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Brasil é um dos 10 países com maior impunidade por assassinatos de jornalistas, diz novo relatório

Dom Philips jornalista inglês morto na Amazônia do Brasil em 2022

Dom Philips, jornalista inglês que morreu na Amazônia em 2022 (Foto: perfil Twitter)

Londres – O Brasil está entre os 10 países que menos punem assassinos de profissionais de imprensa, segundo relatório divulgado neste  Dia Internacional pelo Fim da Impunidade de Crimes Contra Jornalistas, comemorado em 2 de novembro. 

O levantamento foi feito pela organização de liberdade de imprensa Comitê de Proteção a Jornalistas. O estudo afirma que 80% dos crimes praticados em 10 anos, desde que a data foi criada, ficaram sem solução. 

Com 11 assassinatos impunes, o Brasil está em 10º lugar na lista liderada pela Síria, que leva em conta a população total dos países. Em quantidade de assassinatos, o Brasil aparece em 7º, empatado com a Somália. 

Assassinos de jornalistas impunes no mundo

No total, o CPJ registrou 956 homicídios de jornalistas em conexão com seu trabalho desde que começou a monitorá-los, em 1992. Um total de 757 — mais de 79% — ficaram totalmente impunes.

Mas o índice de impunidade divulgado nesta quinta-feira documenta os casos ocorridos entre 1º de setembro de 2013 — o ano em que as Nações Unidas declararam 2 de novembro como o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas — e 31 de agosto de 2023.

Nesse período foram registrados 261 crimes. Ninguém foi responsabilizado em 204 deles— mais de 78% dos casos. 

O índice de impunidade do CPJ inclui países com pelo menos cinco assassinatos não resolvidos nesses 10 anos.

Somente os casos que envolvem impunidade total estão listados; aqueles em que alguns foram condenados, mas outros suspeitos permanecem livres — impunidade parcial — não foram considerados.

A classificação de cada país é calculada em relação ao tamanho de sua população, o que significa que países mais populosos, como México, Índia e o Brasil aparecem mais abaixo na lista, apesar de registrarem um número maior de homicídios de jornalistas. 

Países com mais assassinos de jornalistas impunes

O CPJ destacou o caso do Haiti, que entrou para a lista dos locais onde mais assassinos de jornalistas ficam impunes este ano, como resultado de “uma combinação devastadora de violência de gangues, pobreza crônica, instabilidade política e um sistema judiciário disfuncional”. 

As razões para o fracasso desses países em processar os assassinos de jornalistas variam de conflitos a corrupção, de resistência à aplicação inadequada da lei, e da falta de interesse político em punir aqueles dispostos a matar jornalistas independentes, diz o levantamento.

Há na lista democracias e autocracias, nações em turbulência e aquelas com governos estáveis.

Alguns estão saindo de anos de guerra, mas a desaceleração das hostilidades ainda não acabou com a perseguição aos jornalistas.

E, à medida que a impunidade se consolida, ela sinaliza uma indiferença que provavelmente encorajará futuros homicídios e reduzirá reportagens independentes, pois jornalistas com medo fogem de seus países, diminuem o ritmo de suas reportagens ou abandonam a profissão.”

O que diz o relatório sobre o Brasil 

O CPJ salientou que não houve crimes contra jornalistas este ano no Brasil, mas aponta os riscos para a imprensa, usando como exemplo o caso do britânico Dom Philips. 

  • O Brasil está trabalhando para restabelecer boas relações com a mídia após a derrota do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, com o governo introduzindo medidas como um Observatório de Violência contra Jornalistas no início deste ano.
  • O Brasil não registrou nenhum novo assassinato de jornalistas em 2023, mas os assassinos — que se acredita serem, em sua maioria, grupos criminosos — de 11 jornalistas mortos no país durante o período do índice continuam foragidos.
  • Os assassinatos em 2022 do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia ressaltam os perigos enfrentados pelos repórteres ambientais na região.

Justiça plena apenas para 47 jornalistas assassinados 

Desde 1992, a justiça plena só foi alcançada para 47 jornalistas assassinados — menos de 5%.

O CPJ defende que pressão internacional, jurisdição universal e mudanças nos governos locais podem ter um papel importante para garantir a responsabilização dos culpados.

Um caso destacado pela organização foi o do jornalista peruano Hugo Bustíos Saavedra. Ele foi morto em uma emboscada do exército em 24 de novembro de 1988, enquanto cobria o conflito entre as forças do governo e os guerrilheiros do Sendero Luminoso.

Passaram-se mais de 35 anos até que um Tribunal Penal peruano condenasse Daniel Urresti Elera, então chefe de inteligência do exército na zona onde Bustíos foi morto, a 12 anos de prisão por sua participação no homicídio.

Segundo o CPJ. a condenação de Urresti resultou de uma combinação de mudanças na política interna da liderança peruana, a reabertura de investigações sobre casos de direitos humanos depois que a Suprema Corte do Peru derrubou, em 2002, a lei de anistia de 1995 que protegia os oficiais militares e a defesa contínua por grupos de direitos — incluindo o CPJ — na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Os efeitos nocivos da falta de responsabilização dos autores se estendem para além dos países que se tornaram constantes no índice anual do CPJ, aponta a organização. 

A impunidade de assassinos tem um efeito intimidador sobre jornalistas em todos os lugares, corroendo a liberdade de imprensa e restringindo as reportagens de interesse público.

Nem a Europa, outrora segura para a imprensa, conseguiu romper o ciclo da impunidade de assassinos de jornalistas, com casos em Malta, Eslováquia, Grécia e Holanda. 

“O caso Bustíos pode ter oferecido um vislumbre de esperança, mas também sublinha que o caminho para a justiça pode ser longo e tortuoso e, para a grande maioria dos jornalistas assassinados, ele nunca chega”, aponta o Comitê de Proteção a Jornalistas. 

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