Londres – Quase quatro mil jornalistas de todo o mundo estão entre os mais de 70 mil participantes credenciados para acompanhar a COP28, conferência do clima da ONU, aberta em Dubai nesta quinta-feira (30), um evento midiático comparado a poucos.
Mas o número de profissionais de imprensa de alguma forma envolvidos com a conferência é difícil de calcular, pois nem todos viajaram para o encontro.
Há desde jornalistas independentes que não têm condições de arcar com os custos da viagem aos que trabalharão nas redações produzindo e editando reportagens, fazendo coberturas paralelas e comentando os acontecimentos.
Há ainda jornalistas que participam da conferência como observadores e como assessores de comunicação de governos e de organizações governamentais, tornando o centro de imprensa da COP28 uma das maiores redações do mundo até o dia 12 de dezembro, quando as luzes se apagarem.
A jornalista brasileira Solange Barreira, asessora da ONG ambiental Observatório do Clima, está em Dubai e disse que as primeiras impressões sobre a estrutura para a imprensa foram positivas em comparação à COP27, no Egito.
“O acesso para jornalistas levaram entrevistados ao Media Center é fácil, e as instalações são melhores, incluindo uma área de alimentação”, disse.
Frustação com acordos não tirou interesse dos jornalistas sobre a COP28
As duas últimas edições do encontro da ONU, em Glasgow e no Egito, decepcionaram com acordos que não fizeram o mundo avançar rumo à meta de conter o aquecimento global em 1,5º.
Mas notícias preocupantes sobre as mudanças climáticas e sobre retrocessos de países como o Reino Unido e a Suécia, que adiaram o cumprimento de suas metas ambientais, reforçam a importância da atenção.
A organização Covering Climate Now, uma rede global formada por mais de 500 veículos de imprensa de todos os tamanhos, vem preparando há meses seus membros para a cobertura do encontro e fez um guia para explicar por que a COP é importante apesar das frustrações passadas.
O que é a COP28
Em 1992, o tratado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi acordado, criando uma estrutura para os países — que o tratado chama de “partes” — cooperarem para lidar com as mudanças climáticas; agora existem 198 partes na convenção da UNFCCC.
As COPs, abreviação de “Conferência das Partes”, são o evento anual de mudança climática global da ONU e um fórum crítico onde líderes mundiais, cientistas, líderes empresariais e sociedade civil se reúnem para negociar medidas para reduzir as emissões globais de carbono e se preparar para os desafios climáticos.
Cinco anos depois do Acordo de Paris, a crise se agrava
Na COP28 em Dubai, Emirados Árabes Unidos, os países estão reunidos para concluir o primeiro “acordo global”, um processo descrito no Acordo de Paris de 2015 que exige que os países sejam responsáveis por seu progresso climático a cada cinco anos.
Os países em desenvolvimento também querem mais progressos na compensação de perdas e danos dos países ricos pelos impactos climáticos e financiamento para adaptação, um acordo firmado logo no primeiro dia da conferência.
Enquanto isso, a urgência da crise climática está ficando mais clara a cada dia, à medida que os eventos climáticos extremos se tornam mais severos e os cientistas expressam alarme de que os impactos estão se acelerando.
“A humanidade abriu os portões para o inferno” ao superaquecer o planeta, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em setembro de 2023, mas “ Ainda podemos construir um mundo de ar limpo, empregos verdes e energia limpa acessível para todos”.
As quatro metas da COP28
A programação da COP28 se concentrará, segundo seu presidente, o Sultão Ahmed Al Jaber, no que ele chama de os quatro Fs sigla em inglês para os compromissos:
Acelerar a transição para um mundo de baixo teor de CO2; resolver a questão do financiamento climático; focar em pessoas, vidas e meios de subsistência; e total inclusão.
O polêmico presidente da conferência
A nomeação de Al Jaber, chefe da estatal Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC), como presidente da COP atraiu críticas abertas e foi marcada por controvérsia, com ativistas climáticos indignados por um executivo de petróleo estar no comando, um conflito de interesses que muitos dizem ser semelhante a uma raposa observando o galinheiro.
Al Jaber insiste que está bem posicionado para liderar a cúpula, argumentando que é necessário ter a indústria de petróleo e gás à mesa. Ele também é o enviado especial dos Emirados Árabes Unidos para as mudanças climáticas e presidente da empresa estatal de energia renovável Masdar.
Na véspera da abertura da COP28, o próprio presidente foi vítima de uma fake news: um falso press release foi enviado a várias redações do mundo informando que ele havia pedido para se desligar do cargo – o que chegou a ser brevemente comemorado por alguns ativistas do clima mas logo foi desmentido.
Leia também | Dia da Terra: tem solução para a crise da mudança climática? Fotos premiadas provam que sim