Londres – O cancelamento de um novo programa do jornalista italiano antimáfia Roberto Saviano, anunciado pela RAI há dois dias, provocou uma onda de protestos por acusações de interferência política do governo da primeira-ministra Giorgia Meloni na emissora pública de TV.
Saviano é conhecido internacionalmente por seu best-seller Gomorra, denunciando atividades da máfia, e se tornou um ativista contra o crime organizado. Ele vive sob escolta policial desde 2006.
Cinco dias antes de o cancelamento ser anunciado, o jornalista descreveu em um tweet o vice-presidente italiano do Conselho de Ministros Matteo Salvini (um dos expoentes da extrema direita no país) como “ministro do submundo”.
Jornalista antimáfia já tinha gravado episódios
Segundo a Federação Internacional de Jornalistas, a pressão sobre a RAI partiu do governo de extrema-direita, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni.
Quatro episódios de “Insider, Face to Face With Crime” já haviam sido gravados e estavam programados para ir ao ar em novembro pela RAI, apresentando entrevistas com ativistas e jornalistas perseguidos pelo crime organizado.
Mas após o tweet sobre Matteo Salvini, um dos partidos da coalizão, o Forza Italia, apresentou um inquérito à comissão de supervisão da RAI solicitando o cancelamento da série. Foi apoiado por outros dois partidos políticos da coalizão, Fratelli d’Italia e Lega
Em 25 de julho, o novo chefe-executivo da emissora, nomeado pelo governo, Roberto Sergio, anunciou que o programa havia sido cancelado.
Segundo a IFJ, Sergio negou que a mudança tenha motivação política:
“A escolha de cancelar o programa de Saviano é corporativa”.
A direção da RAI justificou a decisão sob o argumento de “incompatibilidade com o Código de Ética do serviço público” italiano.
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Mas Saviano disse que a medida foi um sinal da erosão da liberdade de expressão na Itália, em entrevista ao jornal The Guardian:
“Se uma pessoa critica um ministro, um programa de TV é cancelado, mesmo que seja um programa de TV antimáfia (…)
A Europa deve temer o que está acontecendo na Itália, porque pode acontecer em breve também no resto da região”.
A primeira-ministra Meloni e Matteo Salvini têm um processo judicial por calúnia e difamação em curso contra o jornalista por declarações feitas por ele em 2020 a respeito do uso político do drama dos refugiados pela extrema-direita.
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