lembra a Washington que Assange está sendo processado por publicar informações de interesse público vital, que informaram o jornalismo em todo o mundo”, diz a RSF. 

As informações divulgadas pelo site Wikileaks foram reproduzidas pela mídia internacional. 

Contatos com governo, legisladores e influenciadores

A diretora global de campanhas da RSF,  Rebecca Vincent está em Washington para comandar o esforço, junto com a equipe da organização nos EUA.

Britânica, Vincent tem estado à frente de iniciativas em defesa do fundador do Wikileaks desde que ele foi preso em Londres. 

“Com a possibilidade iminente de Julian Assange ser extraditado, estamos fazendo soar o alarme. Apesar dos 12 anos de perseguição que já suportou, o destino dele não é inevitável.

Os legisladores dos EUA ainda têm o poder e a oportunidade de fazer a diferença neste caso e defender a proteção do jornalismo e da liberdade de imprensa. Nosso apelo ao governo Biden é mais urgente do que nunca: retire as acusações, encerre este caso e liberte Assange.”

Ao longo da semana serão feitas reuniões com legisladores, funcionários do governo e outras partes interessadas com capacidade de influência sobre o governo e que poderiam ajudar a convencer a administração Biden a desistir de extraditar o fundador do Wikileaks.