Londres – O príncipe Harry ganhou uma de suas maiores batalhas contra a imprensa: o processo movido contra o Mirror Group Newspapers, grupo que edita os jornais tabloides Daily Mirror, Daily Express e Daily Star.
O veredito foi anunciado na manhã desta sexta-feira pelo Tribunal Criminal de Londres. O juiz Timothy Fancourt considerou que houve “hackeamento extensivo” por parte dos jornais entre 2006 e 2011, e condenou o grupo a pagar uma indenização de £ 140,6 mil (R$ 880 mil).
“Estou feliz por ter vencido, e por ter ‘encarado o dragão'”, disse Harry, que completou: “este caso não é apenas sobre hacking, é sobre uma prática sistêmica de comportamento assustador e ilegal, seguido de acobertamento e destruição de evidências.
O juiz concluiu que o telefone de Harry foi hackeado entre o final de 2003 e abril de 2009. Das 33 matérias apresentadas como tendo sido fruto de práticas ilegais, 15 foram aceitas pelo magistrado.
Os jornais também foram condenados por contratar detetives particulares para espionar Harry.
Na sentença, de 386 páginas, ele afirmou que os diretores “fizeram vista grossa e possivelmente ocultaram a prática de coletar informações de forma ilegal, nomeando especificamente dois deles: Paul Vickers e Sly Bailey.
O grupo Mirror divulgou um comunicado logo após o resultado admitindo a derrota e sem intenção de contestar.
“Uma vez que más práticas aconteceram, pedimos desculpas, assumimos a responsabilidade e pagaremos a indenização”.
Entenda o processo de Harry contra o Mirror
A prática de coletar informações começou em 1995, mas se tornou frequente a partir de 1996, segundo o processo que levou Harry a se tornar o primeiro integrante da monarquia a depor em um tribunal desde o século 19.
- Ele afirmou que todas as reportagens listadas no processo foram produto de hacking ou “blagging” por telefone – obtendo informações por meios como se fazer passar por outra pessoa.
- Hackers ligavam para os números telefônicos de celebridades, desvendavam a senha de acesso à secretária eletrônica e assim ouviam as mensagens gravadas.
- A maioria das queixas de Harry está relacionada a seus relacionamentos com as ex-namoradas Chelsy Davy, Cressida Bonas, Laura Gerard-Leigh e Natalie Pinkham – incluindo detalhes de seus sentimentos em relação a elas, seus planos e conversas.
- O julgamento ocorreu ao longo de sete semanas, e em junho o príncipe enfrentou oito horas de interrogatório durante dois dias.
- Dezenas de testemunhas prestaram depoimento pessoalmente ou por escrito, incluindo ex-jornalistas, editores, investigadores particulares e executivos da MGN.
Em seus argumentos de abertura, o advogado do duque, David Sherborne, afirmou que os jornalistas do Mirror ouviram mensagens de correio de voz da princesa Diana enquanto Piers Morgan, uma das maiores celebridades da mídia britânica, era editor do jornal.
Em seu comunicado após a sentença, Harry disse:
“Histórias difamatórias e táticas intimidadoras foram utilizadas contra mim e às custas da minha família. […]
A decisão de hoje é justa e afirmativa. Disseram-me que matar dragões faz com que você se queime, mas à luz da vitória de hoje e da importância de fazer o que é necessário para uma imprensa livre e honesta, é um preço que vale a pena pagar.”
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Ao vencer processo, Harry abre caminho para novas reclamações
A vitória no processo é importante para Harry, que tem ações judiciais contra vários outros jornais, e para a mídia britânica, pois coloca em pauta novamente as práticas muitas vezes ilegais e abusivas dos tabloides sensacionalistas e pode abrir caminho para outras reclamações judiciais.
O Mirror já fez acordos com famosos por causa dessa prática, que admitiu ter utilizado. Na defesa, o jornal argumentou que o prazo para reclamações já havia se esgotado quando o novo processo foi aberto, em 2019.
No primeiro dia do julgamento, a defesa do MGM fez um pedido de desculpas a Harry, admitindo que contratou um detetive para seguir seus passos em uma casa noturna.
Em seu livro Spare e na série Harry e Meghan, da Netflix, o príncipe e a mulher disparam contra a imprensa sensacionalista, nem sempre deixando claro que o foco é o segmento de tabloides, o que acaba contribuindo para uma má percepção sobre a imprensa de forma geral.
É uma luta épica. Os únicos grupos de jornais britânicos que Harry ou Meghan não processaram ou não estão processando são os que editam o The Guardian, o Financial Times e o Daily Telegraph.
Embora em algumas queixas os jornais tentem desqualificar os processos sob o argumento de que o prazo legal para reclamações já passou, as práticas dos tabloides estão sendo expostas como nunca antes.
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