Londres – Correspondentes de grandes veículos de imprensa europeus que cobrem a guerra da Ucrânia a partir de Moscou e seus efeitos sobre a política e a economia da Rússia estão sendo obrigados a deixar o país depois de terem a renovação de seus vistos de trabalho e permanência negados. 

Nesta quarta-feira, o site de notícias Politico informou que Eva Hartog, jornalista baseada em Moscou há mais de dez anos, recebeu ordem de sair da Rússia em um prazo de seis dias após ter seu pedido de renovação recusado, sem explicações sobre os motivos. 

O mesmo aconteceu com Anna-Lena Laurén, uma premiada correspondente dos jornais Dagens Nyheter (da Suécia) e Hufvudstadsbladet (da Finlândia), que trabalhava na Rússia desde 2016 e também não teve o visto renovado. 

Novas exigências para correspondentes na Rússia 

Segundo o Politico, os correspondentes estrangeiros agora têm que solicitar visto e credenciamento de imprensa ao governo da Rússia cada três meses. Antes da invasão da Ucrânia, isso era feito uma vez por ano.

Logo após o início da guerra, em fevereiro de 2022, o presidente Vladimir Putin sancionou uma lei determinando punição severa para a divulgação do que o governo considerasse “fake news”, incluindo chamar a guerra de guerra e não de “operação especial”.

Temendo colocar seus profissionais sob risco, vários veículos de imprensa internacionais paralisaram suas coberturas, mas aos poucos as atividades foram retomadas.

A lei foi aplicada mais a jornalistas, ativistas, cidadãos e blogueiros russos do que a correspondentes estrangeiros. 

Mas em março deste ano, o correspondente do Wall Street Journal na Rússia, Evan Gershkovich, foi preso e aguarda julgamento sob acusação de espionagem para o seu país. 

Anna-Lena Laurén recebeu a notícia da recusa de seu visto esta semana, mas já tinha deixado o país preventivamente em abril, por temer o que viria acontecer. 

A decisão foi tomada depois que a embaixada russa em Estocolmo a chamou de mentirosa em relação a um artigo sobre Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores russo. 

Em uma entrevista, ela disse que “a Rússia passou de uma semi-ditadura para uma ditadura total”, e por isso quer limitar o número de jornalistas, tanto russos quanto estrangeiros.

Laurén avalia que a guerra é um desastre também para a Rússia, que está em uma fase de se fechar, rejeitando cobertura crítica por parte da mídia. 

Correspondente do Politico deixou Moscou em segurança 

O editor-chefe do Politico Europe, Jamal Anderlini, disse em um comunicado que Eva Hartog, cidadã holandesa com ascendência russa, já deixou Moscou em segurança e não corre riscos. E protestou contra a medida: 

“Estamos extremamente desapontados com essas ações, mas elas não diminuem o compromisso inabalável do Politico de cobrir atividades do governo russo e sua guerra na Ucrânia. 

Esperamos que Eva e o Politico retornem a Moscou em um futuro próximo para continuar nossa cobertura factual e apartidária da política russa.”

O jornal relacionou a recusa recente de vistos a correspondentes à última rodada de sanções da União Europeia contra cidadãos russos, que colocou em uma lista negra vários blogueiros de guerra e um jornalista de uma rede estatal de TV. 

Perseguição a correspondentes antes e depois da guerra 

Mas a intolerância com a imprensa estrangeira começou antes da guerra. Em 2021, antes da invasão, a Rússia expulsou o correspondente holandês Tom Vennick e a jornalista britânica Sarah Rainsford, da BBC. 

Depois da invasão, o país passou a  reagir mais diretamente a sanções impostas por governos estrangeiros. 

Em maio de 2022, o escritório da emissora pública canadense CBC/Radio Canada foi fechado em Moscou e seus profissionais convidados a deixar o país. 

Dezenas de jornalistas britânicos, alemães e neozelandeses estão entre os proibidos de entrar na Rússia. 

No entanto, do outro lado da guerra correspondentes também enfrentam barreiras. Em dezembro do ano passado, a Ucrânia cassou a credencial da correspondente dinamarquesa da rede pública DR, Matilda Kimer, acusando-a de cobertura “tendenciosa” e de propaganda a favor da Rússia. 

Organizações de liberdade de imprensa têm feito gestões sobre o governo de Volodymyr Zelensky para rever medidas que restringem o trabalho de profissionais de mídia, incluindo suspensão de credenciais.