Londres – Listada como a 36ª fatalidade envolvendo jornalistas em quatro semanas da guerra entre o Hamas e Israel, a morte do repórter palestino Mohammed Abu Atab provocou uma reação incomum: o jornalista que narrou o ocorrido com o colega da mesma emissora retirou no ar os equipamentos de proteção em protesto contra a falta de segurança para os profissionais de imprensa na Palestina.
Abu Hatab, da Palestinian TV, administrada pela AP (Autoridade Palestina), perdeu a vida no dia 2 de novembro junto com 11 parentes em um ataque aéreo israelense em sua casa em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza.
Meia hora antes, ele tinha transmitido um boletim diante do hospital Nasser, em Gaza, de onde o repórter Salman Al Bashir narrou sua morte em uma entrada ao vivo falando com a âncora na bancada do telejornal, que também desaba ao ouvir a notícia.
O protesto dos jornalistas da Palestina
Os dois choram, e Al Bashir retira os equipamentos de proteção, alegando serem “apenas slogans”, que não protegem ninguém.
O protesto foi compartilhado na conta de Majed Bayma, observador adjunto do Estado da Palestina junto à ONU, em Nova York, e teve mais de 10 milhões de visualizações apenas no Twitter, além de ter sido reproduzido pela mídia em vários países.
Salman Al-Bashir remove seu equipamento de proteção marcado como PRESS no ar, e diz:
“Não aguentamos mais, estamos exaustos. Somos vítimas. A única diferença entre nós é a hora da morte. Somos mortos um após o outro. E ninguém se preocupa com a catástrofe ou com o crime que sofremos em Gaza.
Nenhuma proteção para ninguém ou alguma coisa. Este equipamento e capacete não protegem nenhum jornalista, são apenas slogans vazios. Somos vítimas, ao vivo no ar. Somos vítimas aguardando a nossa vez de sermos mortos.
Mohammad esteve aqui há meia hora. Agora ele está morto com sua família neste mesmo hospital.”
Mais de um jornalista morto por dia no conflito de Gaza
Das 36 mortes registradas pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) até a sexta-feira (3), quatro foram de jornalistas israelenses, uma de um libanês, o cinegrafista da agência Reuters Issam Abdallah, e as demais de profissionais palestinos.
O CPJ contabiliza em sua lista todas as mortes, incluindo as que ocorreram em bombardeios às residências, enquanto investiga se os jornalistas estavam a serviço no momento dos ataques.
O exército de Israel informou às agências de notícias AFP e Reuters que não tinha como garantir a segurança de profissionais de imprensa em Gaza. No entanto, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) questiona se algumas das mortes foram resultado dos perigos naturais da cobertura de guerra.
Uma investigação da organização de liberdade de imprensa apontou sinais de que os dois ataques que vitimaram Issam Abdallah teriam sido deliberados, visando atingir o grupo de jornalistas que cobria de longe os conflitos na fronteira e teriam sido alvo das forças militares.
A RSF entrou com um pedido de investigação de crimes de guerra contra jornalistas no Tribunal Penal de Haia.
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