Londres – O balanço anual elaborado pela organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) registrou a morte de 45 jornalistas no exercício das suas funções em 2023, número mais baixo desde 2002 apesar da situação no Oriente Médio, também destacada no levantamento de fatalidades da Unesco.
Segundo a RSF, pelo menos 13 jornalistas foram mortos em situações profissionais desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, sendo 56 no total considerando os casos nos quais não há uma relação comprovada com a atividade jornalística.
Em todo o mundo, 521 jornalistas estão atrás das grades por motivos arbitrários relacionados com a profissão, uma redução de 8,4% em comparação a 2022), disse a organização.
América Latina com menos mortes de jornalistas
As associações de liberdade de imprensa seguem metodologias diferentes para calcular fatalidades, incluindo a comprovação formal de que o crime foi relacionado ao trabalho e o status profissional da vítima (empregado em uma organização de mídia, freelance ou dono de canal de notícias nas redes sociais).
Quem puxou o número de mortes para baixo foi a América Latina, onde houve 26 vítimas em 2022. Este ano foram seis – quatro no México, uma na Colômbia e outra no Paraguai. Mas a Repórteres Sem Fronteiras não contabilizou duas mortes no Haiti, que aparecem em outros relatórios.
O número de presos também caiu. Mas apesar de uma diminuição de quase 9% no número de jornalistas detidos arbitrariamente em todo o mundo entre 2022 e 2023, 521 deles começarão 2024 atrás das grades – eram 569 em 2022.
Um total de 264 jornalistas estão presos na China (incluindo Hong Kong), Mianmar, Bielorrússia e Vietnam. A China se mantém como a principal carcereira, com 121 profissionais da comunicação atrás das grades no seu território, incluindo 12 em Hong Kong, o que representa 23% dos casos.
Mais da metade dos jornalistas presos no mundo ainda aguarda julgamento, e outros enfrentam novas acusações mesmo depois de condenados. Um dos mais notórios começou nesta semana depois de uma sucessão de adiamentos.
Jimmy Lai, dono do extinto grupo de mídia Next e do jornal Apple Daily, de Hong Kong já foi sentenciado e agora enfrenta um novo julgamento, com risco de prisão perpétua.
Veja outros destaques do relatório da Repórteres Sem Fronteiras, com dados compilados até 10 de dezembro.
Uma guerra fatal para a imprensa
- Pela primeira vez desde 2018, o número de jornalistas mortos em zonas de guerra foi proporcionalmente superior ao número de mortos em zonas de paz.
- Desde o início da guerra Israel-Hamas, em apenas dois meses, 17 jornalistas perderam a vida no exercício das suas funções em Gaza (13), no Líbano (3) e em Israel (1), elevando para 23 o número de número de jornalistas mortos em zonas de guerra este ano, contra 20 em 2022.
- Jornalistas também morreram enquanto cobriam confrontos armados no norte dos Camarões, no norte do Mali, no Sudão, na Síria e na Ucrânia, com dois casos este ano.
- A RSF protocolou uma reclamação no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra contra jornalistas palestinos em Gaza e contra um jornalista israelita, e uma outra sobre crimes de guerra cometidos contra jornalistas na Ucrânia, complementando sete apresentadas em 2022.
- Elas cobrem mais de 50 abusos cometidos em território ucraniano contra cerca de 150 jornalistas e 17 torres de televisão/rádio e instalações de comunicação.
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Por que as mortes caíram em 2023, segundo a RSF
- A cobertura de guerras foi a atividade de reportagem mais perigosa em 2023 (com 23 jornalistas mortos), enquanto reportagens sobre crime organizado e da corrupção aparecem em segundo, com 15 vítimas por investigarem esses fatos em 2023, especialmente na América Latina e na África
- A queda no número de jornalistas mortos pode ser explicada, em parte e em certas áreas, por um aumento na segurança dos jornalistas. Nos conflitos armados, os profissionais dos meios de comunicação social estão agora normalmente mais bem preparados, bem treinados e equipados.
- Nas zonas de paz, os jornalistas também estão mais protegidos, graças à criação de quadros regulamentares para garantir a sua segurança e ao reforço dos mecanismos de combate à impunidade.
- Mas em algumas regiões, a redução resulta de autocensura, que pode levar a uma menor exposição a riscos físicos.
- Embora o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever na América Latina tenha diminuído significativamente, de 26 em 2022 para seis em 2023, não é possível falar de uma melhoria estrutural nas condições de segurança na região.
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- No México, por exemplo, foram registradas quatro mortes em 2023, menos de metade do número registado em 2022 (11). No entanto, isto não significa que a segurança dos jornalistas tenha melhorado naquele país, como demonstrado pelos sequestros de três repórteres e pelos ataques armados contra quatro jornalistas no fim de 2023.
- Dado o número recorde de casos de violência em 2022, alguns jornalistas têm sido mais sistemáticos no cálculo dos riscos a que estão expostos, o que implica mais autocensura e propagação de buracos negros de informação.
O relatório completo pode ser visto aqui.
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