Londres – O desfecho foi o esperado: um dos mais bem-sucedidos grupos de mídia digital, o Vice Media, acabou vendido aos seus credores por US$ 350 milhões, uma fração dos US$ 5,7 bilhões que chegou a valer em 2017.
Os novos donos são o Fortress Investment Group, o Monroe Capital e o Soros Fund Management, do mega investidor George Soros.
O grupo de mídia fundado no Canadá em 1994, que produz conteúdo em 25 idiomas, havia decretado falência em maio, após desistir de encontrar um comprador. A transferência do controle acionário para os credores era o cenário mais provável.
Venda do Vice Media é ‘nova fase’
O comunicado anunciando a operação, na segunda-feira (31/7), apresenta a venda como “uma nova fase” do Vice Media.
“Isso marca o início de um novo capítulo empolgante para o Vice Group, disseram os co-CEOs da empresa, Bruce Dixon e Hozefa Lokhandwala.
“Com o apoio do nosso grupo de investidores, agora teremos recursos para fortalecer nossos negócios, nossas parcerias e nossa criação de conteúdo em todas as plataformas”.
Os fundos divulgaram uma declaração conjunta demonstrando interesse em investir no crescimento do Vice Group:
“Estamos muito satisfeitos em concluir a aquisição […] e entusiasmados em potencializar as conquistas de uma das marcas mais icônicas de notícias e entretenimento.”
O valor reduzido em relação às avaliações anteriores explica-se pela mudança no cenário da mídia digital e pela enorme dívida do grupo, que será assumida pelos novos donos.
Apenas a dívida com o Fortress registrada pela Vice Media no pedido de falência era de US$ 474,6 milhões.
Havia também débitos de US$ 20 milhões com os fundadores da Pulse Films, adquirida em 2022; US$ 10 milhões com empresa de consultoria de tecnologia WiPro; US$ 3,8 milhõescom CNN, por serviços de produção de terceiros; US$ 6 milhões com o Antenna Group, que distribui conteúdo da Vice em partes da Europa e US$ 539.732 com empresa de energia ConEdison.
Na nova fase, parte da equipe antiga de liderança está sendo dispensada.
Um dia após a venda, o Vice Group anunciou a partida de importantes executivos: Katie Drummond, vice-presidente sênior de notícias e entretenimento global; Jason Koebler, editor-chefe do Motherboard (site de ciência, tecnologia e mídia) e Emanuel Maiberg, editor executivo do Motherboard, e Matthew Schnipper, diretor sênior de operações globais de notícias.
As dificuldades da mídia digital nativa
O Vice é mais um dos grupos surgidos na época em que a mídia digital nativa desafiava empresas de notícias e de entretenimento tradicionais que foi engolido por dificuldades financeiras.
No início deste ano, a Vox cortou 7% da equipe, ao demitir 130 pessoas. Em abril, a Insider demitiu parte de sua equipe e o BuzzFeed fechou a área de notícias.
Com a venda para os credores, o Vice acabou se livrando de investidores que fizeram grandes aportes e pressionavam pelo retorno financeiro esperado, como A&E Networks, Disney, Fox e a empresa de private equity TPG.
E já fez demissões.
A história do Vice Media
O Vice Media começou em 1994 como uma publicação alternativa gratuita no Canadá. O grupo tem mais de 10 sites de notícias, TV a cabo, agência de publicidade, podcasts, estúdio de cinema, gravadora e até um bar em Londres.
Nos tempos áureos, chegou ter 3 mil funcionários.
Em 2017, a empresa tinha sido avaliada em US$ 5,7 bilhões, mas o valor teria caído para menos de US$ 1 bilhão, de acordo com reportagens do início deste ano sobre a busca de um comprador. E acabou saindo para os credores por bem menos do que a estimativa.
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