Londres – Depois de reinar soberano desde seu lançamento, em 2021, o poderoso telescópio James Webb ganhou um concorrente, o europeu Euclides, que mandou nesta semana suas primeiras fotos das profundezas do cosmos.
O novo supertelescópio foi enviado aos céus em julho deste ano pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), com contribuição de sua equivalente americana, a NASA, em um projeto de pesquisa que reúne mais de 2 mil cientistas de 300 institutos em 13 países europeus.
Sem fazer comparações com o James Webb, a ESA afirma que “nunca antes um telescópio foi capaz de criar imagens astronômicas tão nítidas em uma área tão grande do céu e olhando tão longe para o Universo distante”, estando pronto para “criar o mapa 3D mais extenso do Universo e revelar alguns de seus segredos ocultos”.
O que torna a visão do cosmos de Euclides especial é a sua capacidade de criar uma imagem visível e infravermelha notavelmente nítida através de uma grande parte do céu em apenas uma sessão, diz a agência espacial europeia. O vídeo mostra algumas delas.
As cinco primeiras fotografias revelam estrelas brilhantes a galáxias tênues de forma completa e extremamente nítidas, mesmo tendo sido capturadas em locais distantes, como esta da Nebulosa Cabeça de Cavalo, também conhecida como Barnard 33 e parte da constelação de Órion.
A imagem é um exemplo do que a ESA diz ser a missão do ‘detetive do universo escuro: ajudar os cientistas a investigar como a matéria escura e a energia escura fizeram com que o nosso Universo ganhasse sua configuração atual.
Segundo a agência espacial europeia, 95% do cosmos parece ser feito de misteriosas entidades “obscuras”, mas elas não são plenamente compreendidas porque a sua presença provoca apenas mudanças muito sutis na aparência e nos movimentos das coisas que podemos ver.
Para revelar a influência “obscura” no Universo visível, durante os próximos seis anos Euclides irá observar as formas, distâncias e movimentos de milhares de milhões de galáxias a até 10 mil milhões de anos-luz. Ao fazer isso, criará o maior mapa cósmico 3D já feito, garante a ESA.
Na foto da Nebulosa Cabeça de Cavalo, por exemplo, os cientistas esperam encontrar muitos planetas ténues e anteriormente invisíveis com a massa de Júpiter na sua infância celestial, bem como jovens estrelas anãs castanhas e estrelas bebês.
Foto de Perseu é ‘revolução para a astronomia’
Outra imagem revelada na estreia do telescópio Euclides foi classificada entusiasmadamente como “uma revolução para a astronomia”. Ela mostra mil galáxias pertencentes ao Aglomerado de Perseu e mais de 100 mil galáxias adicionais mais distantes no fundo.
Foi a primeira vez que uma imagem tão grande permitiu ver tantas galáxias de Perseu com um nível de detalhe tão elevado. Perseu é uma das estruturas mais massivas conhecidas no Universo, localizada a “apenas” 240 milhões de anos-luz de distância da Terra.
Muitas dessas galáxias tênues nunca tinham sido registradas. Algumas estão tão distantes que a sua luz levou 10 mil milhões de anos a chegar até a Terra, o que permite avanços para a ciência, segundo a ESA.
Ao mapear a distribuição e as formas destas galáxias, os cosmólogos poderão descobrir mais sobre como a matéria escura moldou o Universo que vemos hoje”.
Telescópio Euclides revela ‘sósia’ da Via Láctea
Outra foto que entusiasmou os cientistas do projeto Euclides é a da ‘Galáxia Oculta’, também conhecida como IC 342 ou Caldwell 5.
Graças à sua visão infravermelha, o telescópio já revelou informações cruciais sobre as estrelas desta galáxia, que segundo a ESA é uma sósia da Via Láctea.
Euclides conseguiu fazer esta linda e nítida imagem graças à sua incrível sensibilidade e excelente ótica, disse a ESA.
“O mais importante aqui é que o telescópio usou o seu instrumento de infravermelho próximo para observar através da poeira e medir a luz emitida pelas muitas estrelas frias e de baixa massa que dominam a massa da galáxia.”
Para criar um mapa 3D do Universo, Euclides irá observar a luz de galáxias até 10 mil milhões de anos-luz. A maioria das galáxias no Universo primordial não se parece com a espiral perfeita da imagem anterior. São irregulares e pequenas como uma registrada pelo telescópio em sua primeira série de imagens.
A NGC 6822, primeira galáxia anã irregular observada por Euclid, está localizada nas proximidade da Terra, a apenas 1,6 milhões de anos-luz da Terra.
O telescópio Europeu enviou ainda uma foto de NGC 6397, segundo aglomerado globular mais próximo da Terra. Os aglomerados globulares são coleções de centenas de milhares de estrelas mantidas juntas pela gravidade.
Atualmente, segundo a ESA, “nenhum outro telescópio além do Euclides pode observar um aglomerado globular inteiro em uma única observação e, ao mesmo tempo, distinguir tantas estrelas no aglomerado”, revelando segredos sobre a história da Via Láctea e onde está localizada a matéria escura.
Euclid x James Webb: a guerra dos telescópios?
Provocação com o James Webb? Pode até ser, mas quem ganha com a competição das fotos dos telescópios é a ciência – o público que se interessa por fotografia astronômica.
O James Webb abriu uma nova era na astronomia ao observar o universo em luz infravermelha, enquanto seu irmão mais velho, o Hubble, continua a estudá-lo principalmente em ondas ultravioletas e ópticas.
Segundo a ESA, enquanto o Webb pode observar muito atrás no tempo e ampliar os detalhes, Euclides pode ir mais rápido e com amplitude.
“Numa única observação, Euclides pode registar os dados de uma área do céu mais de cem vezes maior do que a captada pela câmara de Webb, a NIRCam.
Isto significa que Euclides pode mapear um terço do céu com a sensibilidade necessária em seis anos no espaço – um feito que seria impossível com o Webb”
Desde o lançamento do telescópio, em julho de 2023 a partir da base da NASA em Cabo Canaveral (EUA), cientistas e engenheiros vêm fazendo testes e calibração dos instrumentos científicos do telescópio até o início das observações regulares, nos primeiros meses de 2024.
Ao longo de seis anos, o Euclides irá pesquisar um terço do céu com precisão e sensibilidade sem precedentes, diz a ESA.
O banco de dados será divulgado uma vez por ano e estará disponível para a comunidade científica através dos Arquivos Científicos de Astronomia , armazenados no Centro Europeu de Astronomia Espacial da ESA, na Espanha.
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