Londres – Uma investigação da organização Media Matters comprovando que anúncios de grandes corporações apareceram ao lado de conteúdo promovendo Hitler e o nazismo abriu nova crise entre Twitter / X e o mercado publicitário, com a IBM anunciando suspensão de suas campanhas na plataforma de Elon Musk nesta quinta-feira (16).
Reclamações de usuários e relatórios apontando aumento do discurso de ódio no então Twitter depois da aquisição da rede social pelo bilionário, em outubro de 2022, provocaram uma debandada de anunciantes, abalando severamente a situação financeira da empresa, mas o assunto estava adormecido até o novo relatório.
Segundo a Media Matters, anúncios da IBM e também de marcas como Apple, Bravo (NBCUniversal), Oracle e Xfinity (Comcast) foram encontrados ao lado de postagens antissemitas.
Musk também se envolveu esta semana em uma polêmica ao comentar uma postagem relacionada a antissemitismo, e isso foi mencionado no relatório da organização. Mas a IBM não se referiu a esse episódio ao anunciar sua decisão.
IBM e o Twitter: tolerância zero contra conteúdo como nazismo
Em nota, a empresa disse:
“A IBM tem tolerância zero com discurso de ódio e discriminação, e suspendemos imediatamente toda a publicidade no X enquanto investigamos esta situação totalmente inaceitável”.
Em seu relatório, a organização sem fins lucrativos dedicada a monitorar desinformação e conteúdo de ódio online apresentou exemplos de anúncios de várias outras marcas citadas ao lado de conteúdos antissemitas.
A Media Matters salientou que os anúncios foram posicionados nesses locais mesmo depois de a CEO Linda Yaccarino ter dado garantias ao mercado quando o Twitter mudou de nome de que as marcas estariam “protegidas do risco de estarem próximas” de postagens tóxicas na plataforma.
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A defesa do Twitter sobre os posts envolvendo nazismo
Yaccarino tem uma longa carreira em propaganda e marketing, tendo ocupado o cargo de líder global da área na a NBCUniversal da Comcast, cujos anúncios foram vistos pela MediaMatters ao lado de conteúdos promovendo o nazismo.
Sua contratação foi vista como um movimento de Elon Musk para reatar os laços com as corporações que haviam deixado a plataforma. Mas não tem sido fácil para a experiente executiva, como apontou a organização:
“Ela também alegou que X (anteriormente Twitter) tem “demonstrado seu compromisso absoluto em combater o antissemitismo na plataforma” e que “o antissemitismo é mau e X sempre trabalhará para combatê-lo em nossa plataforma”.
Mas seu chefe ontem à noite endossou a teoria perniciosa da conspiração antissemita de que o povo judeu está apoiando “hordas de minorias” que estão “inundando” o país para substituir os brancos. Essa teoria da conspiração foi a mesma que motivou o mortal tiroteio na sinagoga Tree of Life de 2018.”
Ao divulgar a investigação que mostrou os anúncios ao lado das marcas, a Media Matters destacou que o Twitter/X restabeleceu diversas contas de “fanáticos e extremistas de extrema-direita pagos, aparentemente incluindo uma conta pró-Hitler e negacionista do Holocausto, como parte de seu programa de compartilhamento de receita de anúncios de criadores”.
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Elon Musk não se manifestou sobre a polêmica que traz novas ameaças para as receitas da rede social. Linda Yaccarino publicou um post na quinta-feira em que tenta novamente dar garantias aos usuários e anunciantes.
“O ponto de vista do X sempre foi muito claro de que a discriminação por parte de todos deveria PARAR de forma generalizada. Quando se trata desta plataforma – X – também somos extremamente claros sobre nossos esforços para combater o antissemitismo e a discriminação. Não há lugar para isso em nenhum lugar do mundo.”
Apesar das evidências apresentadas pela Media Matters, a reação oficial do Twitter foi “matar o mensageiro”. Um porta-voz disse à NBC:
O sistema de publicidade do X não coloca intencionalmente uma marca ativamente ao lado desse tipo de conteúdo, nem uma marca está tentando ativamente apoiar esse conteúdo com posicionamento.
Grupos como o Media Matters procuram agressivamente postagens no X e depois vão para as contas, e se virem um anúncio, os pesquisadores deles continuam atualizando para capturar o máximo de marcas possível.”
Ainda assim, o porta-voz do X disse que as contas apontadas pela organização não seriam mais monetizáveis, e o conteúdo que o acompanha também seria rotulado como não seguro, limitando seu alcance.
A polêmica de Musk
Na quarta-feira, Musk se envolveu em um tópico que começou com um compartilhmento de um post da Fundação para o Combate ao Antissemitismo, no qual um pai confronta seu filho por postar “Hitler estava certo” nas redes sociais com a proteção do anonimato e sugere que fale abertamente.
Outro usuário replicou dizendo que “as comunidades judaicas têm promovido o tipo exato de ódio dialético contra os brancos que afirmam querer que as pessoas parem de usar contra eles”, e que ” as populações judaicas no Ocidente estavam começando a perceber que as minorias inundando seu país não gostam muito delas”.
Ele finalizou com uma provocação: “Você quer que a verdade seja dita na sua cara, aí está”.
Em resposta a ao comentário associado ao antissemitismo, Musk escreveu: “Você disse a verdade”. A postagem inicial de Musk recebeu cinco milhões de visualizações, e ele seguiu com comentários sobre o tema na mesma linha de argumentação.
Mais tarde, o dono do Twitter comentou um post de um usuário holandês que reclamou que os brancos não “podem ter orgulho da sua raça”, dizendo: “é super-confuso”.
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