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Fundação internacional vai bancar livro póstumo do jornalista Dom Philips sobre a Amazônia

Livro de Dom Philips recebe bolsa internacional e passa por financiamento coletivo

Livro de Dom Philips recebe bolsa internacional e passa por financiamento coletivo. (Foto: Twitter Dom Philips)

Uma dotação do Whiting Creative Nonfiction Grant (Bolsa Whiting de Não Ficção Criativa) no valor de US$ 40 mil (R$ 196,2 mil) vai garantir a publicação do livro que o jornalista Dom Philips, assassinado em 2022 na Amazônia junto com o indigenista Bruno Pereira, seja publicado. 

Familiares e amigos estavam fazendo uma coleta de fundos para a conclusão de  “How to Save the Amazon: Ask The People Who Know” (“Como Salvar a Amazônia: Pergunte Àqueles que Sabem”), mas ainda não tinham conseguido reunir os recursos necessários.

A  bolsa é concedida a escritores que estão concluindo obras não ficcionais “profundamente pesquisadas e compostas de forma criativa”, segundo a Fundação Whiting.  Das 12 bolsas deste ano, apenas a de Philips é póstuma. O livro sairá em 2025 pela Manilla Press, do Reino Unido.

Finalização do livro de Dom Philips conta com colaborações

O assassinato de Dom Philips interrompeu a redação de “Como Salvar a Amazônia”.

Para a conclusão do projeto inacabado, embarcaram na proposta escritores que trabalham ativamente com a região amazônica, como os brasileiros Eliane Brum e Davi Kopenawa Yanomami, além dos estrangeiros Andrew Fishman, do Intercept, Tom Phillips, do The Guardian, e Jon Lee Anderson, da The New Yorker.  

Familiares e colegas do autor decidiram revisitar os locais por onde Philips passou. Seu intuito era retratar a Amazônia sob a perspectiva de ativistas, lideranças indígenas e agentes da causa ambiental.

Essa decisão aumentou os custos para a conclusão da obra, já que muitos dos caminhos trilhados pelo repórter só são acessíveis via helicópteros, barcos e trilhas floresta adentro. 

Antes da concessão da Bolsa Whiting, a publicação ainda era incerta. No mês de junho deste ano, familiares e colegas do jornalista iniciaram um processo de financiamento coletivo hospedado na plataforma GoFundMe.

Desde então, foram realizadas mais de quinhentas doações e arrecadados cerca de £24.200, da meta total de £25 mil – cerca de R$ 150 mil.

Segundo o texto de divulgação do financiamento coletivo, “Dom acreditava firmemente que reportagens reais sobre as questões mais importantes não podem ser feitas por telefone, sentado em uma mesa com ar condicionado, a milhares de quilômetros de distância”.

Ele gastou as suas economias e deu a sua vida por esta crença, enfrentando destemidamente as corporações e indivíduos ricos que lucram com a destruição da Amazônia. Essas viagens são caras e exigem muito tempo, experiência e logística complexa.

Para o júri que da bolsa Whiting, “a reportagem de Dom Phillips sobre as depredações ecológicas na Amazônia demonstra níveis impressionantes de acesso e uma profunda curiosidade moral”.

“É raro encontrar textos de viagem que realmente mostrem ao leitor algo que ele nunca viu antes; a sensação de descoberta – e, inevitavelmente, de perigo – é palpável.

É estimulante ver este grupo de jornalistas de investigação unido para concretizar a visão de Phillips e, o que é crucial, para incluir perspectivas indígenas e as as potenciais soluções.

Este projeto fala não apenas do território ameaçado da Amazônia, mas também do território vulnerável da liberdade de expressão.”

No total, 10 projetos editoriais foram agraciados com a premiação. Desses, apenas o de Dom Philips é póstumo e conta com a colaboração de outros autores.

Dom e Bruno: relembre o caso

O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram no dia 5 de junho de 2022.

Ambos viajavam de barco pelo rio Itacoaí, no Vale do Javari. O livro “Como Salvar a Amazônia” era a causa da viagem. 

Seus corpos foram desmembrados e parcialmente queimados, encontrados escondidos na floresta dez dias depois de suas mortes.

Quando os assassinatos completaram um ano, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) criticou a lentidão brasileira em punir os responsáveis.

O jornalista Dom Philips morava no Brasil desde o ano 2007, em Salvador, e era casado com Alessandra Sampaio, uma brasileira. Ele passou por importantes redações internacionais, como as do The Guardian, The Washington Post, The New York Times e do Financial Times.

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