Londres – A fuga de anunciantes do Twitter após a aquisição da plataforma por Elon Musk não foi passageira, como admitiu o próprio empresário ao informar que a receita de publicidade caiu pela metade, na mesma semana em que anunciou um novo empreendimento em inteligência artificial (IA).
Em março, o empresário havia sinalizado com a possibilidade de fluxo de caixa positivo no segundo trimestre de 2023, resultado da volta de anunciantes, mas não foi o que aconteceu. Com menos entradas e com despesas aumentadas por problemas como indenizações a ex-funcionários, o resultado é o fluxo negativo.
A contratação da CEO Linda Yaccarino, que comandava a área de publicidade da NBC Universal, foi um indício de que resgatar as receitas perdidas era prioridade para Elon Musk, mas ela ainda não teve tempo de mostrar resultados – se é que conseguirá, diante do descrédito cada vez maior do Twitter.
O prejuízo do Twitter sob Musk
A informação sobre o fluxo de caixa foi revelada no Twitter em uma resposta de Musk a um usuário que sugeria ideias para a rede social. Mas ele não considerou as sugestões, sob a justificativa da situação financeira:
“Precisamos de chegar a um fluxo de caixa positivo antes de podermos nos dar o luxo de fazer qualquer outra coisa”.
Isso pode demorar. Segundo a empresa de pesquisa e análise Insider Intelligence, o faturamento do Twitter em 2023 deve ser inferior a US$ 3 bilhões, um terço a menos do que em 2022, ano em que Elon Musk comprou a rede social por US$ 44 bilhões.
Aposta de Musk na IA
Ao mesmo tempo, Musk segue empreendendo. Tendo voltado a ocupar o posto de pessoa mais rica do mundo, o dono da Tesla, da Starlink e de outras companhias de tecnologia anunciou seu novo negócio, a xAI.
O objetivo da startup de inteligência artificial, em destaque em seu site, é pouco modesto, seguindo o padrão Elon Musk: “entender o universo”.
Announcing formation of @xAI to understand reality
— Elon Musk (@elonmusk) July 12, 2023
Em uma conversa no Twitter Spaces, ele disse que os planos são de construir uma inteligência artificial mais curiosa e mais verdadeira e confiável, provocando os que saíram na frente, OpenAI e Google.
Elon Musk foi um dos conselheiros iniciais da OpenAI, que criou o popular ChatGPT. Mas parece não ter gostado dos rumos tomados pela empresa. Em fevereiro, ele disse que o mundo precisava de um “TrustGPT”.
A nova empresa nasce com profissionais oriundos da OpenAI e do Google, e de alguma forma associada ao Twitter.
O site da xAI diz que é “uma empresa separada” da X Corp de Musk, mas que “trabalhará em estreita colaboração com X [como o empresário passou a chamar oTwitter], Tesla e outras empresas para progredir em nossa missão”.
Segundo Musk, os tweets serão usados para treinar sua IA. Essa pode ser uma vantagem competitiva pois as outras ferramentas estão enfrentando processos judiciais pelo uso de conteúdo protegido por direitos autorais para alimentar os modelos de linguagem.
Na semana passada, a OpenAI assinou um contrato com agência de notícias Associated Press para remunerá-la pelo uso do conteúdo jornalístico.
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Musk era reticente com inteligência artificial
Musk cedeu aos apelos do mercado ao tentar disputar uma fatia do negócio de inteligência artificial. Ele foi um dos que assinou uma carta no início deste ano pedindo uma pausa de seis meses no desenvolvimento de ferramentas com IA.
Como não houve a pausa, ele segue agora com sua própria empresa, e minimiza os riscos, acenando com uma IA mais confiável.
“Tudo indica que a AGI (inteligência artificial geral) vai acontecer, o que deixa duas opções: ser espectador ou participante. Como espectador, não se pode influenciar muito o resultado.”
A superinteligência, estágio em que a IA pode ser mais inteligente do que os humanos, está a seis anos de distância, na opinião de Elon Musk.
A ameaça de processar a Meta, feita após o lançamento do concorrente Threads, não foi ainda adiante e Musk não falou mais do assunto.
Nesta segunda-feira ele voltou a tuitar sobre a segurança na plataforma, compartilhando uma postagem da conta Twitter Safety afirmando que 99% dos usuários e anunciantes acham que o conteúdo do Twitter é saudável, com base em acompanhamento feito pela plataforma de monitoramento Sprinklr.
No entanto, o levantamento não contabiliza a opinião dos anunciantes que não estão mais no Twitter – e trazê-los de volta é o maior desafio para o futuro da rede social, cujo valor de mercado despencou este ano.
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