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Público de língua russa vai ganhar rede de canais via satélite transmitindo jornalismo independente

Satélite da Eutelsat, operadora que firmou parceria com a Repórteres Sem Fronteiras para transmitir notícias sem a propaganda estatal russa

Satélite da Eutelsat, operadora que firmou parceria com a Repórteres Sem Fronteiras para transmitir notícias confiáveis em russo (foto: divulgação Eutelsat)

Londres – A operadora global de satélites francesa Eutelsat e a organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras anunciaram nesta terça-feira (7) o lançamento de um serviço destinado a fornecer notícias e informações independentes ao público de língua russa, contornando a propaganda estatal. 

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, o jornalismo independente vem sendo gradativamente suprimido no país, bem como o acesso a sites de notícias internacionais e a redes sociais, levando uma significativa parcela da população a ser informada apenas pela propaganda governamental disseminada nos canais estatais. 

O Svoboda, que significa “liberdade” em russo, oferecerá um conjunto de canais com vasta gama de jornalismo independente e notícias globais, com previsão de entrar no ar nas próximas semanas. 

A RSF coordenará o fornecimento de conteúdo para o Svoboda, enquanto a Eutelsat fará a transmissão por satélite, garantindo que chegue às audiências de língua russa no país e também em outras localidades. 

Segundo a organização, serão criados comitês de comunicação social e de ética para garantir que o pacote de canais via satélite funcione de acordo com os melhores padrões jornalísticos. 

Iniciativa pretende inverter a lógica da propaganda russa 

Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, disse que “a iniciativa ambiciosa pretende inverter a lógica da propaganda”.

“Em vez de ter fluxos de conteúdos sob controle autoritário da Rússia para os países democráticos, a fim de desestabilizar as democracias, o Svoboda permitirá que meios de comunicação independentes transmitam para as pessoas privadas de seu direito à informação.”

Ele observou que não basta apenas defender a liberdade de imprensa, sendo preciso também criar condições concretas para a circulação de notícias e informações livres e independentes.

“O acesso à informação é um direito fundamental e esta iniciativa irá ajudar-nos a chegar ao público de forma eficiente.

Acreditamos no poder do jornalismo para moldar as sociedades e promover a transparência e a responsabilização”.

A ideia nasceu no Comitê Denis Diderot, um coletivo fundado por especialistas em imprensa para promover o livre fluxo de informação sem propaganda de guerra e desinformação, que tem parceria com a RSF desde 2022 para expor propaganda relacionada com a guerra na Ucrânia.

Liberdade de imprensa na Rússia

O país governado por Vladimir Putin caiu de 155º para 164º no Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras este ano. 

O estudo destaca a proibição total de canais de TV independentes que transmitem notícias, incluindo os ocidentais comoEuronews, France 24 eBBC.

Também ressalta o bloqueio a sites de notícias independentes como o Meduza e o Novaya Gazeta, fundado pelo jornalista Nobel da Paz Dmitry Muratov.

“Os que sobrevivem pertencem a aliados do Kremlin há alguns anos, ou são obrigados a praticar autocensura, a fim de evitar assuntos e termos proibidos. As estações de rádio estão na mesma situação”, diz o relatório.

A RSF aponta que a repressão à imprensa é anterior à guerra, sustentando que desde o início da pandemia da covid-19 o presidente Vladimir Putin já parecia cada vez mais isolado do mundo exterior. Um comportamento que foi agravado depois da invasão e que se refletiu na liberdade de imprensa.

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