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ão novos tempos neste país em que
nem sua maior estrela ambiental, Greta
unberg, é unanimidade. A ativista tem a
simpatia de muitos, mas também a antipa-
tia de outros tantos, incluindo comentaris-
tas na mídia, políticos e o público.
Em seu último debate no Parlamento no
mês passado como um dos líderes do Par-
tido Verde, Per Bolund disse:
“Greta unberg e seu movimento Fridays
for Future dizem que a política não vai re-
solver o problema, e que é preciso ir às
ruas. Eles falam do poder do povo. Esta é
uma retórica que se baseia no descrédito e
na desconança”.
A presidente do movimento jovem do Par-
tido Social-Democrata, Lisa Nåbo, disse
que não basta fazer críticas e reivindicar
medidas sem apresentar soluções possí-
veis. Greta foi ainda duramente criticada,
dentro e fora da Suécia, por adotar uma
posição pró-palestinos na guerra em Gaza.
Usando um kuya (lenço palestino branco
e preto), ela pediu um cessar-fogo durante
uma manifestação pelo clima em Amsterdã,
e armou que “não há justiça climática em
terra ocupada”. A declaração provocou ra-
chas dentro do próprio Fridays for Future.
Reações ao retrocesso na política ambiental suecaReações ao retrocesso na política ambiental sueca
E
m entrevistas, a Ministra das Finanças
da Suécia, Elisabeth Svantesso destaca
que o foco do governo é combater a ina-
ção e implementar medidas que ajudem os
cidadãos a enfrentar a crise econômica.
É um discurso ouvido também de lideran-
ças de outros países europeus: prioridade
para medidas que levem em conta o bolso
dos cidadãos.
Como observa a correspondente global de
clima da rede de TV pública sueca (SVT),
Erika Bjerström, este parece ser o novo
momento em relação à controversa política
climática: um país que não mais vê a neces-
sidade de se posicionar como uma super-
potência do clima, e sim que considera que
seu bom desempenho na defesa do meio
ambiente deve se alinhar aos objetivos das
demais nações europeias.
“A nova política é de que ‘nós somos parte
da Europa, e não devemos ter uma política
climática mais ambiciosa do que a média do
bloco”, avalia Erika.
Diante dos cortes nos recursos para medi-
das ambientais, tão incompreensíveis para
todos, a interpretação de Erika traz uma
possível lógica: na sua avaliação, o que o
governo sueco está dizendo é que talvez
tenha se acabado o tempo dos amazônicos
nanciamentos governamentais para pro-
jetos ambientais, e que o país entra em uma
nova etapa na qual as transformações serão
feitas principalmente pela indústria.
Mas os ativistas estão indignados. O Fri-
days for Future, movimento fundado pela
ativista sueca Greta unberg, classicou o
orçamento como uma “catástrofe” e “gran-
de traição”.
Greta: o sonho
juvenil acabou?
“O governo não está tratando a questão ambiental com
seriedade. Os orçamentos anteriores foram ruins, mas
este é ainda pior”, disse Linna Gadde, do Fridays for Future.
“Este governo não compreende e nem se importa com a
crise climática. As pesquisas são claras: precisamos redu-
zir as emissões a cada ano”, disse Per Bolund, que até no-
vembro atuou como um dos dois líderes do Partido Verde
sueco (a sigla divide sua liderança entre um homem e uma
mulher).
Apesar do tsunami de críticas, a Suécia continua a ocupar
uma posição invejável na defesa do meio ambiente e do
clima.
O país gura na quinta posição do Climate Change Perfor-
mance Index, o ranking internacional que monitora os es-
forços e o progresso no combate às mudanças climáticas
em 59 países e entre os membros da União Europeia, atrás
apenas da Dinamarca, o que na prática equivale ao segun-
do lugar. As três primeiras posições sempre cam vazias.
unberg tinha 15 anos de idade quando deu início ao
movimento, que convocou milhões de jovens em todo
o mundo a faltar à escola às sextas-feiras, como forma
de exigir ações climáticas. Ela sentou-se sozinha diante
do Parlamento sueco, com um cartaz dizendo: “Greve
escolar pelo clima”.
A adolescente virou adulta: aos 20 anos e recém-forma-
da no ensino médio, Greta unberg fez em junho deste
ano a sua última greve pelo clima como estudante se-
cundária. Em 2019, ela fez uma pausa nos estudos para
aumentar a conscientização global sobre a ação climáti-
ca, o que atrasou em um ano sua formatura.
"Hoje eu me formo na escola, o que signica que não
poderei mais fazer a greve escolar pelo clima. Esta é a
última greve escolar para mim", disse a ativista sueca.
“Mas vou continuar a protestar às sextas-feiras, mesmo
que não seja tecnicamente uma greve escolar. Simples-
mente não temos outra opção senão fazer tudo o que
pudermos. A luta está apenas começando”, avisou ela.
Greta não foi a Dubai, mas não foi a única sueca ausente.
Nenhuma das grandes organizações ambientais da Sué-
cia aceitou participar da COP28.
Uma das principais razões foi a decisão do país antrião
de nomear o sultão Ahmed Al Jaber, CEO da Companhia
Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, uma das maiores
petrolíferas mundiais, para o papel de presidente da
conferência.