Londres – Vencedora do Prêmio Coragem no Jornalismo de 2022 da International Women’s Media Foundation (IWMF), a jornalista ucraniana Victoria Roshchyna está desaparecida desde o dia 3 de agosto e teria sido presa pela Rússia. 

Segundo comunicado emitido pela organização nesta quinta-feira (5), ela viajou para fazer reportagens em um território ocupado na Ucrânia. O governo ucraniano confirmou que ela estaria presa. 

“Estamos extremamente preocupados com a segurança da jornalista e pedimos atenção internacional para esta situação”, diz a nota. 

Jornalista já foi presa por forças da Rússia 

Victoria Roshchyna, 26 anos, é uma jornalista freelance que colabora para veículos locais e internacionais como Ukrayinska Pravda, Hromadske e Radio Free Europe.

Ao longo da sua carreira ela cobriu temas complexos – e muitas vezes perigosos – incluindo crimes, julgamentos e violações dos direitos humanos.

No início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em março de 2022, a jornalista foi presa por forças do exército da Rússia e permaneceu detida durante 10 dias em Berdyansk.

Em entrevista ao jornal americano Daily Beast, o pai da jornalista, Vladimir Roshchyn, disse estar “com o coração partido”, e que havia recomendado que a filha não se expusesse tanto após a primeira prisão.

“Mas ela foi firme- não consegue parar de cobrir as notícias desta guerra nos territórios ocupados para seus leitores”, disse. 

Desta vez a jornalista tinha partido da Polônia para territórios ocupados na Ucrânia passando pela Rússia no dia 27 de julho.

Em 3 de agosto relatou à família que tinha sido submetida a verificações na fronteira, sem especificar de qual país. Em 12 de agosto a família notificou o governo ucraniano sobre o desaparecimento.

O pai disse ao jornal americano que a Ucrânia confirmou que ela teria sido capturada pela Rússia, como mais um dos prisioneiros chamados de “congelados”, por não haver notícias oficiais sobre eles. 

Risco para profissionais em territórios ocupados na Ucrânia 

Victoria Roshchyna não é a única capturada em territórios ocupados. O caso mais longo é o de Dmytro Khyliuk, um jornalista da Ucrânia sequestrado por soldados russos em março de 2022.

As autoridades russas sempre negaram oficialmente sua captura, mas a organização Repórteres Sem Fronteiras afirmou em julho deste ano ter encontrado provas de sua transferência para uma prisão a leste de Moscou.

Outro caso é o da jornalista aposentada e integrante do Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia (NUJU) Iryna Levchenko.

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas, a jornalista foi presa de forma ilegal pela Rússia em junho passado na cidade de Melitopol, em Zaporizhizhia, região no sudeste do país tomada por tropas russas, junto com o marido. 

“A censura sistémica da Rússia à liberdade de expressão não pode passar despercebida ou continuar descontrolada”, diz a nota da IWMF. 

“O jornalismo livre e independente é essencial para informar o público global sobre as realidades da guerra da Rússia contra a Ucrânia.”

A entidade pediu que organizações de liberdade de imprensa e direitos humanos se juntem para exigir informações sobre o paradeiro de Roshchyna e “apoiem os jornalistas que continuam a trazer a verdade à luz durante a invasão da Ucrânia pela Rússia”.

Mulheres jornalistas no alvo da Rússia 

Há duas semanas, 24 organizações de imprensa e direitos humanos assinaram uma declaração conjunta liderada pelo European Centre for Press&Media Freedoom (ECPMF) contra “os crimes de guerra cometidos pela Federação Russa contra jornalistas da Ucrânia.

O documento destaca o assassinato de pelo menos cinco mulheres jornalistas desde o início da invasão, em fevereiro de 2022.

“As forças russas bombardearam e mataram as jornalistas Oksana Baulina, Oksana Haidar , Oleksandra Kuvshynova, Victoria Amelina e Vira Hyrych .

A fotojornalista Anastasia Taylor-Lind e a repórter Yuliya Kiriyenko ficaram feridas em ataques com mísseis. Yevhenia Kytayiva e Anna Kudryavtseva também foram alvo de mísseis russos, mas conseguiram sair ilesas. “

As organizações apontaram também os casos de jornalistas intimidadas por prisões, desaparecimentos forçados e processos penais direcionados a elas e a familiares.

“Jornalistas como Iryna Levchenko , Iryna Danylovych , Iryna Dubchenko , Lutfiye Zudiyeva e Viktoria Roshchina foram presas injustamente. O pai da jornalista ucraniana Svitlana Zalizetska foi detido em retaliação pelo trabalho da filha.”

Jornalista que invadiu estúdio condenada à revelia 

Nesta quarta-feira (4), a jornalista russa Marina Ovsyannikova foi condenada à revelia a oito anos e meio de cadeia, mas não ficará presa, pois está fora do país. 

Em março de 2022, ela interrompeu com um cartaz uma transmissão da rede de TV estatal onde trabalhava para protestar contra a guerra e contra a propaganda russa. 

Desde fevereiro deste ano ela está exilada na França, para onde conseguiu escapar com a ajuda da organização Repórteres Sem Fronteiras.