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TikTok ‘bombardeia’ jovens com vídeos promovendo anabolizantes, diz relatório

Vídeo de fisiculturista promovendo anabolizantes no TikTok

Reprodução

Londres – Um novo relatório da organização não-governamental britânica Center for Countering Digital Hate (CCDH), intitulado “TikTok’s Toxic Trade”, revelou uma ‘epidemia’ de vídeos no TikTok promovendo e glorificando drogas para musculação (esteroides anabolizantes), que podem ser mortais para os usuários. 

Usando as próprias ferramentas da rede social, os pesquisadores descobriram que conteúdos postados com hashtags promovendo essas drogas foram vistos até 587 milhões de vezes por usuários dos EUA nos últimos três anos, sendo que 420 milhões de visualizações foram por jovens entre 18 e 24 anos, a maioria do sexo masculino. 

No Reino Unido, jovens abaixo de 24 anos assistiram a esses vídeos 89 milhões de vezes no mesmo período. A conta não inclui menores de idade, pois o TikTok não fornece informações sobre visualizações relativas a eles. 

Vídeos sobre anabolizantes no TikTok podem ser vistos no Brasil 

O Center for Countering Digital Hate dedica-se a combater desinformação e ódio na internet e nas redes sociais. A ONG está sendo processada pelo Twitter por um relatório apontando aumento de conteúdo de ódio desde a aquisição da plataforma por Elon Musk

Em seu novo relatório, o CCDH não mapeia o acesso aos vídeos a partir de outros países, mas eles podem também estar sendo vistos em larga escala no Brasil, já que as redes sociais não têm fronteiras e o país tem um problema histórico de consumo de anabolizantes. 

No ano passado, o CCDH mostrou que meninas de apenas 13 anos estavam sendo bombardeadas com vídeos do TikTok promovendo automutilação, distúrbios alimentares e normas destrutivas sobre a imagem corporal.

Mas as mulheres não são o único grupo de jovens exposto a conteúdos online potencialmente prejudiciais.

Segundo o centro, os vídeos de fisiculturismo e anabolizantes encontrados no TikTok incentivam físicos irrealistas para os homens, ampliados pela masculinidade tóxica, afetando a autoestima dos que não conseguem atingir a aparência das estrelas e assim levando-os a correr riscos tomando drogas perigosas. 

As substâncias estudadas no relatório “TikTok’s Toxic Trade” incluem esteróides anabólicos-androgênicos (AAS), peptídeos e Moduladores Seletivos do Receptor de Andrógeno (SARMs). O relatório refere-se às três categorias como “drogas semelhantes a esteróides” (SLDs, na sigla em inglês).

De acordo com o estudo, todas oferecem riscos significativos à saúde. Nos EUA, os AAS são ilegais para venda sem receita médica, enquanto peptídeos e SARMs são ilegais para venda como drogas não aprovadas para consumo humano.

No Brasil, segundo o hospital Albert Einstein, a  prescrição de anabolizantes para fins estéticos e “melhora” do desempenho esportivo é proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), “uma vez que não há comprovação de benefícios para a saúde e seu uso pode acarretar sérias complicações”. 

O que diz o relatório TikTok Toxic Trade

  • O TikTok não está conseguindo manter seus próprios padrões de comunidade, que proíbem o conteúdo “mostrar ou promover o uso recreativo de drogas, ou o comércio de drogas”, e proíbem “mostrar ou promover jovens que possuem ou consomem drogas”.
  • No entanto, o estudo identifica 13 sites de fornecedores que alcançaram um público significativo no TikTok – principalmente por meio de marketing de influência.
  • Os pesquisadores da CCDH encontraram 35 contas de influenciadores do TikTok ativamente envolvidas na promoção de SLDs por meio de parcerias com esses 13 sites.
  • Os 35 influenciadores têm um total de 1.797.800 seguidores – e seus vídeos foram ‘curtidos’ quase 63 milhões de vezes no total.
  • Cada um dos influenciadores identificados está potencialmente lucrando financeiramente com a venda de anabolizantes no TikTok. Alguns esquemas de parceria oferecem aos influenciadores até 30% de comissão sobre as vendas dos produtos.
  • O TikTok permitiu que sites que vendem SLDs potencialmente ilegais alcançassem 540 vezes mais seguidores no TikTok por meio de esquemas de afiliados com influenciadores do que poderiam por meio de suas próprias contas do TikTok.
  • Vídeos que promovem anabolizantes frequentemente incentivam e banalizam o abuso de SLDs, muitas vezes minimizando ou ignorando os riscos à saúde.

Os vídeos destacados pela pesquisa 

Entre os exemplos destacados pelo CCDH está um vídeo que orienta os jovens a dizerem aos pais que estão tomando apenas vitaminas. 

reprodução

Outro vídeo procura manipular emocionalmente os usuários menores de idade com um desafio:

“Adolescentes mentiram sobre sua idade apenas para lutar na Segunda Guerra Mundial, mas você está com muito medo de tomar S4RMs [SARMs]”

Em vários casos, os pesquisadores identificaram vídeos em que os usuários afirmaram explicitamente que tinham menos de 18 anos e estavam tomando SLDs para atingir metas de fisiculturismo.

Outros vídeos visam abertamente adolescentes, usando hashtags como #teenfitness e #teenbodybuilding incluídas nas legendas.

Riscos para jovens no TikTok 

Segundo o CCDH,  dois terços dos adolescentes americanos usam o TikTok. 

“Acredita-se que crianças e adolescentes passem em média 90 minutos por dia no aplicativo – o equivalente a assistir a um filme intenso e altamente personalizado”, diz o relatório.

Imran Ahmed, CEO do Center for Countering Digital Hate, criticou o TikTok por “fechar os olhos para a promoção de drogas perigosas e potencialmente ilegais” e por permitir que  jovens sejam bombardeados com conteúdo tóxico que busca promover e lucrar com a dismorfia corporal.

“De acordo com essa ideia deformada de masculinidade, os jovens são convencidos de que são menos propensos a ter sucesso na vida se não tiverem um tipo de corpo dependente de drogas.

TikTok, fornecedores e influenciadores, todos potencialmente lucram com esse conteúdo às custas da autoestima e da saúde dos homens jovens.”

Ahmed salientou a dificuldade de os pais lidarem com o problema, já que “o TikTok abriu um abismo geracional entre as crianças e seus pais”.

“As crianças podem estar no sofá ao lado de seus pais, mas os pais muitas vezes não têm ideia de como as plataformas funcionam, como prejudicam e como intervir ou educar seus filhos sobre os perigos.”

O diretor da ONG cobrou do Congresso dos EUA medidas para garantir que as plataformas sejam totalmente transparentes e possam ser responsabilizadas quando colocarem vidas em risco. 

O TikTok está sendo investigado pelo Congresso dos EUA, em um movimento iniciado por congressistas e apoiado pelo governo devido à sua origem chinesa e risco de espionagem dos usuários. 

O relatório completo “TikTok’s Toxic Trade” pode ser visto aqui.

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