Londres – O jornalista e ex-refugiado somali Abdullahi Mire, de 36 anos, foi anunciado vencedor do Prêmio Nansen, concedido anualmente pelo Acnur (Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), em reconhecimento a uma iniciativa em prol da literatura que resultou na distribuição de 100 mil livros a crianças refugiadas no Quênia. 

O prêmio da agência da ONU (Organização das Nações Unidas) é atribuído a indivíduos, grupos e organizações que protegem refugiados, migrantes internos e pessoas apátridas. Em 2022, a vencedora foi Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha.

Mire cresceu no acampamento de refugiados de Dadaab, no Quênia. Ele foi reassentado na Noruega, mas retornou à comunidade onde passou a maior parte de sua vida, atuando como jornalista e criando o Refugee Youth Education Hub.

Vencedor do prêmio criou bibliotecas em campos de refugiados 

A iniciativa instalou três bibliotecas nos acampamentos de refugiados no Quênia. Os locais foram equipados com livros doados que permitiram oportunidades de aprendizagem para dezenas de milhares de crianças e jovens deslocados, segundo o Acnur. 

Mire disse que o prêmio não era para ele, e sim para todos os voluntários e para as crianças, e prometeu investir os recursos para ajudar mais crianças. 

23 anos em campos de refugiados

Mire nasceu no sul da Somália em 1987. A família saiu do país devido à guerra civil em 1991 e passou a viver em campos de refugiados em Dadaab, no Quênia, onde ele ficou por 23 anos. Há mais de 240 refugiados na região, a maioria da Somália. 

Ele concluiu o ensino fundamental enquanto ainda vivia no acampamento, e se formou em jornalismo e relações públicas em 2013 pela Universidade Kenyatta do Quênia. O jornalista trabalhou para a Organização Internacional das Nações Unidas para Migrações em Mogadíscio e nas cidades somalis do sul de Baidoa e Kismayo.

No início de 2018, ele fundou a ONG Refugee Youth Education Hub, que tem dois funcionários e seis voluntários e se dedica a ajudar a desenvolver jovens refugiados. 

Ideias transformadoras em comunidades de refugiados

Ao anunciar os vencedores, o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que Abdullahi Mire é “a prova viva de que ideias transformadoras podem surgir nas comunidades de refugiados”.

O chefe do Acnur elogiou ainda a expressão de “grande desenvoltura e tenacidade no fortalecimento da qualidade da educação dos refugiados.”

O prêmio Nansen, criado em 1964,  também reconheceu iniciativas regionais. Entre elas estão a ativista colombiana Elizabeth Moreno Barco, vencedora na região Américas, e a iemenita Asia Al-Mashreqi, reconhecida pelo seu trabalho em prol de refugiados no Oriente Médio Oriente e Norte de África.

Na Asia e Pacífico, a homenagem foi para um grupo de integrantes da minoria rohingya formado por Abdullah Habib, Sahat Zia Hero, Salim Khan e Shahida Win por terem documentado experiências dos refugiados e apátridas. Por fim, o casal polonês Lena Grochowska e Władysław Grochowski foi selecionado pela atuação na Europa.

A entrega do Prêmio Nansen para Refugiados do Acnur acontecerá em Genebra durante o Fórum Global de Refugiados em 13 de dezembro.