A Procuradoria Geral do violento estado de Guerrero, no México, confirmou no domingo a libertação dos três jornalistas sequestrados e a esposa de um deles na cidade turística de Taxco, na semana passada.
Silvia Nayssa Arce Avilés e Alberto Sánchez Juárez, donos do site de notícias RedSiete reapareceram na madrugada de sábado depois de quase uma semana em poder dos sequestradores. No mesmo dia, Guadalupe Denova, esposa do jornalista Marco Antonio Toledo Jaimes, também foi libertada.
No dia seguinte Jaimes foi solto, mas seu filho, Alberto, que trabalha em um hospital, segue desaparecido desde o sequestro, em 22 de setembro. O jornalista dirige a revista Espectador de Taxco e é correspondente local dos veículos N3 Guerrero, La Crónica, e Vespertino de Chilpancingo.
Jornalista sequestrado no México cobre assuntos locais
O México é um dos países mais perigosos do mundo para a imprensa, recordista em mortes de jornalistas. A maioria dos crimes e agressões é direcionada a profissionais de cidades menores, que praticam jornalismo comunitário em regiões dominadas pelo tráfico e comandadas por políticos acusados de corrupção.
Os três jornalistas sequestrados enquadram-se no padrão.
Segundo a Artigo 19, Marco Antonio Jaimes cobre política e segurança pública em nível local e estadual. Ele publicou recentemente uma notícia denunciando irregularidades na aprovação pelo governo municipal de um orçamento concedido para uma obra em Taxco.
Na reportagem, ele disse: “Aprovam um projeto de 13 milhões de pesos em benefício de duas pessoas”, criticando diretamente o prefeito de Taxco, Mario Figueroa Mundo.
A organização citou dois relatos anônimos sobre ameaças e assédio a Jaimes.
Na madrugada do dia 19 de novembro, cinco pessoas armadas entraram em sua casa. Antes de levá-lo junto com a mulher e o filho, o grupo revistou a residência, destruiu o modem e roubou os celulares das vítimas, bem como dois computadores.
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Casal de jornalistas lidera um site de notícias comunitárias
Os dois outros sequestrados, Silvia Nayssa e Alberto, são um casal de jornalistas que lideram o site RedSiete, também em Taxco.
Na noite de 22 de novembro, desconhecidos armados os interceptaram perto da Plaza Taxco, no centro da cidade, onde fica o escritório do veículo, que tem um site e canais nas redes sociais.
O RedSiete divulga principalmente matérias locais sobre os municípios vizinhos a Taxco e sobre o estado de Guerrero. Sua cobertura mais recente é sobre os processos de reconstrução do estado após o furacão Otis.
A Procuradoria Geral não deu detalhes sobre as circunstâncias do sequestro ou da libertação, mas divulgou fotos mostrando uma operação policial para resgatar as vítimas.
Em nota, o órgão informou que ” a libertação das quatro pessoas derivou de operações de busca e do envio de autoridades de segurança federais e estaduais para descobrir seu paradeiro”.
E disse que as buscas para descobrir o paradeiro de Alberto Toledo Denova continuam, envolvendo agentes ministeriais, oficiais do Exército Mexicano, da Guarda Nacional, da Polícia do Estado e da Comissão de Busca de Pessoas de Guerrero.
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Violência contra a imprensa em Guerrero
De acordo com o acompanhamento da Artigo 19, um total de 425 ataques a jornalistas foram registrados em Guerrero entre 2009 a 2023, colocando o estado como o quinto mais violento para a mídia.
O estado é o segundo mais fatal para profissionais de imprensa, com 17 assassinatos Há três jornalistas desaparecidos em Guerrero.
“Neste contexto de elevados níveis de violência contra a imprensa, tanto as autoridades federais como estaduais devem coordenar ações imediatas de busca, bem como iniciar investigações sobre os acontecimentos e fornecer proteção aos seus familiares e colaboradores nos seus meios de comunicação”, instou a Artigo 19.
A organização pediu que além de intensificar as buscas para localizar Marco Antonio Toledo Jaimes, a Procuradoria Especializada em Crimes contra a Liberdade de Expressão (FEADLE) coordene, em conjunto com a Procuradoria Geral do Estado de Guerrero, a abertura de investigações sob o protocolo para Crimes contra a Liberdade de Expressão.
A Artigo 19 cobrou ainda que o sistema federal de proteção para defensores de direitos humanos e jornalistas, entre em contato com os familiares dos profissionais e com seus colegas de trabalho para ativar medidas urgentes de proteção.
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