Londres – Cinco jornalistas foram detidos e um ficou na prisão na Turquia depois de uma batida policial em suas casas em represália a um tweet publicado por um deles.
Firat Can Aslan, repórter da Agência da Mesopotâmia, compartilhou no Twitter um decreto oficial com nomeações de um promotor e de uma juíza, casados, que atuam no caso de jornalistas curdos presos há 13 meses por “atividades terroristas”.
Após a publicação, o jornalista foi capturado em casa, em Ancara, e ficou preso, sob a acusação de “alvejar pessoas que participam da luta contra o terrorismo”, ao expor seus nomes. Os outros que compartilharam o post foram liberados sob fiança.
Jornalistas curdos na prisão na Turquia
O governo da Turquia exerce uma pressão implacável sobre os jornalistas curdos. Antes das eleições que reelegeram o presidente Recep Tayyp Erdogan, em maio, pelo menos 10 profissionais de imprensa foram para a prisão, em uma operação na madrugada que também levou para a cadeia ativistas e opositores do mandatário.
Durante o ano passado, várias operações semelhantes aconteceram. Uma das mais notórias, em junho, teve jornalistas de Diyrbakir como alvo, cidade de maioria curda no sudoeste da Turquia.
Acusados de atividades terroristas, os jornalistas permaneceram em prisão preventiva por mais de um ano. A primeira audiência só foi realizada no mês passado, quando os 16 ganharam liberdade condicional, mas sem se livrar dos processos.
No tribunal para onde foi levado, Firat Can Arslan rejeitou as acusações de colocar em risco a vida de pessoas que lutam contra o terrorismo e disse que apenas compartilhou o decreto público com nomeações do casal Seda e Mehmet Karababa.
13 ay boyunca tutuklu kalan gazetecilerin iddianamesini hazırlayan savcı Mehmet Karababa ve mahkeme heyetindeki eşi üye hakim Seda Karababa’nın görev yerlerinin değiştirildiği ortaya çıktı!
11 Temmuz'daki duruşmada evli oldukları öğrenilen Karababa çifti, Vezirköprü'ye atandı… pic.twitter.com/fDTLcqqrfN
— Fırat Arslan (@firatcanarslan) July 18, 2023
Por terem compartilhado o post, o Ministério Público ordenou também buscas nas residências de Delal Akyüz, repórter da mesma agência de notícias de Firat; da editora do jornal T24, Sibel Yukler; do editor do projeto independente Bianet, Evrim Kepenek; e da jornalista Evrim Deniz.
As operações policiais foram realizadas em Istambul, Izmir e Ancara. Os profissionais tiveram as casas revistadas e foram levados para interrogatório.
Segundo a mídia local turca, eles negaram ter tido a intenção de colocar vidas em risco e sustentaram que o post de Firat Can Arslan não continha informações confidenciais, limitando-se a reproduzir uma decisão pública do Conselho de Juízes e Promotores do país.
Oposição de Erdogan aos curdos
Erdogan está no poder desde 2003, quando virou primeiro-ministro, tendo chegado à presidência em 2014 e nela se mantido desde então.
A oposição aos curdos, que representam uma minoria de cerca de 20% da população da Turquia, faz parte da agenda do atual governante.
Segundo organizações internacionais de liberdade de imprensa, apenas no ano de 2002 mais de 50 jornalistas curdos foram detidos ou presos preventivamente em decorrência de investigações sobre atividades terroristas.
Num ranking de 180 países, a Turquia caiu da 149º para a 165º posição no Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras em 2023.