Londres – No mesmo dia em que o CEO do TikTok, Shou Zi Chew, passou mais de cinco horas defendendo a segurança e a independência da plataforma no Senado americano, o governo chinês entrou oficialmente na briga para tentar evitar uma venda forçada, que seria o desejo do governo dos EUA. 

A interferência de países para defender suas empresas é parte do jogo diplomático, mas nesse caso, reforça as percepções de interesses da China sobre os destinos do TikTok, dando combustível para os que dizem temer que autoridades do país tenham acesso aos dados de usuários. 

Em nota, o Ministério do Comércio disse que a venda da rede social de propriedade da ByteDance prejudicaria seriamente a confiança de investidores de todo o mundo, inclusive da China, nos EUA, e que o país “se opõe” firmemente a isso. 

Venda para TikTok continuar nos EUA

A venda seria uma forma de quebrar o principal argumento dos legisladores americanos que desejam banir o TikTok no país devido ao possível acesso da China aos dados de usuários, e uso da rede social para disseminar conteúdo favorável. 

Chew voltou a garantir diante dos congressistas nesta quinta-feira que não há quebra de privacidade, e que o chamado Plano Texas vai dar ainda mais proteção. 

Por este plano, resultado de investimentos de mais de US$ 2 bilhões, o TikTok daria ao governo americano um grau de supervisão superior aos das demais plataformas e implantaria mecanismos adicionais de segurança, como mover todos os dados de usuários para servidores no país. 

Mas a propriedade pela China continua no alvo. Segundo o jornal Financial Times, Pequim nomeou um funcionário do Partido Comunista como diretor da principal entidade chinesa da ByteDance, que tem direito a voto em qualquer operação de divisão ou venda. 

CEO encara cinco horas de sabatina

Antes da audiência, Shou Zi Chew divulgou um vídeo antecipando o que falaria aos congressistas.

Ele apregoou o alcance do TikTok nos EUA e sua importância para a economia, destacando que o aplicativo tem 150 milhões de usuários, dos quais 5 milhões de empresas comerciais. 

Mas o espírito positivo do executivo no vídeo não correspondeu ao clima que ele encontrou na casa legislativa.

A audiência foi aberta pela deputada republicana Cathy McMorris Rodgers, que não mediu palavras: 

“Sua plataforma deve ser banida”. 

Mais adiante, a congressista dirigiu-se ao povo americano em tom catastrofista e ameaçador:

“Ouça isto: o TikTok é uma arma do Partido Comunista Chinês para espionar você, manipular o que você vê e explorar para as gerações futuras”

Bem preparado, o CEO do TikTok manteve a posição já expressada anteriormente, reforçando a presença fora da China e negando acesso aos dados. 

“O TikTok em si não está disponível na China continental, estamos sediados em Los Angeles e Cingapura e temos 7 mil funcionários nos EUA hoje”

 “Não vi nenhuma evidência de que o governo chinês tenha acesso aos dados; eles nunca nos pediram, nós não fornecemos. “

Em sua conta no aplicativo, ele postou um vídeo com um trecho do depoimento em que resume sua defesa. 

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Chew também buscou comparações com as Big Techs americanas, argumentando que os dados coletados pelo TikTok seguem os mesmos padrões daqueles adotados pelos demais players do setor. 

“Nosso compromisso é transferir os dados para os Estados Unidos, para serem armazenados em solo americano por uma empresa americana, supervisionada por pessoal americano. 

Portanto, o risco seria semelhante a qualquer governo indo a uma empresa americana e pedindo dados.”

O líder do app de vídeos curtos teve ainda que responder sobre riscos para crianças, um problema que assombrou o Instagram em 2021. 

A CNN revelou que o CEO do TikTok passou a última semana preparando-se cuidadosamente para encarar os legisladores americanos, com sessões de treinamento e exploração de cenários diversos a fim de garantir uma boa performance. 

No final da sabatina, no entanto, a plataforma partiu para o ataque.

Brooke Oberwetter, porta-voz do TikTok, disse à rede americana que “o Congresso não estava interessado em ouvir as respostas de Chew”, e que o dia “foi dominado pela arrogância política que falhou em reconhecer as soluções reais já em andamento.”

Uma guerra aberta não vai ajudar muito a situação do TikTok nos EUA. A Casa Branca dá sinais de que levará adiante a ideia de uma venda forçada como condição para a rede social não ser banida no país. 

Segundo a CNN, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o TikTok deveria “acabar de uma forma ou de outra”, mas observou que “existem maneiras diferentes de fazer isso”. 

O jornalista Casey Newton, um dos principais analistas da indústria, fez uma avaliação negativa do depoimento de Shou Zi Chow no Congresso. 

Em sua newsletter Plataformer, ele disse que o “TikTok falhou na tentativa de se defender”. 

Para Newton, embora republicanos e democratas estejam distantes na maioria das questões, a maioria deles concorda em um ponto: a propriedade chinesa do TikTok é insustentável.

E o problema do TikTok pode estar apenas começando. Outros países que já tomaram atitudes como banir o aplicativo de telefones oficiais observam o que acontece nos EUA para adotar suas próprias medidas.