Um dos legados da COP28 em Dubai foi a valorização da cultura como instrumento na luta climática, com a criação do grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura (GFCBCA).
Como sede da COP30, que acontecerá em 2025 em Belém do Pará, o Brasil lidera a iniciativa, juntamente com os Emirados Árabes Unidos, anfitrião do encontro atual.
Ministros da cultura dos países signatários trabalharão em conjunto para desenvolver políticas e programas destinados a aproveitar o potencial da arte na conscientização, mobilização e informação sobre problemas e soluções para o clima.
Cultura e arte na luta climática
“Comunidades tradicionais, culturas urbanas e patrimônios da humanidade estão so
b risco. Isso pode fazer com que não possamos transmitir às novas gerações nossas práticas socioculturais e o legado de memórias e de expressões, afetando o direito à cultura de comunidades e limitando a diversidade cultural”, disse a ministra Margareth Menezes.
A jornalista brasileira Yula Rocha, que dirige a comunicação da ONG People’s Palace Project, baseada na Universidade de Queen Mary, em Londres, esteve em Dubai para acompanhar uma apresentação que exemplifica o casamento entre arte e clima.
Thiago Jesus, gerente de projetos climáticos da PPP, e Piratá Warauá, cineasta e fotógrafo indígena do Alto Xingu, contaram no Resilience Hub da conferência a história de uma iniciativa da ONG: o apoio para a recriação de uma gruta cujas inscrições sagradas foram destruídas por fazendeiros.
Uma réplica em tamanho natural está sendo feita em Madri e será entregue pela PPP à comunidade em 2024, em um projeto que inclui também a criação de centros culturais em diversas aldeias.
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Transformando atitudes, narrativas e práticas
Thiago Jesus refletiu sobre o papel da cultura para transformar atitudes, narrativas e práticas, defendendo “uma ação orquestrada guiada pelo respeito à ciência”.
Desafio cultural
“A crise climática é também um desafio cultural, exigindo transformação profunda na maneira como nos relacionamos entre nós e com o planeta.
A arte é uma ferramenta poderosa para desafiar o status quo, e a cultura nos ajuda a dar valor às coisas. Mas seu papel tem sido negligenciado nas políticas climáticas.
A primeira vez que foi mencionado, através da inclusão de ‘patrimônio cultural’ nas declarações oficiais sobre ‘perdas e danos’ e ‘adaptação’, foi na COP27″.
Protegendo comunidades e mobilizando soluções
“As respostas às mudanças climáticas têm subestimado o valor da integridade cultural, que é a capacidade dos valores, crenças, tradições culturais, de proteger comunidades e lugares de se adaptar, e de mobilizar soluções.
Temos muitos exemplos no Brasil de soluções climáticas baseadas na cultura que oferecem caminhos para um futuro mais justo e de baixo carbono, mas precisamos reconhecer o poder da cultura e da arte e criar mecanismos, financiamentos, e políticas públicas culturais climáticas.”
Virando jogo na COP28
“Essa COP28 foi significativa para a cultura, com maior presença de vozes do setor. Artes, Cultura e Patrimônio foram temas de apresentações em eventos oficiais, e vimos a inauguração dos pavilhões Entretenimento + Cultura e Storytelling for Action”.
O poder do Brasil
“O Brasil é um país culturalmente rico, com expressões artísticas diversas. E os impactos climáticos e ambientais aqui são vividos e interpretados de maneira desigual por diferentes comunidades, lugares e gerações.
Por meio dessa multiplicidade podemos contribuir para conversas globais.
As práticas culturais são fundamentalmente adaptativas; são respostas que damos à constante mudança ao nosso redor. Elas são um processo contínuo de sentir, ajustar e re-imaginar a nossa relação com o que nos cerca”.
Este artigo faz parte de um relatório especial analisando as repercussões da COP28, jornalismo ambiental, ativismo e percepções da sociedade sobre as mudanças climáticas
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