Londres – Durou pouco a tentativa de uma jornalista antiguerra de se candidatar à sucessão de Vladimir Putin na Rússia, que segue com sua invasão da Ucrânia: a comissão eleitoral do país rejeitou o pedido de Ekaterina Duntsova sob alegação de erros nos documentos protocolados.
Dunstova, de 40 anos, é uma ex-jornalista de TV que vive em Rzhev, na região de Tver, e já foi vereadora. Ela lidera uma campanha por democracia e pelo fim da guerra na Ucrânia.
Vladimir Putin, presidente desde 2012, vai se candidatar à reeleição no pleito marcado para março. O candidato que até hoje despontou como seu principal opositor, Alexey Navalny, foi envenenado em 2020, preso ao voltar à Rússia e cumpre pena de 19 anos em uma colônia no extremo norte do país.
Erros processuais na candidatura da jornalista que desafiou Putin na Rússia
Pelas regras eleitorais da Rússia, os candidatos autoproclamados para a sucessão de Putin, como a jornalista Ekaterina Dunstova, devem realizar uma reunião com um grupo de eleitores, notificada previamente à comissão eleitoral, e reunir assinaturas formalizando o apoio. Partidos podem indicar seus candidatos diretamente.
Segundo o site de notícias independente russo Meduza, a comissão afirmou que 20 por cento das declarações feitas pelos apoiadores de Duntsova continham erros, e que a assinatura de um deles lembrava “um gato”. A comissão também disse que não havia um protocolo da reunião do grupo.
Pelas redes sociais, a jornalista disse que não vai desistir, prometendo recorrer ao Supremo Tribunal. Ela disse ter pedido ao partido da oposição Yabloko (iberal e pró-ocidental) para ser nomeada como candidata à presidência da Rússia em 2024.
O partido não nomeou ainda um candidato, mas seu líder descartou em entrevistas a possibilidade de indicar a jornalista, afirmando não a conhecer.
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Quem é a jornalista candidata à presidência russa
Em seu site de campanha, Yekaterina Dunstova apresenta-se como advogada e jornalista, mãe de três filhos e voluntária em um grupo local de busca e resgate de pessoas desaparecidas.
Ela diz que decidiu concorrer à sucessão de Vladimir Putin porque “pelo menos durante os últimos dez anos, o país tem caminhado na direção errada”:
“O rumo foi traçado não para o desenvolvimento, mas para a autodestruição. A cada dia a vida dos russos comuns torna-se cada vez mais difícil.
Os cidadãos não podem expressar livremente as suas opiniões se elas não coincidirem com a posição das autoridades. O número de presos políticos está aumentando, centenas de milhares de pessoas foram expulsas do país.
O autogoverno local foi praticamente destruído e, num Estado enorme, tudo é decidido por uma pessoa.”
Ela também critica as “operações militares” no território dos estados vizinhos, que “conduzem ao isolamento e à degradação inevitáveis”.
A jornalista defende “mudanças urgentes: a cessação das hostilidades, reformas democráticas e a libertação dos presos políticos”.
“Temos de abolir todas as leis desumanas e restaurar as relações com o mundo exterior. Alterar as prioridades orçamentais: gastar dinheiro na melhoria da vida dos cidadãos e não em novos tanques.
Trazer de volta as liberdades que foram tiradas. Devemos tornar o país atraente e confortável para se viver!”
O site da jornalista Ekaterina Duntsova continua pedindo assinaturas de apoiadores da candidatura. Mas não vai ser fácil levar o plano adiante.
Segundo o Meduza, depois de Duntsova ter anunciado a sua intenção de concorrer à presidência, em novembro, ela foi convocada pelo Ministério Público, onde lhe perguntaram sobre a sua atitude em relação ao conflito na Ucrânia, enquanto o banco russo VTB bloqueou transferências em seu nome.
Em dezembro, o Ministério da Justiça da Rússia inspecionou o cartório onde o documento de registro do comitê de eleitores de Duntsova havia sido certificado.
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