Análises sobre a cúpula Análises sobre a cúpula
do clima da ONUdo clima da ONU
Jornalismo, ativismo e Jornalismo, ativismo e
mobilização no mundo mobilização no mundo
sob ansiedade climáticasob ansiedade climática
Impactos das mudanças Impactos das mudanças
climáticas sobre pessoas climáticas sobre pessoas
e empresase empresas
Especial
Dezembro | 2023
PARCEIRO DE CONTEÚDO
@Engajamundo e divulgação COP28
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MOBILIZAÇÃO
Arte ganha força
como arma na
luta climática
JORNALISMO DE
SOLUÇÕES
Mostrando ‘a metade
cheia do copo’
ESTUDO
As principais barreiras
à cobertura ambiental
na América Latina
ERIKA BJERSTRÖM
Jornalista ambiental, Suécia
"Não é meu trabalho manter
a audiência de bom humor
de maneira falsa"
A emergência climática em pauta
nesta edição
LUCIANA GURGEL
Editora-chefe
MediaTalks, Londres
EDUARDO RIBEIRO
Publisher
Jornalistas&Cia,
São Paulo
E MAIS: artigos de Cristiano Cobo (Anglo American), Fábio Magrin (Cummins) e Fabio Rua (GM).
E
sta é a terceira edição especial do MediaTalks analisando as repercus-
sões de uma Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas
da ONU
. Na primeira, o mundo tinha acabado de sair da pandemia, e os
líderes das maiores potências compareceram em peso a Glasgow. As ruas
foram tomadas por manifestantes, capitaneados por Greta unberg.
Greta hoje é questionada em seu próprio país, a Suécia. As últimas duas
COPs aconteceram em países com histórico de repressão ao ativismo e
à liberdade de imprensa. Os principais líderes de nações poluentes não
foram a Dubai.
O ativismo deixou as ruas para ganhar as redes sociais e tentar inuenciar
no acordo principal, que mais uma vez não agradou à ciência e aos países
mais afetados pelas mudanças climáticas.
Nesta edição, reunimos visões sobre a participação do Brasil na COP28
- que teve efeitos sobre a imagem do país na arena internacional, mas
não de forma positiva como muitos esperavam - e em cinco outros países
com realidades diferentes, mas que convivem com os mesmos dilemas,
inclusive na esfera da mídia.
O tom da cobertura das mudanças climáticas - muito alarmista? - é um
dos debates globais. O ativismo ambiental enfrenta questionamentos
semelhantes. Atacar monumentos engaja o público na causa do clima?
Como as pessoas comuns reagem ao noticiário, em uma era em que a sus
-
tentabilidade pode pautar a decisão de um talentoso prossional sobre
onde ele vai tr
abalhar? A cultura pode mobilizar? E o jornalismo de solu-
ções? O ESG está morrendo?
A
COP28 pode não ter, mais uma vez, correspondido plenamente às ex-
pectativas dos que esperavam - ou rezavam, como no caso do rei Charles
- por
transformações.
Mas teve o poder de colocar a emergência climática na pauta. E de cha-
mar a atenção para o papel decisivo de jornalistas, organizações de mídia,
inuenciador
es das redes sociais, organizações não-governamentais e li-
deranças empresariais diante das evidências de que as transformações
são vitais par
a o meio ambiente, para a justiça social e para os negócios.
Este é o tema das nossas conversas aqui. Boa leitura.
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19
11 14
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REINO UNIDO
Rei abriu COP28 “rezando”
por mudanças, difíceis em
seu próprio reino
por Luciana Gurgel
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ARGENTINA
Presidente novo e o
mesmo divórcio com
a realidade climática
por Marcia Carmo
ITÁLIA
O chamamento do Papa
Francesco à conversão
ecológica
por Fernanda Massarotto
EUA
Movimento anti-ESG
cresce enquanto
Biden esnoba COP28
por Eloá Orazem
CHRISTIANA FIGUERES
Ex-Chefe do Clima da ONU
Precisamos de equilíbrio
entre indignação e otimismo
PESQUISA
Sul-americanos entre
os mais preocupados com
os danos futuros das
mudanças climáticas
MARINA AMARAL
Co-Fundadora da
Agência Pública
Mídia digital colocou
os problemas ambientais
do Brasil na pauta
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SUÉCIA
Marcha à ré na política
ambiental faz país deixar
de ser modelo
por Claudia Wallin
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MediaTalks tem o apoio da General Motors
3
O Brasil na COP e a COP no Brasil:
as lições de Dubai
“A
rrancaram o phase-out”, avisou uma repórter no grupo de WhatsApp
dos jornalistas brasileiros credenciados para a cobertura da COP28. A
partir daquele momento, a primeira versão do acordo nal despertou indig-
nação por ter deixado de fora o compromisso de eliminar gradativamente o
uso de combustíveis fósseis.
Mas nada como um dia após o outro. O documento aprovado, sob protes-
tos de alguns países mas aceito pela maioria, foi visto como um avanço em
relação às COPs anteriores. Com a ressalva de não sero salto que o mundo
precisa, como enfatizou Andrew Deutz, Diretor Geral de Política Global e
Financiamento para a Conservação da e Nature Conservancy.
Foi um desfecho em tom de “otimismo controlado” para a cúpula de Dubai
que começou promissora, com a assinatura do compromisso para o Fundo
de Perdas e Danos. E terminou melhor do que alguns esperavam, mas pior
do que quase todos gostariam.
A participação do Brasil, com sua maior delegação em uma COP até hoje,
frustou quem contava com mais avanços na recuperação da imagem inter-
nacional do país depois da era Bolsonaro.
Desta vez, a linha de frente era composta por Lula, Marina da Silva e Sônia
Guajajara, levando na bagagem a boa notícia da queda dos índices de des-
matamento da Amazônia.
Três dias depois da abertura da conferência, entretanto, o país ganhou o
famigerado “Fóssil do Dia. O prêmio às avessas se deveu à entrada do país
como membro observador da OPEP (Organização dos Países Produtores de
Petróleo) e ao leilão de áreas de exploração em locais ambientalmente sen-
síveis, apelidado pelos críticos de “leilão do m do mundo.
A mídia internacional reetiu a decepção. “Tentativa de Lula de se rmar
como líder do clima na COP28 minada pelo movimento com a Opep, es-
creveu o e Guardian. “Lula é criticado pelos planos de petróleo na cúpula
da ONU, uma reviravolta após o status de herói no ano passado, disse a
Associated Press.
Até a Al Jazeera, rede estatal do Catar, ecoou as críticas ao país que vai se-
diar a COP30, em Belém. Antes dela, porém, haverá a COP29 no Azerbaijão,
outro país produtor de petróleo e ainda com sérios problemas de liberdade
de imprensa.
Cláudio Ângelo, jornalista e diretor da rede ambiental Observatório do Cli-
ma, resumiu a presença brasileira em Dubai:
“O Brasil foi construtivo, mas não conseguiu evitar que a passagem da de-
legação fosse contaminada pelos delírios petroleiros dentro de casa. O país
REPRODUÇÃO
foi cobrado, e justamente, por tentar fazer juras de amor a Greta no
exterior e ao Al Ghais dentro de casa”, referindo-se ao Secretário-
-Geral da OPEP.
Receber uma conferência do clima tem vantagens, mas expõe o
país antrião a um escrutínio maior. Algumas nações recusaram
o convite para sediar a cúpula de 2024.
Dubai não teve medo de críticas e ainda nomeou o CEO de uma
empresa petrolífera, o Sultão Ahmed Al Jaber, como presidente
da conferência. A ONU deve ter se arrependido da escolha, so-
bretudo depois da divulgação de uma conversa com ambienta-
listas em que Al Jaber duvidou dos fundamentos cientícos por
trás da condenação dos combustíveis fósseis.
Belém vai ser uma festa, mas também um risco para a imagem do
Brasil, que terá em casa um batalhão de jornalistas - em Dubai
foram quase 4 mil credenciados - ávidos por retratar a realida-
de amazônica e as diculdades de compatibilizar os esforços de
preservação da natureza e de crescimento econômico.
Faltam dois anos até a COP30, mas o tempo voa. Dubai deixa
lições de comunicação para o país e para as empresas brasileiras,
que deslarão na passarela do clima sob os holofotes do mundo.
Os antriões precisarão estar impecáveis para não correrem o
risco de decepcionar a plateia, em um planeta alarmado e clima-
ticamente ansioso.
Camisa distribuída em
Dubai pela delegação de
Belém
Análise
por LUCIANA GURGEL
4
Acordo final:
a avaliação
pelas fontes
que pautam a
imprensa
A
COP acabou, mas os efeitos das decisões tomadas na 28ª
Conferência das Partes da ONU continuarão a ser acompa-
nhados pela imprensa e por vozes inuentes nas conversas so-
bre as mudanças climáticas após o acordo assinado em Dubai.
Em uma entrevista coletiva, o Secretário-Geral da organização,
António Guterres, foi mais positivo do que em suas falas habi-
tuais sobre a crise ambiental.
“Pela primeira vez, o resultado da COP28 reconhece a necessi-
dade de fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis,
depois de muitos anos em que essa discussão foi bloqueada.
Menos otimistas, especialistas levantaram questões sobre a
extensão e a aplicabilidade dos compromissos, e demonstra-
ram que estão de olho nos próximos passos do Brasil.
REPRODUÇÃO
ANDREW DEUTZ | The Nature Conservancy
Dubai foi um marco signicativo para um mundo mais limpo e justo. A
diplomacia ao longo da noite transformou o texto que divida os países
em um caminho para seguirmos em meio à emergência climática.
Na preparação para as negociações , falávamos sobre a importância
de ações e compromissos tangíveis com precedência sobre a retórica
política.
O que os negociadores concordaram representa um passo na direção
certa: um chamado para uma transição global que nos afaste de todos os
combustíveis fósseis sinaliza que os governos estão nalmente abertos a
lidar com o elefante na sala."
NATALIE UNTERSTELL | Instituto Talanoa
Vencemos o impossível m dos combustíveis fósseis - uma vitória
retumbante sobre a diplomacia do óleo e do gás, que predominou nos
últimos 30 anos .
O acordo convoca os governos a seguirem um calendário claro e
alinhado de transição dos combustíveis fósseis, que terá de se integrar
ao cronograma da transição das economias para zero emissões líquidas
até 2050.
Isso signica que países que apostam na expansão contínua da produção
de petróleo, gás e carvão mineral terão que rever seus planos e indicar
como e quando completarão sua transição."
MÁRCIO ASTRINI | Observatório do Clima
O resultado da COP28, forte em sinais mas fraco em substância, signica que o
governo brasileiro precisa assumir a liderança até 2024 e estabelecer as bases para um
acordo na COP30 em Belém que atenda à natureza e às comunidades mais pobres e
vulneráveis do mundo.
O país pode começar cancelando sua promessa de se juntar à OPEP, o grupo que
tentou e não conseguiu destruir essa cúpula. Sem ação real, o resultado de Dubai não
será comemorado entre as comunidades de todo o mundo que sofrem com os eventos
climáticos extremos."
CAMILA JARDIM | Greenpeace Brasil
Apesar de não termos um plano claro sobre como se dará a eliminação progressiva
dos combustíveis fósseis, o ganho real da COP28 foi colocá-los no centro do debate,
responsabilidade que nenhuma das 27 conferências anteriores tinha assumido.
A COP28 desenhou as bases para a COP30, aumentando as expectativas para as pró-
ximas metas climáticas nacionais(NDCs), que deverão ser estabelecidas no Brasil, em
2025. Agora, os países precisam construir com clareza os mecanismos de implementa-
ção, especialmente os que dizem respeito a nanciamento, capacitação e transferência
de tecnologia aos países em desenvolvimento, o que deverá ser debatido na COP 29."
MAURICIO VOIVODIC | WWF-Brasil
O resultado reforça a importância de o Brasil se engajar fortemente no estreitamento
da conança entre os países, para alcançarmos os resultados necessários na COP 30.
Isso precisa começar já, durante a presidência do G20, onde será possível reforçar o
comprometimento climático das maiores economias do planeta.
Porém, é preciso liderar pelo exemplo, o que signica que temos um grande desao
interno, já que parte do governo ignora a crise climática e trabalha para alinhar o Brasil
ao grupo das nações responsáveis pelo quase fracasso da COP 28."
CAROLINE PROLO | Laclima
Se comparado com outras decisões das últimas COPs, o texto progrediu bastante, ao
inserir de forma explícita uma mensagem de eliminação dos combustíveis fósseis.
Traz também o tema da biodiversidade e da conexão com a Convenção de Diversidade
Biológica, e explicita os números das lacunas de nanciamento.
Além disso, faz referências claras à implementação do Acordo de Paris em relação a
aspectos de gênero, direitos humanos e direitos das crianças, convocando a socie-
dade civil e atores não-estatais a continuar apoiando no desenvolvimento do regime
climático."
O presidente da
COP 28, Sultão Al
Jaber, aplaude o
acordo ao fim da
conferência
5
Reino Unido, poR LUCIANA GURGEL
Rei Charles abre a COP28
'rezando' por transformações
que são difíceis até em seu reino
S
ede da COP26, o Reino Unido levou para Dubai as con-
tradições que não são particulares de uma nação, mas
que aqui são testadas ao limite.
O país onde nobres conservam privilégios medievais vive
os paradoxos da conferência do clima: o embate entre o
futuro do planeta e o presente dos empregos, da conta no
banco e da comodidade dos super-ricos.
A três dias do m da COP28, o candidato a prefeito de
Londres pelo partido de direita Reform, Richard Cox, deu
entrevistas na TV sobre a onda de vandalismo contra câ-
meras do sistema ULEZ (Ultra Low Emission Zone).
Nessas áreas, carros fora dos padrões de emissão pagam
£12,50 para circular. Os incomodados usam até bombas
para destruir os equipamentos.
Fundador do grupo Fair Fuel UK, Cox reclamou das ‘políti-
cas anti-carros’ do prefeito Sadiq Kahn, do Partido Traba-
lhista, idealizador do sistema que começou no centro e se
espalhou para áreas periféricas, incomodando mais gente.
Testes mostram que a poluição caiu. Mas há impacto so-
bre a massa do eleitorado, gente que não anda de carru-
agem dourada, não tem Tesla e usa o carro velhinho para
trabalhar - ou quer o conforto do transporte individual.
A abertura da COP28 em Dubai foi feita pelo rei Charles,
ecologista de carteirinha. Ele disse que rezaria para a con-
ferência se traduzir em “ação transformadora” - talvez
pensando no retrocesso do país do qual é chefe de estado.
Em setembro, o premiê Rishi Sunak anun-
ciou medidas atrasando promessas feitas
em Glasgow, como o adiamento da proibi-
ção de novos automóveis a gasolina e die-
sel de 2030 para 2035 e da obrigatorieda-
de de melhorar a eciência energética nas
residências.
Charles não depende das urnas e poderia
ter aproveitado o momento para pedir
ação transformadora em seu país. Mas a
estabilidade política da nação da qual ele
é o chefe de estado, depende.
O Partido Conservador, hoje no poder, é
um pilar da monarquia, assombrada pela
perda de Elizabeth II, escândalos e movi-
mentos republicanos.
O país vive uma crise de custo de vida que
as novas gerações só conheciam de ouvir
falar. Ao anunciar as medidas, o discurso
do governo foi claro:
“O primeiro-ministro rearma o compro-
misso do Reino Unido com o Net Zero até
2050 e promete um caminho “mais justo
para atingir a meta de aliviar os encargos
nanceiros das famílias britânicas”.
Uma amostra de como as ULEZ - e outras
medidas ambientais que governos mundo
instagram.com/gbrcomunicacaolinkedin.com/company/gbrcomunicacao facebook.com/gbrcomunicacaoocial
afora relutam em adotar - inuem na polí-
tica foi vista na eleição para o substituto
de Boris Johnson no Parlamento, em julho.
Os escândalos do Partido Conservador sob
seu comando zeram com que o Partido
Trabalhista disparasse nas pesquisas, com
chances de retomar o comando do país em
2024. Mas o partido não conquistou o as-
sento em Uxbridge, eleição local em que
era favorito. O motivo: o projeto ULEZ.
É um alerta para a diculdade de conven-
cer pessoas a mudarem de hábitos em prol
do planeta, o que parte da imprensa tenta
fazer, mas nem sempre consegue.
Os jornais tabloides, de grande inuência
sobretudo em locais mais afastados de
Londres, tendem a fazer o jogo dos conser-
vadores e a car ao lado das famílias afeta-
das pela alta de preços. Ao mesmo tempo,
o Guardian é um dos mais comprometidos
do mundo com o clima.
Charles III parece sincero em suas preocu-
pações com a biodiversidade. Mas nem em
família as coisas são fáceis. Em entrevista,
sua irmã, Anne, se mostrou contrária ao
“rewilding”, movimento para deixar a na-
tureza tomar conta de áreas ajardinadas.
O motivo: não é bom para os cavalos.
Antes de investir, verique o seu perl.
Dica de um especialista
em investimentos:
invista com o íon
no Itaú Personnalité.
O íon é a plataforma de investimentos no Itaú Personnalité
que une a inteligência articial, capaz de analisar bilhões
de cenários, com especialistas que fazem recomendações
levando em conta a variável mais importante: você.
Itaú Personnalité. Mais que especialista
em investimentos, especialista em você.
Antes de investir, verique o seu perl.
Dica de um especialista
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invista com o íon
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levando em conta a variável mais importante:
você
.
Itaú Personnalité. Mais que especialista
em investimentos, especialista em você.
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7
Argentina ignorou clima na eleição
presidencial e foi discreta em Dubai
A
crise do clima foi ignorada por grande parte dos elei-
tores argentinos na eleição presidencial de novembro,
que teve Javier Milei como vencedor.
Na campanha, o libertário expressou negacionismo em
relação à inuência do homem nas mudanças climáticas,
que chamou de “falsa” em um debate eleitoral assistido por
milhões de eleitores. “Só querem arrecadar dinheiro para
vagabundos socialistas que escrevem relatórios de quarta
categoria, disse.
A ONG de checagem de fatos Chequeado contestou o polí-
tico e economista que ocupará a Casa Rosada nos próximos
quatro anos. “Muitos dos efeitos da mudança do clima que
os cientistas previam já estão ocorrendo, como as ondas de
calor”, enfatizou a organização.
Milei foi eleito com quase 56% dos votos, maior votação
em um presidente desde o retorno da democracia argenti-
na. A crise econômica foi decisiva, em meio a uma inação
de 142% em 12 meses, fazendo com que aquecimento glo-
bal e preservação do meio ambiente cassem de lado.
A situação lembra uma das tirinhas da personagem Mafal-
da, do argentino Quino (1932-2020): “Como sempre, o ur-
gente não deixa tempo para o importante.
A COP da transição
A COP28 ocorreu na transição entre os governos do pero-
nista Alberto Fernández e de seu opositor de ultradireita.
Fernández e o ministro do Meio Ambiente, Juan Caban-
dié, não viajaram para Dubai, assim como não tinham ido
ao Egito. A Argentina enviou uma comitiva tímida liderada
pela secretária da Mudança Climática, Cecilia Nicolini, que
só caria no cargo até a posse do novo governo. Quase no
m da COP, Milei enviou uma diplomata.
O desinteresse (rejeição?) de Milei pela pauta crucial foi re-
etido ainda na decisão de eliminar o Ministério do Meio
Ambiente. Cinco dias antes da posse, não se sabia onde a
pasta seria encaixada.
Argentina, por MARCIA CARMO
Depois de eleito, Milei arquivou, pelo me-
nos por enquanto, algumas bandeiras de
campanha, como a dolarização da econo-
mia. E, em mais uma contradição entre o
candidato e o presidente, escolheu o pro-
fessor Fernando Villela, da Universidade
de Buenos Aires (UBA), para a Secretaria de
Agricultura, ligada ao Ministério da Econo-
mia.
Villela é respeitado por defender a produ-
ção agrícola com sustentabilidade e mu-
dará o nome da pasta para ‘Secretaria de
Bioeconomia. Seu discurso é diferente das
declarações negacionistas de Milei: “Somos
parte do meio ambiente e devemos produ-
zir mais, porém cuidando dele.
Nos últimos três anos, a Argentina regis-
trou a pior seca “dos últimos cem anos”, de
acordo com organismos como o Instituto
do Clima e Água do Instituto Nacional de
Tecnologia Agropecuária (INTA).
Ao MediaTalks, o especialista Fernando
Confessore, do Serviço de Meteorologia
Nacional (SMN), disse ter sido a estiagem
mais intensa desde a criação do órgão. Para
Confessore, “certamente uma parte do lon-
go período da La Niña (na Argentina), está
ligado à mudança climática”.
Como sempre, Como sempre,
o urgente não deixa o urgente não deixa
tempo para o importantetempo para o importante
A imprensa local tem mostrado como
lagos no interior do país desaparece-
ram, provocando mudança de hábitos.
Numa viagem à província de Santa Fé,
cortada pelo rio Paraná, testemunhei
os olhos marejados dos habitantes,
incluindo guias turísticos. Para muitos
deles, pela primeira vez foi possível
atravessar o rio a pé, como se ele ti-
vesse virado uma rua, uma avenida de
terra seca.
O drama climático contribuiu para
reduzir as exportações, drenou as re-
servas do Banco Central e afetou for-
temente o desempenho da economia.
Mas apesar dos efeitos do clima (ex-
cluído da cartilha de Milei na campa-
nha), ele saiu vitorioso das urnas em
21 das 24 províncias, incluindo tam-
bém a de Santa Fé.
A preocupação imediata com o bolso,
que inclui as incessantes remarcações
de preços na gestão de Fernández e
do ex-candidato presidencial derro-
tado Sergio Massa, teve maior inu-
ência no voto do que a necessidade
de se discutir e implementar políticas
climáticas para o bem da humanidade.
8
O 'divórcio' argentino da realidade
Entrevista MANUEL JARAMILLO, Fundação Vida Silvestre (Argentina)
por MARCIA CARMO
O
diretor geral da Fundação Vida Sil-
vestre, Manuel Jaramillo, que par-
ticipou da COP28, vê um ‘divórcio’ da
sociedade e das autoridades argentinas
com o clima.
Engenheiro orestal e porta-voz da enti-
dade, que é associada à WWF e tem como
missão a educação ambiental e a preser-
vação do meio ambiente, Jaramillo arma
que a Argentina tem um enorme caminho
pela frente para conciliar o que se fala
com o que se faz.
Descaso
“O antigo governo enviou 140 pessoas na
COP passada e só 14 pessoas nesta. Já o
novo governo não deu nenhuma importân-
cia ao encontro, o que demonstra sua visão
sobre o meio ambiente.
Fim do Ministério do
Meio Ambiente
“O m do Ministério mostra que a questão
não é prioritária para Milei. Entendo a pres-
são do desenvolvimento econômico num
país com 40% das pessoas na pobreza. Mas
é enganoso pensar na saída econômica dis-
sociada da agenda ambiental, pois o desca-
so com o meio ambiente afeta o desenvolvi-
mento econômico e social.
Cometeremos um grave erro tentando pro-
mover o desenvolvimento econômico com mais combustí-
veis fosseis ou ampliando a fronteira agrícola em detrimen-
to da natureza.
Enorme caminho
“Nos últimos vinte anos aumentou a conscientização dos
argentinos com relação ao impacto da questão ambiental
na vida cotidiana, na economia, na estabilidade emocional.
Isso levou a mudanças positivas. Mas as atitudes de indiví-
duos, das empresas e do Estado estão muito longe de trans-
formar a realidade.
E isso ocorre em todos os níveis. Ainda não realizamos, por
exemplo, um consumo responsável de energia. Entre o que
se fala e o que se faz, ainda temos um enorme caminho pela
frente.
Tema esquecido
“Com a ampla vitória de Milei, cou claro que o meio am-
biente não é prioridade para a sociedade argentina. Isto é
uma crítica para nós, das fundações ambientais, que não
conseguimos tornar o assunto decisivo, porque grande
parte dos eleitores acha que os assuntos ambientais são
distantes de suas outras preocupações.
E assim venceu quem disse que o aquecimento global não
existe, que é uma invenção do socialismo, e que nem incluiu
o meio ambiente em sua agenda de campanha.
Falta de consciência
“Nos lugares onde foi implantada a separação dos resídu-
os, tem gente que não os separa por acreditar que tudo
vai parar no mesmo lugar. Os mais jovens
até separam, e usam os adubos em seus
próprios jardins.
Porém, ainda são muitos os desaos. É o
caso dos plásticos. Por comodismo, muita
gente não usa as bolsas reutilizáveis.
Seca histórica
“Tenho 50 anos, e nunca tinha visto um
período de seca tão longo e intenso na
Argentina. O impacto na economia do país
mostra como o ambiental confronta com o
político e o social.
Mas a sociedade não vê assim. E para os
políticos não vale a pena falar sobre isso
porque eles têm muito pouco para mostrar
sobre seu compromisso com a causa.
Manuel
Jaramillo
9
Suécia, por CLAUDIA WALLIN
Marcha à ré na Suécia abalou imagem
de modelo ambiental para o mundo
P
erplexo como um vegano convidado
pelo melhor amigo para um churras-
co, o mundo assiste a uma aparentemente
inexplicável e ainda mais vigorosa marcha à
ré na política climática da Suécia - o país de
Greta unberg, e historicamente um dos
maiores líderes globais na defesa do meio
ambiente.
Às vésperas da COP28, o governo anunciou
um orçamento que deve elevar dramati-
camente as emissões de carbono. E cou
evidente que o país não mais será capaz de
cumprir suas metas climáticas para 2030 - e
de ser percebido pelo mundo como modelo.
Espanto semelhante já havia acontecido
antes da Conferência do Clima do Egito,
quando o então recém-empossado gover-
no de centro-direita anunciou a extinção
do Ministério do Meio Ambiente e do Clima
como organismo independente, além de
cortar recursos para programas ambientais
e abolir o bônus para quem compra veículos
elétricos.
No palco da cúpula do clima da ONU em Du-
bai, o premiê Ulf Kristersson tentou salvar
a imagem da Suécia como líder global do
clima. Mas como apontou o principal jornal
sueco, Dagens Nyheter, seu discurso indica
que o governo adotou uma nova estratégia
para demonstrar a liderança na questão cli-
mática: olhar para trás.
“Vejam como nossas emissões de gases
diminuíram desde os anos 90. Vejam como
a Suécia tem, ao lado de Portugal, os mais
baixos índices de emissão per capita na
União Europeia”, exemplicou o jornal.
“Certamente isto funciona como uma fonte
de inspiração. Mas não se pode solucionar
a crise climática apenas olhando para trás.
E se miramos em direção ao futuro, o papel
da Suécia na defesa do clima parece que vai
mudar”, escreveu o jornalista Peter Alestig.
Na opinião de um batalhão de críticos na
Suécia, os cortes no orçamento climático
determinados pela coalizão de governo li-
derada por Kristersson - apoiada pelo parti-
do nacionalista anti-imigração Democratas
da Suécia - não têm precedentes, embora o
processo de redução de emissões já cami-
nhasse de forma lenta no governo anterior,
formado pelo partido Social-Democrata em
coalizão com o Partido Verde.
Que raios se passa com este país - o primei-
ro a aprovar uma lei de proteção ambiental
em 1967, o primeiro a sediar uma conferên-
cia do clima da ONU em 1972, o primeiro a
anunciar a meta de tornar-se livre do uso de
combustíveis fósseis em 2015, o primeiro
a implementar a precicação do carbono
como instrumento para acelerar a transição
energética nos anos 90 (e que tem hoje um
dos mais altos impostos sobre CO2)?
O que aconteceu com o país que em 2020
inaugurou a primeira siderúrgica do mundo
alimentada exclusivamente por hidrogênio,
e que recicla 99% do seu lixo?
Em setembro, o orçamento anunciado
pelo governo incluiu uma redução de 259
milhões de coroas suecas (o equivalente
a R$ 120 milhões) para ações ambientais,
assim como um corte nos impostos sobre o
petróleo e o diesel. Segundo a Sveriges Na-
tur, principal publicação ambiental sueca,
a estimativa é de que a emissão de gases
aumente entre 4,8 milhões e 8,7 milhões de
toneladas até 2030.
A Naturvårdsverket (Agência de Proteção
Ambiental Sueca) alerta: se nada mais for
feito, não será possível cumprir a meta de
reduzir as emissões em transportes em
pelo menos 70% até 2030.
Em entrevistas, Romina Pourmokhtari - a
ministra sem ministério do Meio Ambiente
e do Clima, pasta transferida para o minis-
tério de Minas e Energia - tenta convencer
os suecos, sem êxito, de que tudo vai aca-
bar bem. E as críticas se multiplicam.
“O que está acontecendo é que o gover-
no está conscientemente aumentando
as emissões. Nenhum governo sueco dos
tempos modernos fez algo assim. E isto é
extremamente sério, destacou na TV pú-
blica sueca, a SVT, o porta-voz do opositor
Partido do Centro para assuntos de clima e
energia, Rickard Nordin, que ameaça uma
moção de desconança contra a ministra
do Meio Ambiente e do Clima.
O único banco que compensa a emissão de CO2
de toda a sua frota de carros financiados
Para saber mais, acesse:
bv.com.br/institucional/sustentabilidade/semprecompensa
O que aconteceu O que aconteceu
com o primeiro com o primeiro
país a sediar país a sediar
uma COP?uma COP?
10
S
ão novos tempos neste país em que
nem sua maior estrela ambiental, Greta
unberg, é unanimidade. A ativista tem a
simpatia de muitos, mas também a antipa-
tia de outros tantos, incluindo comentaris-
tas na mídia, políticos e o público.
Em seu último debate no Parlamento no
mês passado como um dos líderes do Par-
tido Verde, Per Bolund disse:
“Greta unberg e seu movimento Fridays
for Future dizem que a política não vai re-
solver o problema, e que é preciso ir às
ruas. Eles falam do poder do povo. Esta é
uma retórica que se baseia no descrédito e
na desconança.
A presidente do movimento jovem do Par-
tido Social-Democrata, Lisa Nåbo, disse
que não basta fazer críticas e reivindicar
medidas sem apresentar soluções possí-
veis. Greta foi ainda duramente criticada,
dentro e fora da Suécia, por adotar uma
posição pró-palestinos na guerra em Gaza.
Usando um kuya (lenço palestino branco
e preto), ela pediu um cessar-fogo durante
uma manifestação pelo clima em Amsterdã,
e armou que “não há justiça climática em
terra ocupada. A declaração provocou ra-
chas dentro do próprio Fridays for Future.
Reações ao retrocesso na política ambiental suecaReações ao retrocesso na política ambiental sueca
E
m entrevistas, a Ministra das Finanças
da Suécia, Elisabeth Svantesso destaca
que o foco do governo é combater a ina-
ção e implementar medidas que ajudem os
cidadãos a enfrentar a crise econômica.
É um discurso ouvido também de lideran-
ças de outros países europeus: prioridade
para medidas que levem em conta o bolso
dos cidadãos.
Como observa a correspondente global de
clima da rede de TV pública sueca (SVT),
Erika Bjerström, este parece ser o novo
momento em relação à controversa política
climática: um país que não mais vê a neces-
sidade de se posicionar como uma super-
potência do clima, e sim que considera que
seu bom desempenho na defesa do meio
ambiente deve se alinhar aos objetivos das
demais nações europeias.
A nova política é de que ‘nós somos parte
da Europa, e não devemos ter uma política
climática mais ambiciosa do que a média do
bloco, avalia Erika.
Diante dos cortes nos recursos para medi-
das ambientais, tão incompreensíveis para
todos, a interpretação de Erika traz uma
possível lógica: na sua avaliação, o que o
governo sueco está dizendo é que talvez
tenha se acabado o tempo dos amazônicos
nanciamentos governamentais para pro-
jetos ambientais, e que o país entra em uma
nova etapa na qual as transformações serão
feitas principalmente pela indústria.
Mas os ativistas estão indignados. O Fri-
days for Future, movimento fundado pela
ativista sueca Greta unberg, classicou o
orçamento como uma “catástrofe” e “gran-
de traição.
Greta: o sonho
juvenil acabou?
“O governo não está tratando a questão ambiental com
seriedade. Os orçamentos anteriores foram ruins, mas
este é ainda pior”, disse Linna Gadde, do Fridays for Future.
“Este governo não compreende e nem se importa com a
crise climática. As pesquisas são claras: precisamos redu-
zir as emissões a cada ano, disse Per Bolund, que até no-
vembro atuou como um dos dois líderes do Partido Verde
sueco (a sigla divide sua liderança entre um homem e uma
mulher).
Apesar do tsunami de críticas, a Suécia continua a ocupar
uma posição invejável na defesa do meio ambiente e do
clima.
O país gura na quinta posição do Climate Change Perfor-
mance Index, o ranking internacional que monitora os es-
forços e o progresso no combate às mudanças climáticas
em 59 países e entre os membros da União Europeia, atrás
apenas da Dinamarca, o que na prática equivale ao segun-
do lugar. As três primeiras posições sempre cam vazias.
unberg tinha 15 anos de idade quando deu início ao
movimento, que convocou milhões de jovens em todo
o mundo a faltar à escola às sextas-feiras, como forma
de exigir ações climáticas. Ela sentou-se sozinha diante
do Parlamento sueco, com um cartaz dizendo: “Greve
escolar pelo clima”.
A adolescente virou adulta: aos 20 anos e recém-forma-
da no ensino médio, Greta unberg fez em junho deste
ano a sua última greve pelo clima como estudante se-
cundária. Em 2019, ela fez uma pausa nos estudos para
aumentar a conscientização global sobre a ação climáti-
ca, o que atrasou em um ano sua formatura.
"Hoje eu me formo na escola, o que signica que não
poderei mais fazer a greve escolar pelo clima. Esta é a
última greve escolar para mim", disse a ativista sueca.
“Mas vou continuar a protestar às sextas-feiras, mesmo
que não seja tecnicamente uma greve escolar. Simples-
mente não temos outra opção senão fazer tudo o que
pudermos. A luta está apenas começando, avisou ela.
Greta não foi a Dubai, mas não foi a única sueca ausente.
Nenhuma das grandes organizações ambientais da Sué-
cia aceitou participar da COP28.
Uma das principais razões foi a decisão do país antrião
de nomear o sultão Ahmed Al Jaber, CEO da Companhia
Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, uma das maiores
petrolíferas mundiais, para o papel de presidente da
conferência.
11
Itália, por FERNANDA MASSAROTTO
A guerra para manter a crise climática na pauta
N
os últimos dois anos, a guerra entre a Rússia e a
Ucrânia foi destaque na mídia italiana. Instabili-
dade econômica e o martírio da população ucraniana
deixaram outros temas, como o clima, em segundo
plano.
Os preparativos para a COP28 seriam uma oportuni-
dade para a cobertura ambiental ganhar mais espaço,
até que em 7 de outubro houve o ataque do Hamas a
Israel. Mas a crise do clima é tão importante que até
as guerras têm sido motivo para falar dela.
"Perdemos visibilidade com as guerras, mas nem tan-
to", ameniza Edoardo Vigna, editor do Planeta 2030,
do Corriere della Sera.
"A guerra na Ucrânia inuiu para que tratássemos
a questão do ponto de vista energético, ainda que
tenhamos sido levados a reduzir espaço para pes-
quisas, análises e soluções", diz o editor do caderno,
criado há quatro anos para acompanhar a crise das
mudanças climáticas.
O Planeta é cuidadoso com o excesso de termos téc-
nicos e usa recursos visuais para facilitar a compreen-
são, como explica Vigna:
"Nossos textos são diretos e fáceis de entender.
Também exploramos histórias em quadrinhos, in-
fográcos e fotos que ilustram a beleza da nature-
za e o descaso com o meio ambiente".
Blogs, contas no Instagram e no TikTok, progra-
mas de rádio, TV e canais na internet somam-se
aos cadernos dos tradicionais jornais italianos.
Mas a realidade é que a informação ambiental
ainda tende a ter um papel marginal na imprensa
do país e é dependente de acontecimentos extre-
mos.
É o que mostra o “Relatório Eco Media 2022", pro-
duzido pelo Instituto italiano Pentápolis Ets, em
colaboração com o Instituto de Formação em Jor-
nalismo de Urbino.
O estudo apurou que no segundo quadrimestre
de 2022 os principais jornais italianos publicaram
em média três artigos por dia sobre o tema.
Houve um pico de visibilidade entre julho e se-
tembro, quando ocorreram alguns desastres am-
bientais, como as enchentes na região de Marche
e a avalanche da maior geleira dos Alpes Italianos,
REPRODUÇÃO
Na Itália, o alarmismo ambiental nem
sempre tem ajudado a conscientizar sobre
os riscos ao futuro do planeta. Por vezes,
o resultado é o oposto.
Algumas iniciativas de grupos de jovens
ativistas, como o Fridays for Future, são
questionadas principalmente quando da-
nicam monumentos e obras de arte", co-
menta a jornalista Laila Bonazzi.
"Minha sensação é que tais ações levam as
pessoas a se desinteressarem pela causa",
avalia ela.
O efeito colateral de ataques a monumentos
a Marmolada. Completando a "tem-
pestade perfeita", aconteceram no
período a grave crise hídrica e as for-
tes ondas de calor durante o verão.
Esses picos conrmam que o inte-
resse da mídia sobre as mudanças
climáticas segue um ritmo instável
na Itália.
A inconstância está relacionada às
prioridades do governo vigente ou
mesmo aos pactos entre os setores
público e privado.
A primeira-ministra italiana, Giorgia
Meloni, tem dispensado mais aten-
ção à crise migratória que afeta o
país do que às prioridades do clima.
"A nossa sorte é que a União Euro-
peia dita leis para a proteção do meio
ambiente que devem ser adotadas e
respeitadas pelos países membros",
observa Laila Bonazzi, jornalista e
estrategista de comunicação na área
de sustentabilidade.
Em maio, manifestantes do grupo Last
Generation tingiram de preto as águas
da Fontana di Trevi, em Roma.
Os jornalistas se dividem
na avaliação da ecácia das
ações e defendem equilí-
brio entre boas e más no-
tícias.
"Entende-se que para
aproximar o leitor menos
interessado é necessário
mostrar as possíveis conse-
quências e as catástrofes,
deixando claro que é urgen-
te encontrar uma solução",
avalia a jornalista.
12
por FERNANDA MASSAROTTO
Entrevista IACOPO SCARAMUZZI, Vaticanista, La Repubblica
O chamamento do Papa
à "conversão ecológica"
Q
ual o poder das celebridades globais na mobiliza-
ção de pessoas comuns, líderes políticos e das em-
presas para o combate às mudanças climáticas e mitiga-
ção de seus efeitos?
O Papa Francesco acredita nesse poder, e se tornou o pri-
meiro pontíce da história a conrmar que participaria
de uma conferência do clima da ONU. Infelizmente para
a causa ambiental, sua saúde frágil o obrigou a cance-
lar a viagem, que certamente amplicaria o impacto de
suas manifestações sobre a crise climática.
A mais recente foi um documento publicado em outu-
bro, intitulado Laudete Deum, no qual ele pede a todas
as pessoas de boa vontade uma “conversão ecológica.
O chamamento é para que reconheçam o planeta “como
um dom recebido do Pai”.
No dia em que deveria falar em Dubai, o pontíce usou
sua conta no Twitter/X para cobrar dos estrategistas o
foco no bem comum e na juventude, e não nos interes-
ses de "certos países e negócios", mostrando "nobreza
na política".
A intenção do Papa de participar da COP28 foi bem rece-
bida na Itália e vista como positiva pelos jornalistas que
cobrem a Santa Sé, entre eles o vaticanista Iacopo Sca-
ramuzzi, que trabalha no jornal La Repubblica e acompa-
nha os acontecimentos do Vaticano há mais de 20 anos.
Surpresa,
mas nem tanto
“Desde o início do seu papado, Jorge Mario
Bergoglio investiu muita energia em causas
sociais. A mudança climática é uma delas.
Ao contrário dos seus antecessores, ele usa
sua inuência para atrair a atenção não só
dos éis, mas de toda a audiência global
para as questões ambientais."
O Papa e o clima
“O interessante é que o Papa Francesco foi
estabelecendo um vínculo com as questões
ambientais ao longo dos anos com muita
sutileza. Durante a COP21, realizada em
Paris, em 2015, ele fez questão de marcar
posição telefonando à então Ministra do
Ambiente Ségolène Royal, que presidia a
conferência.
Em 2021, a Santa Sé organizou o encontro
“Fé e Ciência: rumo à COP26", marcada para
Glasgow. Com a participação de cientistas
e líderes religiosos, foram discutidas solu-
ções para a redução de emissões de carbo-
no e formas de ajudar os países pobres a
alcançá-las.
Autoridade moral
“Vale lembrar que nem o Papa e nem a
Igreja Católica têm poder político como
antigamente. São hoje em dia autoridades
morais.
Mas o que importa é que suas palavras são
ouvidas e recebidas com muita atenção.
E não digo apenas pelos católicos. Quando
ele aborda um assunto delicado, sabe que
vai gerar um interesse global da mídia.
Não o vejo como um ecologista ou ativista,
mas como uma autoridade que se preocu-
pa com o nosso destino, com o da natureza
e também com as consequências sociais
que teremos de enfrentar. Com certeza, ele
mobiliza e nos faz reetir.
Iacopo Scaramuzzi: "O Papa tem
autoridade moral para fazer o
mundo refletir".
C
M
Y
CM
MY
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K
262 - ANÚNCIO REVISTA - 11-2023(c) .pdf 1 01/12/23 11:54
Os veículos Chevrolet estão em conformidade com o Proconve - Programa de Controle
da Poluão do Ar por Veículos Automotores. SAC: 0800 702 4200.
No trânsito, escolha a vida!
ESCREVENDO
O FUTURO A PARTIR
DO ZERO.
Zero acidente.
Zero emissão.
Zero congestionamento.
A GM compartilha a visão de um futuro com zero acidente, zero emissão e zero congestionamento.
Assumimos o compromisso da neutralidade em emissões de carbono até 2040. Estamos investindo
35 bilhões de dólares até 2025 para lançar 30 modelos 100% elétricos em todo o mundo. No Brasil,
já anunciamos novos modelos da Chevrolet que, junto ao Bolt EUV, vão complementar o portlio
zero emissão no país.
14
Estados Unidos, por ELOÁ ORAZEM
O movimento anti-ESG cresce no país
cujo presidente esnobou a COP28
T
rês em cada quatro americanos acre-
ditam que as mudanças climáticas já
prejudicam quem vive nos Estados Uni-
dos, e 73% dos entrevistados disseram
que um número cada vez maior de plantas
e animais corre risco de extinção. Os da-
dos são da Pew Research, uma das agên-
cias de pesquisas mais relevantes do país,
que, em 2023, estendeu o questionário a
respeito da pauta ambiental – mesmo ano
em que o país bateu recorde de desastres
climáticos bilionários.
Apesar dos números, o líder da maior po-
tência mundial não foi à COP28. A Casa
Branca justicou a ausência de Joe Biden
alegando que o presidente estaria focado
no conito do Oriente Médio. Na agenda
pública, porém, constavam eventos como
Utilizando critérios pré-determinados, pode-se
avaliar cada prática ESG de uma empresa. A
pontuação geral é resultado do cálculo médio
dessas classicações.
Pareceu confuso? Pois é. "Estudos mostraram
que as pontuações variam de forma dramáti-
ca, dependendo da agência avaliadora", explica
Hiatt. "Por exemplo, a Tesla pode ter um ESG
super alto segundo a avaliação da agência A,
mas ter um escore baixo na B. Isso acontece
porque os indicadores são distintos, e as pes-
soas não sabem de que forma este ESG está
sendo calculado".
Outro ponto levantado pelo docente tem a ver
com o risco nanceiro. Quando avaliamos as
práticas que englobam o Environmental, Social
and Governance, não levamos em conta a saú-
de nanceira da companhia, de forma que uma
empresa sustentável pode não ser rentável – o
que inviabilizaria a coisa toda.
Para quem acompanha o movimento anti-
-ESG, nem tudo são bandeiras partidárias. O
professor da USC, Shon Hiatt, especialista em
energia, é um dos que pensam assim. Em con-
versa com o MediaTalks, ele citou diferentes
fatores para explicar essa tendência – todos
ligados à "pontuação" que avalia o escore ESG
das empresas.
uma reunião bilateral com o presidente de
Angola e a "inauguração" da árvore de Na-
tal, em Washington DC.
Essa incoerência da Casa Branca é condi-
zente com o momento do país, que se diz
preocupado com o clima, mas "desabona"
o ESG. Um levantamento da Reuters, pu-
blicado em julho deste ano, mostrou que
mais de US$ 15 bilhões foram retirados de
fundos ESG apenas no segundo trimestre
de 2023.
A pressão de Wall Street não para por aí. O
empresário do setor de tecnologia e saúde
Vivek Ramaswamy ganhou as manchetes
ao armar que o lucro virou algo "secun-
dário" para as grandes corporações, que
preferem "lacrar" nas redes sociais.
Ramaswamy chegou a escrever uma carta aberta ao
CEO da Apple, Tim Cook, pedindo para que a empre-
sa pare de levar em consideração a diversidade racial
na contratação de funcionários, e passe a priorizar a
qualidade dos candidatos. O magnata conservador se
tornou, por assim dizer, uma espécie de porta-voz do
movimento anti-ESG.
Essa contracorrente ganhou força também na esfera
política dos Estados Unidos, sobretudo entre os re-
publicanos. O governador da Flórida, Ron DeSantis,
proibiu sua administração de tomar decisões base-
adas em conceitos de sustentabilidade, e chegou a
declarar que ESG é uma ameaça à economia.
Vale lembrar que, em agosto de 2023, a Flórida foi
atingida pelo furacão Idalia, que deixou pelo menos
quatro mortos no estado e um prejuízo de até US$
20 bilhões.
Por m, Hiatt acredita que um peso desproporcional dos
critérios da avaliação ESG esteja demasiadamente focado
na emissão de carbono, o que explica a guinada republica-
na na direção do movimento anti-ESG.
"Estados conservadores, como Texas, Ohio e West Virginia,
têm empresas que estão envolvidas em práticas com alta
emissão de carbono, tais como extração de petróleo, re-
nação e extração de carvão. Essas empresas terão, natural-
mente, uma pontuação muito mais baixa do que qualquer
outro negócio de outro setor", explica o professor.
"Assim, essas empresas saem em desvantagem para obter
nanciamento, porque grandes investidores institucionais,
como fundos de pensão, não querem mais investir em ne-
nhuma empresa que tenha, digamos, uma pontuação ESG
inferior a 70", diz Hiatt.
Segundo o professor, é por isso que há fundos estaduais
que atacam as classicações ESG porque acreditam que o
rating
desfavorece muitas das empresas sediadas em seus
estados.
Shon Hiatt | Do contra, mas com razão?
15
Edward Freeman | O ‘criador’ do ESG
Vem da costa leste dos Estados Unidos um
contraponto. Diretor da Iniciativa ESG da
Universidade da Pensilvânia, o professor
Witold Henisz é enfático ao falar que esse
movimento "do contra" é estritamente po-
lítico, ampliado pela mídia.
"Não quero dizer que ele não tenha impli-
cações práticas, mas acho que sua impor-
tância é superestimada", contou ao Media-
Talks.
Henisz reconhece que o sistema ESG não
é perfeito e que há muito a lapidar, mas
acredita que o capital continua apontando
nesta direção – assim como os eleitores.
"Se olharmos para o movimento ESG e
para o anti-ESG, vemos que um lado tem
mais dinheiro, mais votos e mais impac-
to, enquanto o outro é basicamente um
posicionamento político. Este assunto deveria ser tratado
apenas nas páginas de política, e não nas de negócios e -
nanças", pontua.
Embora concorde com o argumento da falta de coerência
dos critérios de avaliação das práticas de ESG, Henisz teme
que isso sufoque todo o movimento.
"Eu simpatizo com muitas das críticas especícas (ao ESG).
Só não me prendo à conclusão de que devemos nos livrar
dele ou de que é perigoso. Minha conclusão é que ainda
temos aprimoramentos a fazer, e estou empenhado em fa-
zer esse trabalho. Encorajo os críticos do movimento ESG
a nos mostrar uma alternativa melhor. Não apenas a jogar
pedras. Ajudem a encontrar o caminho a seguir, onde pos-
samos mostrar como o risco climático é real e como isso
não é uma coisa dos Democratas, nem uma questão dos
Republicanos. O escore ESG não pode ser reduzido a uma
questão ideológica. É uma boa forma para avaliar os riscos
nanceiros do clima, os riscos nanceiros da justiça social.
Todos devemos concordar com isso".
A teoria dos
stakeholders
, publicada em
1984, por Edward Freeman, é considerada,
por muitos, uma das forças motoras do mo-
vimento ESG. Por isso, desde então, Free-
man fala e escreve muito sobre o tema – e
conversou com o MediaTalks.
Para o especialista, toda discussão sobre
o tema deve ser comemorada, porque
denota evolução. "Acho que o ESG, em si,
já é um avanço: primeiro houve um con-
ceito e um modelo, depois começamos
a aprimorá-lo. Essa estrutura de análise
de investimento é uma ferramenta que prioriza o
stakeholder
e que simplifica sua abrangência".
Ainda de acordo com ele, a ideia de ignorar o bem-
-estar gerado por uma empresa, para focar apenas
no seu retorno financeiro é uma ideia absurda,
cujo fracasso já foi, inclusive, comprovado. "A cri-
se financeira de 2008 é, para mim, um dos casos
que melhor ilustram o que pode acontecer quando
os
stakeholders
são ignorados para priorizar o inte-
resse dos investidores", disse.
Invocando Oscar Wilde – "todo santo tem um pas-
sado, e todo pecador tem um futuro" – Freeman
nos encoraja a abdicar de narrativas do tipo "esta
empresa é boa; esta empresa é má", alertando que
as coisas são bem mais complexas do que isso.
"A gente tem a concepção errada de que conver-
sar sobre ética e sobre valores são diálogos leves
e sutis, e que falar de orçamento e de metas é uma
conversa difícil. Eu acho que é justamente o con-
trário", diz.
Witold Henisz | O avesso do avesso
16
“Temos que equilibrar a indignação com
o otimismo”, diz ex-chefe do clima da ONU
que negociou Acordo de Paris
por AJIT NIRANJAN, e Guardian (compartilhada com os membros da rede Covering Climate Now)
“A
s pessoas devem equilibrar a indigna-
ção e o otimismo depois de um ‘verão
infernal’ de condições meteorológicas ex-
tremas, pediu em entrevista a ex-chefe do
clima da ONU durante a COP28.
“Temos de manter a indignação elevada
porque estamos muito atrasados”, disse
Christiana Figueres, negociadora veterana
aclamada como a arquiteta do acordo cli-
mático de Paris.
Ela destacou as fracas políticas que os go-
vernos estabeleceram para reduzir a polui-
ção que provoca o aquecimento do planeta
e os subsídios de US$ 7 bilhões que desti-
nam direta e indiretamente aos combustí-
veis fósseis.
Mas Christiana Figueres disse que há mo-
tivos para otimismo que podem impedir
que as pessoas caiam em um “buraco sem
saída”.
“Eu faço uma escolha consciente todas
as manhãs ao dizer ‘sim, eu sei quais são
todas as más notícias’ – isso é fácil de ver
porque elas aparecem em qualquer feed de
notícias. Mas também: o que está aconte-
cendo de positivo? Quais são os elementos
disruptivos congurando evidências reais
e fortes de que a situação está mudando?”.
Falando a um grupo de repórteres em
entrevista organizada pela coalizão Co-
vering Climate Now, Figueres destacou
a queda acentuada do custo das energias
renováveis e o maior uso dos carros elétri-
cos como áreas onde mudanças positivas
acontecem cada vez mais rapidamente.
“Mas estamos “terrivelmente perto” de
pontos de ruptura, mesmo que estes não
sejam determinantes para o nosso desti-
no, acrescentou.
Figueres, diplomata costarriquenha que co-
meçou a trabalhar com clima na década de
1990, disse que sente momentos de desespe-
rança, desamparo e depressão todos os dias,
mas “não é o meu sentimento dominante e
certamente também não é a minha energia
dominante”.
“No momento em que desistimos e dizemos
‘OK, estamos condenados, estamos acima
de 1,5°C, vou apenas rastejar para dentro do
meu pequeno cubículo e puxar os cobertores
– então temos uma profecia autorrealizável,
com certeza. Nossa responsabilidade é com-
preender a ameaça e fazer tudo para evitá-la.
Na conferência de Paris em 2015, quando
Figueres era a chefe do órgão da ONU que
supervisionava o encontro, os governos assi-
naram um tratado juridicamente vinculativo
para impedir o aquecimento do planeta 2ºC
acima das temperaturas pré-industriais até o
m do século, e idealmente 1,5ºC.
Mas nos oito anos seguintes, os líderes
mundiais continuaram a promover polí-
ticas que irão obstruir a atmosfera com
mais carbono do que muitas pessoas e
ecossistemas conseguem suportar. A
cúpula deste ano é organizada pelos
Emirados Árabes Unidos, grande pro-
dutor de petróleo e gás. O presidente
da COP28, Ahmed Al Jaber, é o chefe da
empresa petrolífera nacional dos Emi-
rados Árabes Unidos, Adnoc, que plane-
ja expandir a produção de combustíveis
fósseis.
Al Jaber e os seus apoiadores argumen-
taram que a indústria é um parceiro im-
portante que merece um lugar à mesa.
Figueres disse que durante muitos
anos defendeu uma atitude semelhan-
te porque as empresas de combustíveis
fósseis têm alguns dos "bolsos mais
cheios” e os engenheiros mais quali-
cados.
Christiana Figueres
REPRODUÇÃO
17
Esta matéria do jornal e Guardian é publicada aqui como parte da
rede colaborativa jornalística global Covering Climate Now.
Mas a sua conança diminuiu desde a invasão
da Ucrânia pela Rússia e o aumento dos pre-
ços da energia. ”As principais empresas de
petróleo e gás, que se vendiam como parte da
solução para as alterações climáticas, distri-
buíram lucros extraordinários para enriquecer
ainda mais os acionistas, ao mesmo tempo que
cortaram seus gastos em energias renováveis”
ela disse.
“Isso é imperdoável. Infelizmente, perdi a mi-
nha esperança nas empresas de petróleo e gás
devido às evidências que surgiram nos últimos
12 a 24 meses. Estaríamos em uma posição
muito melhor se eles decidissem investir suas
habilidades de engenharia incomparáveis e
suas grandes carteiras na busca de soluções?
Certamente. Eles estão fazendo isso? Não,
concluiu.
Numa postagem no X, Figueres disse que a
presidência da COP28 foi “apanhada em a-
grante” e apelou por mais transparência e
responsabilização. Os ativistas climáticos cri-
ticaram as conferências anteriores porque os
acordos estavam muito distantes daquilo que
os cientistas demonstraram ser necessá-
rio para impedir a mudança do clima.
Foram necessárias 25 COPs até que os
governos estivessem dispostos a abordar
combustíveis fósseis na sua declaração
nal. Figueres disse que existe o perigo
de as pessoas esperarem do processo
resultados para os quais ele não foi con-
cebido.
A COP foi desenhada, e digo isso porque
estive lá e contribuí para o desenho, para
entregar acordos multilaterais de todos
os governos nacionais unidos. Para colo-
car grades de proteção, se quiserem, ou
para redigir um plano de negócios global
ou qualquer equivalência que queira usar
para a descarbonização da economia.
Essa tarefa foi “substancialmente concluída, disse
ela, embora permaneçam muitas questões impor-
tantes relativas aos investimentos. Mas em termos
de redução de emissões, “agora é hora de passar-
mos para esforços em escala nacional e compromis-
sos empresariais. É aí que a ação precisa ocorrer.
Figueres também defendeu o processo da COP e o
acordo de Paris por não punirem os governos que
não cumprem as suas promessas de parar o aqueci-
mento do planeta.“Vamos apenas lembrar que não
temos uma polícia ambiental no mundo, disse.
Quando o Canadá não cumpriu o protocolo de Kioto
– um tratado anterior para reduzir as emissões de
gases com efeito de estufa que incluía multas pelo
não cumprimento – Figueres recebeu “um pequeno
bilhete” do então primeiro-ministro dizendo que
estava retirando o seu país do tratado.
H
á algum tempo, o Brasil tem sido visto
como um expoente global em susten-
tabilidade. Tanto que, neste ano, o Brasil
contou com uma das maiores comitivas na
COP28, a conferência do clima da ONU, com
12 ministros, mais a presença do Presidente
da República.
Nos últimos meses, uma coalizão composta
por algumas das maiores fabricantes de au-
tomóveis presente no Brasil está intensa-
mente mobilizada para garantir que a refor-
ma tributária, no que tange ao segmento,
possa reetir não só as melhores práticas
de isonomia e competitividade, mas tam-
bém estimular a adoção de tecnologias
mais limpas.
Hoje em dia, temos os carros híbridos a
etanol e os elétricos, que não poluem ou
que são muito mais sustentáveis do que a
solução de propulsão que ainda predomina
atualmente, que é o motor a combustão.
Considerando todo o investimento em sus-
tentabilidade, é imprescindível que nossos
congressistas atuem no mesmo sentido
quando o assunto é reforma tributária.
Não faz sentido manter incentivos scais
para a produção de carros a combustão.
Além de desequilibrar as condições de
competitividade, estaríamos estimulando
a continuidade de uma tecnologia poluente
ao invés de utilizarmos esses incentivos a
favor da produção local de tecnologia lim-
pa.
Estamos às vésperas da votação da refor-
ma tributária na Câmara dos Deputados e o
texto considera a continuação do incentivo
scal para produção de carros a combustão
na região Nordeste. Se estamos tão empe-
nhados na questão da sustentabilidade, va-
mos continuar utilizando recursos públicos
para estimular ainda mais a produção de
motores a combustão?
Isso nos deixa em uma posição vulnerável
no que diz respeito à descarbonização e ao
combate às mudanças climáticas. Nossos
congressistas são os únicos que podem co-
laborar para incentivarmos a produção de
carros mais limpos, por meio da votação da
reforma tributária.
Estamos diante de um momento histórico,
que vai ajudar a denir as bases para o cres-
cimento do Brasil nos próximos anos. Não
podemos perder a oportunidade de tomar a
melhor decisão para a sociedade brasileira,
que é a de incentivar práticas mais susten-
táveis para a indústria automotiva e garan-
tir um futuro mais sustentável para todos.
por FABIO RUA,
Vice-Presidente
da GM
A sustentabilidade
nas decisões tributárias
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
19
Pesquisa
Em um mundo com ‘déficit de informação
climática’, brasileiros estão entre os que
mais temem danos às gerações futuras
por ALDO DE LUCA , MediaTalks, Londres
A
maioria das pessoas não sabe tanto sobre as
alterações climáticas como pensa que sabe,
mostrou uma pesquisa do Programa de Comu-
nicações Climáticas da Universidade de Yale
realizada em agosto e setembro entre 140 mil
usuários do Facebook em 187 países, incluindo
o Brasil.
O trabalho revelou o que a organização de jor-
nalismo ambiental Covering Climate Now clas-
sicou de "décit de informação climática".
Como se observa nos mapas, nos quais a cor
vermelha assinala os maiores índices e a azul os
menores, as pessoas em todo o mundo reconhe-
cem que as mudanças climáticas estão aconte-
cendo e dizem que estão preocupadas com elas.
Porém, a maioria não sabe dizer exatamente o
que são elas e nem as associam à ação humana,
principalmente nos paísas da África e da Ocea-
nia. Os portugueses são os que mais associam a
crise do clima à ação do homem.
Cerca de quatro em cada 10 pessoas, principal-
mente nos países em desenvolvimento, nem se-
quer conhecem o termo “mudanças climáticas.
Mas os brasileiros e seus vizinhos das Américas
do Sul e Central estão entre os que mais perce-
bem o risco que elas representam para as gera-
ções futuras e os que mais esperam que o tema
seja tratado como prioridade por seus governos.
Conra as principais conclusões:
Está acontecendo
Poucos países apresentaram mais de 70% de
conhecimento sobre mudanças climáticas. Os
campeões foram Finlândia (89%), Hungria (85%),
Áustria (77%) e Alemanha (76%)
64% dos brasileiros armam que têm algum
conhecimento. Na América do Sul, são os que
mais dizem conhecer a questão, seguidos por
uruguaios (57%) e argentinos (56%)
Entrevistados do Benin e do Haiti foram os que
mais responderam (36%) nunca ter ouvido falar
do tema
Em quase todos os países, mais de 70% dos
entrevistados disseram que as mudanças
climáticas estão acontecendo
Nove em cada dez brasileiros concordam, um dos
índices mais altos da pesquisa
O maior percentual, de 94%, foi de El Salvador,
seguido de perto por Sri Lanka, Taiwan, Armênia
e Nicarágua, todos com 93%
Os países mais céticos quanto à ocorrência das
mudanças climáticas foram Haiti (64%), Austrália
e Holanda (70%) e Laos e Áustria (71%)
Sei o que é
20
Pesquisa
Estou preocupado
Danos às gerações futuras
Deveria ser prioridade do governo
Por causa humana
Nenhum dos países apresentou um índice
maior de 70% de pessoas atribuindo a culpa das
mudanças climáticas ao homem
Os portugueses (61%) são os que mais culpam
a humanidade pelo problema, seguidos por
espanhóis (59%) e nlandeses (57%)
Os que menos culpam a humanidade são os
indonésios (20%) e haitianos (18%)
Mais da metade dos brasileiros (52%) acredita
que o problema é causado pela ação humana
A maioria dos países têm mais de 70% das
pessoas preocupadas com a crise do clima
Os mais preocupados estão na Coreia do Sul e
Porto Rico (93%), seguidos por Costa Rica, El
Salvador, México e Equador (92%) e Portugal,
Panamá, Colômbia e Uruguai (91%)
Os menos preocupados estão no Iêmen (47%) e
na Holanda (45%)
83% dos brasileiros se mostraram preocupados
e só 4% disseram não estar nem um pouco
preocupados
Nas Américas do Sul e Central, mais de 70% dos
entrevistados temem esse impacto
Os maiores percentuais são de Porto Rico
(84%), Costa Rica (83%), Taiwan, México e El
Salvador (81%) e Chile (80%)
Os entrevistados que menos enxergam esse
risco são os do Iêmen (27%)
72% dos brasileiros veem muito risco às
gerações futuras, 11% acham esse risco
moderado, 3% o consideram pequeno e 1% não
vê qualquer risco
Nas Américas do Sul e Central, mais de 70%
acham que o problema deve ser prioridade de
governo
Os mais convictos disso estão em Porto Rico
(92%) e El Salvador (90%)
Os que menos acham isso estão na Turquia
(45%) e no Iêmen (38%)
Confira a
íntegra da
pesquisa
aqui.
81% dos brasileiros acham
que as mudanças climáticas
deveriam ser uma prioridade do
governo
21
MARINA AMARAL
Co-fundadora e editora da Agência Pública
A mídia digital colocou
o clima, os índios e a
Amazônia na pauta
Q
uando comecei a trabalhar como jornalis-
ta, nos ventos da redemocratização, ouvi
mais de uma vez em redações: colocar indíge-
nas na capa “não vende.
As fotos caíam bem nas edições de domingo,
mas reportagens sobre indígenas eram espo-
rádicas, desconectadas das manchetes, com
acento no exótico e na suposta intrepidez do
jornalista que chegou ao “Brasil profundo,
expressão reveladora de como os meios de co-
municação se relacionavam com a maior parte
do país e suas populações.
Havia casos pontuais, em que se investigava
crimes contra lideranças indígenas, quase
sempre por iniciativa dos próprios repórteres.
Mas a situação permanente de violência con-
tra indígenas e comunidades tradicionais, alia-
da ao desmatamento e à invasão de terras por
grandes projetos governamentais, empresas
ou por fazendeiros de outras partes do país
não era retratada.
Menos ainda se cobria a dimensão do colapso
ecológico que nos traria à atual situação de
emergência climática, impossível de ignorar
neste ano, o mais quente da história.
Não custa lembrar: o desmatamento é res-
ponsável por metade das emissões de gases
de efeito estufa no país. E é nas terras indíge-
nas que o desmatamento é menor, incluindo
na comparação com parques e reservas nacio-
nais, apesar das invasões.
A cobertura jornalística da Amazônia, dos
conitos no campo, e do colapso ecológico
só passou a ser feita de forma sistemática no
país depois do surgimento da mídia digital.
Não é coincidência que as organizações pio-
neiras nesse campo, como a Repórter Brasil e
a Agência Pública, fundada em 2011, estejam
também entre as primeiras a investigar esses
temas.
No nosso caso, lançamos o projeto Amazônia
Pública em 2012 e continuamos nessa cober-
tura, que cresceu à medida que as questões se
mostram mais relevantes - tivemos duas jor-
nalistas cobrindo a COP em Dubai.
Geradas no momento em que a Internet mos-
trava sua potência na quebra das hierarquias
da informação e a troca entre prossionais da
imprensa de diversos países se intensicou, as
organizações de mídia digital libertaram o jor-
nalismo de preconceitos e orçamentos encur-
tados pela crise dos anunciantes, buscando
novas fontes de recursos para fazer reporta-
gens em campo, demoradas e custosas.
Também aproximou os jornalistas dos anseios
reais do público, ou de parte signicativa das
novas gerações.
Como explicar, por exemplo, que depois de
décadas sofrendo violência ignorada pelos
jornais, os Guarani-Kaiowá receberiam em
peso a solidariedade dos usuários do Face-
book, que em janeiro de 2013 se tornaram
sobrenome’ de milhares deles?
As pessoas queriam, sim, falar de Amazônia,
indígenas, desmatamento, conitos. E nin-
guém mais estava preocupado com as capas
dos veículos impressos. No novo ecossiste-
ma de informações, também os ativistas e as
próprias comunidades ganharam voz, com o
surgimento de mídias regionais - como o site
Amazônia Real, o Observatório do Clima, e
tantos outros.
Isso impactou as pautas da mídia tradicio-
nal, acostumada a investigar obras públicas
apenas do ponto de vista da corrupção e dos
impactos econômicos, com fontes do gover-
no e instituições. A mídia digital “empurrou”
a pauta dos impactos ambientais das grandes
obras na Amazônia, trouxe a voz das comuni-
dades tradicionais na preservação e apontou
a relação da violação dos direitos dessas po-
pulações com o colapso global.
As populações dos países reunidos em Dubai
só têm a ganhar com a democratização da co-
municação e a qualicação do debate públi-
co. Do calor das notícias da mídia tradicional
ao aprofundamento da informação pelos no-
vos meios, o que importa mesmo é que todos
olhem para cima” e conversem.
Talvez então seja possível compartilhar
“ideias para adiar o m do mundo, como nos
ensina Ailton Krenak.
22
Pesquisa em 18 países da América
Latina mostra barreiras para a
cobertura ambiental na região
A
distância entre vontade e realidade na
cobertura dos efeitos das mudanças
climáticas na América Latina foi examina-
da este ano por um estudo nanciado pelo
Programa Regional de Segurança Energé-
tica e Mudanças Climáticas da Fundação
Konrad Adenauer, da Alemanha.
O relatório “Desaos e soluções para
jornalistas e outros atores na América
Latina”, produzido pelas ONGs Instituto
Libélula e ConexiónCOP, analisa como três
temas ambientais fundamentais (altera-
ções climáticas, biodiversidade e economia
circular) estão sendo retratados e o que
pensam os jornalistas da região.
Os pesquisadores colheram impressões
de 130 prossionais de 18 países por meio
de questionários, e zeram entrevistas em
produndidade com jornalistas ambientais.
Embora 68% dos participantes achem que
a cobertura melhorou, há um longo cami-
nho a percorrer para atingir o ponto ideal.
30% x 2%
Na região de ecossistemas ameaçados
como a Amazônia e onde diversas
economias dependem da exploração
de recursos naturais, metade dos
especialistas acham que pelo menos
30% do noticiário deveria abordar os três
ângulos das mudanças climáticas denidos
como relevantes para a compreensão
do público. No entanto, apenas 2% das
notícias o zeram nos últimos cinco anos.
Retos y
Soluciones
para periodistas y otros
actores de América
Latina y el Caribe
Cobertura del cambio climático,
biodiversidad y economía circular
2023
En colaboración con:
Notícias
‘importadas
A falta de estrutura dos veículos da Améri-
ca Latina leva a uma prevalência de fontes
internacionais em detrimento de porta-
-vozes locais. A ONU foi mencionada como
referência para 65% dos entrevistados, en-
quanto 51% disseram que o conteúdo que
produzem é uma combinação de notícias
próprias com informações de agências in-
ternacionais.
Na COP27, segundo análise da ONG Climate
Tracker, 62% de 229 notícias pesquisadas
vieram de uma agência de notícias euro-
peia, dando uma visão “eurocêntrica” da
questão ao público latino-americano.
Conitos, ciência e
soluções
Associar as mudanças climáticas à vida real
- catástrofes, migração, pobreza, política e
saúde - é visto por 48% dos entrevistados
como importante para melhorar a cobertu-
ra dos três temas.
O jornalismo de soluções, contando histó-
rias positivas sobre o clima, já vem sendo
empregado por 53% deles. Outros 32% ain-
da não conseguiram colocá-lo em prática.
Outra preocupação levantada é que a ci-
ência nem sempre faz parte da história na
região. Angela Posada Swaord, jornalista
e escritora colombiana-americana, obser-
va no relatório que o jornalismo ambiental
deveria ser essencialmente cientíco, “mas
ainda precisamos entender muito de ciên-
cia básica na América Latina. `
O relatório completo pode ser visto aqui.
Vontade, interesse
e recursos
Para mais de 6 em cada 10 jornalistas ou-
vidos (64%), o público quer saber mais
sobre esses assuntos. Mas apenas 29%
dos prossionais acham que a imprensa
está realmente interessada em falar sobre
eles.
Poucas equipes dedicadas e falta de re-
cursos para cobrir questões complexas
foram apontados como razões para uma
cobertura supercial e até tendenciosa
das mudanças climáticas, seus efeitos e
soluções para mitigá-los.
Jornalistas querem
fazer mais…. mas
não conseguem
Quase 8 em cada 10 entrevistados acham
importante contribuir para dar visibili-
dade às qestões ambientais. Mas apenas
22% deles acham que estão fazendo o
possível para proteger os recursos natu-
rais por meio de seu trabalho.
Então, o que falta?
Para melhorar a cobertura ambiental,
28% dos prossionais ouvidos no estudo
apontam a necessidade de recursos -
nanceiros, enquanto 17% pedem pessoal
qualicado.
Os entrevistados também salientaram a
importância do comprometimento dos
editores e dirigentes com uma linha edi-
torial que valorize as questões climáticas.
23
"Não é meu "Não é meu
trabalho trabalho
manter a manter a
audiência de audiência de
bom humor de bom humor de
maneira falsa"maneira falsa"
por CLAUDIA WALLIN
E
rika Bjerström é uma das vozes mais
respeitadas do jornalismo ambiental
na Suécia. Com mais de trinta anos de
carreira, trabalha desde 2019 como cor-
respondente global de meio ambiente da
SVT, a TV pública do país.
“Não é meu trabalho manter a audiência
de bom humor”, diz, ao rebater as críticas
que classicam como "alarmista" a co-
bertura da mídia sobre a crise climática.
A situação é inacreditavelmente grave.
Estamos diante de um desastre, do maior
desao que a humanidade já enfrentou, e
é preciso fazer reportagens que mostrem
isto, destaca Erika, que defende a impor-
tância do jornalismo de soluções para a
causa do clima.
Engajamento
“Não acho que seja atribuição da mídia
manter a sociedade engajada. Isto é uma
tarefa para os políticos, cabendo a nós in-
formar sobre o que eles fazem.
Minha missão é apresentar projetos viáveis
de larga escala e mostrar que a transição
verde é possível e nanceiramente viável.
É nisso que invisto meu tempo, com repor-
tagens que dão esperança e que mostram
Entrevista ERIKA BJERSTRÖM, Jornalista ambiental, Rede SVT | Suécia
continua...
Em seu livro “A Crise Climática da Suécia, Erika Bjerström mostra
que, ao contrário da maior parte do mundo, os ricos do país serão
atingidos primeiro. Isso porque a elevação do nível do mar afetará
inicialmente a península de Falsterbo, onde vivem os milionários.
“Minha impressão é que os suecos não estavam muito conscientes
de que o clima está mudando no país, porque a tendência é nos con-
centrarmos mais nos problemas da Amazônia e nas crises de lugares
distantes".
soluções para a crise climática, mas também expondo a
gravidade da situação.
Estive recentemente no Paquistão, onde um terço do país
cou submerso durante as piores inundações da sua histó-
ria, e posso dizer que estas pessoas são vítimas reais. Pes-
soas estão morrendo. Serei sempre clara a esse respeito.
Alarmismo
A situação é grave e não é meu trabalho manter a audiên-
cia de bom humor de maneira falsa.
A pergunta mais frequente que me fazem é: ‘existe espe-
rança?’
Minha resposta é sim, porque ainda temos uma janela de
oportunidade para reverter a situação e evitar o pior dos
cenários traçados pelo IPCC (Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas).
O curioso é que ninguém pergunta a jornalis-
tas que cobrem as guerras na Ucrânia ou em
Gaza, por exemplo: "Mas não há nenhuma
esperança?" Este tipo de ônus é colocado
exclusivamente sobre os jornalistas que co-
brem meio ambiente".
Jornalismo de soluções
"Como correspondente na África, decidi
dar outra perspectiva à cobertura de fome
e conitos, buscando ângulos diferentes,
como o desenvolvimento econômico de vá-
rios países.
Buscar perspectivas é importante. Mas é
preciso equilíbrio. Na questão climática, não
se pode dizer que está tudo perdido, e nem
dar a impressão de que as pessoas podem
relaxar.
Na Suécia, é dado o mesmo espaço para o
jornalismo de soluções e as reportagens que
mostram a gravidade do momento.
Prioridade na pauta
"Os suecos têm uma grande consciência
ambiental. Mas o Eurobarômetro (instituto
da União Europeia que monitora a opinião
pública dos países membros) mostra que os
portugueses estão muito mais preocupados
com a questão, por serem mais afetados por
secas e incêndios orestais.
Temos hoje na Suécia um enorme problema
com a violência praticada por gangues, e a
mais alta taxa de homicídios da Europa. E
esta é, compreensivelmente, uma questão
prioritária para muitos suecos neste
momento".
25
Cultura ganha força na COP28
como instrumento de mobilização
Transformando
atitudes, narrativas
e práticas
U
m dos legados da COP em Dubai foi a
valorização da arte como instrumento
na luta climática, com a criação do grupo de
Amigos da Ação Climática Baseada na Cultu-
ra (GFCBCA).
Como sede da COP30, o Brasil lidera a ini-
ciativa, juntamente com os Emirados Ára-
bes Unidos, antrião do encontro atual.
Ministros da cultura dos países signatários
trabalharão em conjunto para desenvolver
políticas e programas destinados a aprovei-
tar o potencial da arte na conscientização,
mobilização e informação sobre problemas
e soluções para o clima.
“Comunidades tradicionais, culturas urba-
nas e patrimônios da humanidade estão sob
risco. Isso pode fazer com que não possamos
transmitir às novas gerações nossas práticas
socioculturais e o legado de memórias e de
expressões, afetando o direito à cultura de
comunidades e limitando a diversidade cul-
tural”, disse a ministra Margareth Menezes.
A jornalista brasileira Yula Rocha, que diri-
ge a comunicação da ONG People’s Palace
Projects (PPP), baseada na Universidade de
Queen Mary, em Londres, esteve em Dubai
para acompanhar uma apresentação que
exemplica o casamento entre arte e clima.
iago Jesus, gerente de projetos cli-
máticos da PPP, e Piratá Waurá, ci-
neasta e fotógrafo indígena do Alto
Xingu, contaram no Resilience Hub da
conferência a história de uma iniciati-
va da ONG: o apoio para a recriação de
uma gruta cujas inscrições sagradas
foram destruídas por fazendeiros.
Uma réplica em tamanho real foi cria-
da em Madri pela Fundação Factum e
será entregue pela PPP ao povo Wauja
do Xingu em 2024, em um projeto que
inclui a construção de um grande cen-
tro cultural para abrir a gruta.
T
hiago Jesus diz que a cultura trans-
forma atitudes, narrativas e práticas,
e defende “uma ação orquestrada, guiada
pelo respeito à ciência.
Desafio cultural
"A crise climática é também um desao cul-
tural, exigindo transformação profunda na
maneira como nos relacionamos entre nós
e com o planeta.
A arte é uma ferramenta poderosa para de-
saar o status quo, e a cultura nos ajuda a
dar valor às coisas. Mas seu papel tem sido
negligenciado nas políticas climáticas. A
primeira vez em que foi mencionada, atra-
vés da inclusão do termo 'patrimônio cultu-
ral' nas declarações ociais sobre 'perdas e
danos' e 'adaptação', foi na COP27."
Protegendo
comunidades
"As respostas às mudanças climáticas têm
subestimado o grande valor da integridade
cultural.
Trata-se do poder que têm os valores, as
crenças e as tradições culturais de proteger
comunidades e lugares, de se adaptar, e de
mobilizar soluções.
Temos muitos exemplos no Brasil de solu-
ções climáticas baseadas na cultura, que
oferecem caminhos para um futuro mais
justo e de baixo carbono. Mas precisamos
reconhecer o poder da cultura e da arte e
criar mecanismos, nanciamentos, e políti-
cas públicas culturais climáticas."
Virando o jogo
"Essa COP28 foi signicativa para a cultu-
ra, com maior presença de vozes do setor.
Artes, Cultura e Patrimônio foram temas de
apresentações em eventos ociais, e vimos
a inauguração dos pavilhões Entretenimen-
to + Cultura e Storytelling for Action."
O poder do Brasil
"O Brasil é um país culturalmente rico, com
expressões artísticas diversas. E os impac-
tos climáticos e ambientais aqui são vividos
e interpretados de maneira desigual por di-
ferentes comunidades, lugares e gerações.
Por meio dessa multiplicidade podemos
contribuir para conversas globais.
As práticas culturais são fundamentalmen-
te adaptativas; são respostas que damos
à constante mudança ao nosso redor. Elas
são um processo contínuo de sentir, ajustar
e re-imaginar a nossa relação com o am-
biente que nos cerca."
Piratá Waurá e
Thiago Jesus na
COP28, em Dubai.
26
YULA ROCHA
Gerente de comunicação da Peoples Palace Projects / Queen Mary University
A arte de mobilizar as pessoas
para a causa do clima
H
á décadas os cientistas alertam sobre
os riscos das mudanças climáticas.
Mas a ciência ainda não conseguiu conven-
cer a todos sobre a necessidade de agir.
Aí entra a arte. Teatro, música, cinema, ar-
tes plásticas, moda, novela, literatura, po-
esia ou rap são veículos importantes para
endereçar a crise ambiental e despertar a
emoção de quem consome cultura.
E não estamos falando de arte panetária.
O ativismo ambiental pode ser subliminar,
em uma exposição, uma poesia, um perso-
nagem de cção, levando a pensar, agir e a
cobrarões.
Dar o protagonismo para quem está na li-
nha de frente, como os povos indígenas e
as comunidades vulneráveis do sul Global,
é também parte do compromisso de cons-
cientização sobre as injustiças climáticas,
pois nem todos são afetados pela crise
igualmente.
Acredito que a imprensa ainda não dedica
o espaço necessário para uma cobertura da
importância que o tema merece. Precisa-
mos falar sobre o assunto não apenas uma
vez por ano durante cada COP, mas todos
os dias.
E creio também que a mudança de uma
narrativa apocalíptica para um tom mais
otimista (“ainda há tempo para salvar o
planeta”) seja o caminho para gerar mais
engajamento, especialmente das mulheres
e dos mais jovens, principais afetados pela
ansiedade climática.
Minha esperança é que o jornalismo e as
empresas absorvam o conceito de que o se-
tor cultural é um importante aliado nessa caminhada.
Os cientistas precisam do poder da arte e das mani-
festações culturais para gerar mudanças coletivas e
individuais, inuenciar políticas públicas e pressionar
para que governos e empresas se comprometam com
a redução de emissão de poluentes.
Mas como abraçar essa ideia? A imprensa tem papel
fundamental na formação da opinião pública, cobrin-
do e divulgando expressões artísticas climáticas.
Já as empresas que têm recursos devem apostar no
nanciamento de manifestações artísticas ligadas à
causa, possibilitando a realização de exposições, fes-
tivais de cinema, produção de lmes, realidade virtu-
al, livros, workshops e atividades com o público que
deem visibilidade à questão da emergência climática.
Esse compromisso deve ir além de instalar painéis so-
lares em museus. É vital o apoio que viabilize o uso da
arte como ferramenta de transformação das mentes.
Ciência da atribuição demonstra conexão
de eventos extremos às mudanças climáticas
E
ventos meteorológicos extremos nem
sempre são associados às mudanças
climáticas pela imprensa, que acaba se con-
centrando nos efeitos e não nas causas.
Mas conectar causa e efeito não é tão sim-
ples quando uma grande catástrofe aconte-
ce e há necessidade de informar o público
rapidamente.
Em 2015, os pesquisadores Friederike Otto
e Geert Jan van Oldenborgh (falecido em
2021) se uniram para criar o projeto World
Weather Attribution (WWA), sediado no
Imperial College, onde Otto leciona em
Londres, com o objetivo de fomentar a cha-
mada ciência da atribuição.
A WWA já realizou mais de 50 estudos de
atribuição de enteos, entre eles ondas de
calor, chuvas extremas, secas, inundações e
incêndios orestais.
Ben Clarke
University of Oxford
Friederike Otto
Imperial College London
Comunicando
eventos extremos e
mudanças climáticas
Um guia para jornalistas
As análises são feitas durante ou logo após
os eventos, buscando responder à pergunta
capital: 'qual foi o papel das alterações cli-
máticas para que isso acontecesse?'
Entre as iniciativas do projeto para promo-
ver a atribuição está um guia para jorna-
listas, publicado em 12 idiomas. A edição
brasileira tem o prefácio de Giovana Girar-
di, que chea a cobertura de clima na Agên-
cia Pública e esteve em Dubai cobrindo a
COP28.
O documento explica a ciência da atribui-
ção e apresenta argumentações conáveis
sobre as situações climáticas mais comuns.
A jornalista salienta a importância das aná-
lises recentes da WWA sobre as queimadas
no Canadá e a onda de calor na Europa, que
ajudaram a imprensa a explicar como esta-
vam relacionadas às alterações no clima.
No entanto, ela observa que em alguns casos o cenário
pode ser mais complexo.
"Embora os efeitos de chuvas intensas e rápidas estejam
ligados a um planeta mais quente, podem também ser re-
sultado de má gestão de infraestrutura urbana, pavimenta-
ção sem permeabilidade, ausência de árvores e ocupação
de mananciais."
Girardi chama a atenção para o risco de governantes usa-
rem o clima como desculpa para justicar que não havia
nada a ser feito para prevenir ou minimizar as catástrofes.
“É justamente porque o clima não é mais o mesmo que o
planejamento das cidades, estados e países tem que mudar
para levar em conta as novas variáveis trazidas pelas mu-
danças climáticas”, arma a jornalista.
O guia completo pode ser visto aqui.
27
Livro ensina especialistas a
comunicarem melhor fatos
sobre clima e ciência
REPRODUÇÃO / INTERNET
N
as semanas anteriores à COP28, e ao
longo da conferência, os cientistas ga-
nharam ainda mais visibilidade na mídia - e
devem continuar assim, já que a pauta do
clima tende a se tornar mais presente à me-
dida que o problema se agrava.
Mas nem todos se sentem preparados ou
confortáveis. Ajudá-los a se comunicar me-
lhor é o objetivo do livro lançado este ano
por
Christopher Reddy, um reconhecido es-
pecialista em oceanos.
Cientista do Departamento de Química Ma-
rinha e Geoquímica da Woods Hole Ocea-
nographic Institution, organização não-go-
vernamental norte-americana de pesquisa e
ensino sobr
e os mares, Reddy é fonte regular
da imprensa para questões ambientais, in-
cluindo graves acidentes, como derrama-
mentos de petróleo.
O livro de Reddy não segue a linha dos media
trainings ministrados por jornalistas, e pre-
fere dar uma visão de quem está “do outro
lado
. Com base em 30 anos de experiência
atendendo a imprensa, Reddy reete sobre
dez casos, avalia os erros cometidos e com-
partilha as lições aprendidas.
E
m uma entrevista para o site de ciência Un-
dark, o autor enfatiza a diculdade histórica
da inter
ação entre pesquisadores e impren-
sa: “a maneira como os especialistas falam
uns
com os outros não é a melhor maneira de
falar com a mídia.
Reddy apresenta os jornalistas como “seres
semelhantes aos cientistas”, que da mesma
forma gostam de descobrir, investigar e di
-
vulgar de forma inteligente suas descober-
tas, com o mesmo intuito de fazer avançar o
c
onhecimento do público.
No livro, o autor faz uma série de recomen-
dações úteis. Uma delas é nunca se limitar
a inf
ormar não saber responder a alguma
pergunta.
Nesses casos, ele recomenda ser franco, mas
aproveitar para destacar o que já se sabe so
-
bre o tema perguntado, a m de não abrir
br
echas para a desinformação.
Jornalismo de soluções: o valor de mostrar Jornalismo de soluções: o valor de mostrar
‘a metade cheia do copo’‘a metade cheia do copo’
H
á quem ache que o tratamento das mudan-
ças climáticas pela mídia alarma mais do
que engaja. Outros defendem que não se pode
ignorar a gravidade da situação. O caminho do
meio pode ser o jornalismo de soluções, que
consiste em uma abordagem dos assuntos com-
plexos - incluindo o clima - a partir de uma pers-
pectiva que não paralise ações individuais ou
coletivas sob o argumento de que não há nada a
fazer e o planeta está condenado.
A ideia não é nova, e tem sido impulsionada pela
Solutions Journalism Network (SJN), organiza-
ção que completou 10 anos junto com a confe-
rência do clima da ONU. Os co-fundadores são
os jornalistas americanos David Bornstein e Tina
Rosenberg, ex-New York Times, e Courtney Mar-
tin, autora de livros e consultora de instituições
como a Fundação Obama.
A SJN quer promover uma mudança na for-
ma como as pessoas compreendem e mol-
dam o mundo usando como instrumento
reportagens sobre as respostas aos pro-
blemas e o que se aprendeu com sucessos
e fracassos.
O conceito é baseado no entendimento de
que quando as notícias revelam o que fun-
ciona (ou é promissor), ajudam a elevar o
tom do discurso público, tornando-o menos
divisivo e mais construtivo, permitindo que
as comunidades vejam melhores opções e
trabalhem por mudanças.
A rede tem 47 mil jornalistas treinados, um
banco de dados com uma seleção de ma-
térias publicadas em todo o mundo, 100
escolas de jornalismo parceiras e fellows
e instrutores certicados em 40 países, in-
cluindo o Brasil.
Pode parecer idealismo, mas está funcio-
nando. O banco de dados da iniciativa re-
gistra mais de 15,7 mil matérias produzidas
por 8,9 mil jornalistas e a adesão de 2 mil
veículos de 90 países.
Em 2023, a Anglo American lançou o podcast Conversas que Inspiram, que aborda temas
importantes para a nossa sociedade. Con ra algumas conversas desta primeira temporada:
Ouça, compartilhe, comente e participe. O Conversas que Inspiram é um podcast feito para você,
que gosta de saber sobre a mineração e histórias que nos motivam a fazer um mundo melhor.
Saiba como a mineração e a sustentabilidade dialogam
Tecnologia e inovação aliadas à sustentabilidade
Vá ao museu
Sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
O papel da mineração para o Desenvolvimento Regional e o Empreendedorismo
Como os incêndios fl orestais contribuem para o aquecimento global
EP 1
EP 6
EP 2
EP 8
EP 11
EP 13
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Que tal terminar
o ano com
muita inspiração?
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29
O
entendimento de que as políticas sus-
tentáveis devem estar presentes nas
decisões estratégicas das empresas au-
menta a cada ano. Diante desse cenário, a
inovação ganha força como protagonista da
transformação do setor.
Assim, a percepção de que a mineração é
uma atividade arcaica tem dado lugar à vi-
são de uma indústria antenada a novas tec-
nologias, que busca processos produtivos
mais ecazes e seguros, melhores relações
com as comunidades e mais responsabilida-
de com a preservação ambiental.
Rumo a um novo paradigma, parcerias com
órgãos públicos, entidades empresariais,
instituições universitárias, além de ONGs,
startups e sociedade civil estão em desen-
volvimento, e vários são os cases do setor que po-
dem ser citados.
Na Anglo American, foi desenvolvido o Plano de
Mineração Sustentável, que, baseado nas práti-
cas em ESG, guia as ações da companhia local e
globalmente. Um exemplo é a meta de redução da
emissão de gases do efeito estufa nas operações
(com previsão de neutralidade em carbono até
2040), o que possibilitou a assinatura de contra-
tos de compra e de autoprodução de eletricidade,
em vista de uma matriz de energia elétrica 100%
renovável no Brasil, marco alcançado recente-
mente.
Também avançamos em um projeto de reuso de
água do nosso mineroduto do Minas-Rio, que de-
verá ser uma das maiores iniciativas de reaprovei-
tamento de água do Brasil, com um volume que
poderá chegar a 0,3 metros cúbicos por segundo
(m³/s) de água reutilizada.
Em relação ao reaproveitamento de resíduos, de-
senvolvemos um projeto de uso de escória de ferro-
níquel em obras de ampliação das rodovias de Goiás.
A iniciativa visa dar aplicação à escória, diminuindo
a área necessária para estocagem dos resíduos ge-
rados nas plantas industriais da mineradora no es-
tado.
Essa efervescência tecnológica, além de trazer ganhos
operacionais e econômicos, contribui para toda uma
cadeia de stakeholders. Isso porque um empreendi-
mento sustentável, além de favorecer uma menor uti-
lização de recursos naturais não renováveis, traz mais
segurança operacional, maior vida útil para as plantas
operacionais, melhor recuperação de áreas operadas e
mais qualidade de vida para as comunidades.
por CRISTIANO COBO,
Diretor Técnico e Sustentabilidade
da Anglo American no Brasil
A
s mudanças climáticas são uma crise
existencial. Nosso mundo seguirá pre-
cisando cada vez mais de energia. Torna-
mos nossa a responsabilidade de encontrar
soluções para esse desao.
Alcançar o objetivo de atingir emissões
líquidas zero até 2050 exige o aproveita-
mento de todo o nosso portfólio de negó-
cios. Por isso, o lançamento da Accelera by
Cummins é um passo signicativo nos es-
forços da empresa para atingir a estratégia
do Destino ao zero.
O Destination zero é a estrada que pavi-
mentamos para um futuro mais verde. Essa
estratégia está enraizada no entendimento
de que múltiplas soluções são necessárias
para alcançar a descarbonização em todo o
setor nas diversas aplicações que a empre-
sa utiliza.
Nos últimos anos, a Cummins investiu mais de
US$ 1,9 bilhão em pesquisa e tecnologia, capi-
tal e aquisições para construir a liderança e as
capacidades tecnológicas da Accelera.
Conforme avançamos rumo a um futuro de
zero carbono, esperar não é uma opção. No
entanto, nem o mundo consegue se transfor-
mar da noite para o dia. É por isso que estamos
avançando e integrando a mais ampla gama de
tecnologias de energia — porque cada uma de-
las nos aproxima do futuro.
À medida que continuamos a liderar e a avan-
çar nas soluções baseadas em motores que
impulsionam os negócios dos nossos clientes,
também construímos a mais ampla combina-
ção de tecnologias de emissões zero dedicadas
à indústria de veículos comerciais, como solu-
ções de trem de força elétrico a bateria e de
célula de combustível e eletrolisadores para a
produção de hidrogênio de baixo carbono.
A Accelera reforça nosso compromisso
de liderança em soluções de emissões
zero e destaca nossa capacidade in-
comparável de aproveitar nosso pro-
fundo conhecimento das necessidades
e aplicações de nossos clientes, conhe-
cimento técnico e ampla rede de servi-
ços e suporte para caminhar de mãos
dadas com eles durante toda a transi-
ção energética.
O objetivo da Accelera é simples: ga-
rantir um futuro sustentável para as in-
dústrias que mantêm o mundo funcio-
nando. O lançamento desta nova marca
aumenta o foco em nossos negócios e
nos permite estar à frente do cenário de
emissões zero em constante mudança.
por FÁBIO MAGRIN,
Diretor executivo das unidades de negócio
Accelera e HHP para a América Latina
O futuro exige
um novo modo de pensar
No setor mineral, a inovação
em benefício da sustentabilidade
Um mundo mais sustentável é aquele com emissões mais
baixas. Ao reduzir os gases do efeito estufa (GEEs), como
dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), que contribuem
para a mudança climatca; e oxidos de nitrogênio (NOx), que
contribuem para a esgotamento do ozônio; e material parti-
culado (PM), que afeta a qualidade do ar, podemos melhorar
a resiliência de nossas vidas.
Descarbonizar com energia renovavel e adotar tecnologias
mais limpas pode causar um impacto positivo imediato. Um
caminho para emissões zero foi possibilitado pela inovação
nas áreas de motores de combustão interna (ICEs) avança-
dos, híbridos de bateria ICE, sistemas de célula de combustí-
vel e sistemas bateria-elétricos.
Motores de combustão interna avançados
Os sistemas ICE avançados são uma solução de baixo cus-
to de capital e manutenção para aplicações de alto fator de
carga e alta utilização. Os sistemas de ICE avançados podem
ser alimentados por combustíveis de baixo a zero carbono,
como hidrogênio (H2). Um transportador de energia cada
vez mais popular, o hidrogênio pode ser prontamente pro-
duzido a partir da água (H20) por meio de eletrólise usando
eletricidade, e queima sem liberar quaisquer emissões de
dióxido de carbono. Motores ICE avançados, quando com-
binados com combustíveis de baixo ou zero carbono, podem
reduzir o carbono rapidamente, com benefícios operacionais
significativos, pois têm uma tecnologia familiar acompanha-
da de infraestruturas de serviço e manurencao robusras e
cadeias de suprimentos.
Os sistemas ICE têm sido a base na geração de energia por
mais de 100 anos e o sistema de energia preferido para a
maioria das aplicações, como mineração, marama e ferro-
viaria. Avanços nzeram com que essa fosse uma das solu-
ções mais econômicas disponíveis por meio de tecnologia de
combustão mais eficiente e projeto arquitetônico aprimora-
do, levando à redução significativa de emissões e densidade
de energia.
Híbridos motor-bateria de combustão interna
Os sistemas híbridos de bateria ICE normalmente queimam
menos combustível do que os sistemas convencionais. Os
híbridos operam como sistemas que podem aproveitar a
energia armazenada em uma bateria para complementar a
energia produzida pelo motor de combustão interna. Nor-
malmente, ele queima menos combustível do que um siste-
ma convencional e tem o avanço de um sistema ICE, que, em
combinação com uma bateria, o torna uma solução chave de
baixo carbono. Os sistemas híbridos de bateria ICE também
estão prontamente disponíveis devido ao amadurecimento
da tecnologia.
Uma solução que reduz o consumo de combustíveis fósseis e
reduz as emissões, os sistemas de bateria ICE são uma fonte
confiável de energia limpa e ininterrupta.
Sistemas de células de combustível
As tecnologias de célula de combustível alimentam tudo, de
aplicações de mobilidade a geradores reserva, oferecendo
confiabilidade, alta eficiência de combustível, operação si-
lenciosa e manutenção fácil.
Os módulos de energia de célula de combustível da mem-
brana de troca de prótons (PEM) são densos em potência e
adequados para aplicações móveis e estacionárias. A tec-
nologia de célula a combustível PEM pode ser adaptada
para atender às necessidades específicas de desempenho e
aplicação ambiental. Os sistemas de células de combustível
também podem ser combinados com uma bateria para me-
lhorar ainda mais o desempenho e a aplicabilidade tecno-
lógica. Células de combustível de óxido sólido (SOFC) ofe-
recem níveis muito altos de eficiência enquanto produzem
calor como subproduto. Eles são particularmente adequados
para aplicações estacionárias e são especialmente benéficos
para aplicações ou processos que podem utilizar a energia
térmica produzida por um sistema SOFC.
Sistemas elétricos de bateria
Os sistemas bateria-elétricos estão movendo pessoas e co-
munidades para um futuro mais sustentável. Com opções
avançadas, incluindo sistemas de energia totalmente elétri-
cos para ferrovia, mineração, marítimo e geração de energia.
Para uma operação mais limpa e silenciosa, esta opção de
emissoes zero e aquela que rambem fornece benefícios eco-
nômicos, de confiabilidade e ambientais. Em formato fixo, o
armazenamento de eletricidade em baterias pode ajudar a
rede pública a operar com mais eficiência, reduzir a probabi-
lidade de semiapagões durante o pico de demanda e permitir
que mais recursos renováveis sejam construídos e usados,
de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.
Somos movidos pela urgência
da mudança climática
31
Pesquisa mostra preferência por
trabalhar em empresas preocupadas
com clima e desigualdade
Pesquisa
É possível lucrar dando mais do que se recebe?
Polman está convicto que sim. Co-autor do livro “Net Positive: como empresas corajosas pros-
peram dando mais do que recebendo, ele tem encorajado, por meio de sua consultoria Imagine,
líderes empresariais a atuar tanto na erradicação da pobreza e da desigualdade como na contenção
dos efeitos das mudanças climáticas.
Acima de tudo, é uma questão de liderança, diz ele. As empresas que colocarem o propósito
no seu núcleo, desbloquearão motivação, inovação e lealdade em todo o negócio. E de forma
mais profunda entre os funcionários mais jovens, os decisivos para o seu futuro.
Conra a íntegra da pesquisa aqui.
Problema ou oportunidade para
as empresas?
O consultor acha que a nova era pode ser uma grande
oportunidade, e cita três possibilidades que podem ser
aproveitadas pelas empresas:
1. Mostrar maior ambição no impacto que podem
causar às pessoas e ao planeta: Quase dois em
cada três entrevistados armam que a sua empre-
sa deveria assumir posição mais forte em relação
ao meio ambiente (63% no Reino Unido, 61% nos
EUA) e na desigualdade econômica (61% no Reino
Unido, 65% nos EUA).
2. Comunicar melhor suas ações aos funcionários:
Cerca de dois terços armam que a sua empresa se
comunicou com eles sobre o bem-estar dos funcio-
nários (60% no Reino Unido, 66% nos EUA), mas o
número cai drasticamente quando se trata de meio
ambiente (35% no Reino Unido, 34% nos EUA),
desigualdade econômica (29% no Reino Unido,
28% nos EUA) e desigualdade social (36% no Reino
Unido, 41% nos EUA).
3. Capacitar os funcionários a maximizar o impac-
to da empresa: Mais da metade gostaria de ajudar
sua empresa a mudar para melhor (53% no Reino
Unido, 60% nos EUA). Esses números aumentam
considerando só as gerações Y e Z (64% no Reino
Unido, 66% nos EUA).
Paul Polman,
consultor
A
dotar - e comunicar - boas práticas am-
bientais traz benecios para todas as
áreas do negócio, até para o recrutamento.
E quem não zer a coisa certa pode perder
talentos.
Uma pesquisa realizada este ano com 4
mil funcionários de empresas privadas
de médio e grande porte dos EUA e Reino
Unido mostrou o aumento de pessoas que
colocam seu propósito de vida em primeiro
lugar, principalmente as das gerações Y (26
a 41 anos) e Z (18 a 25 anos):
Dois em cada três entrevistados estão
preocupados com o futuro do planeta
e da sociedade (69% no Reino Unido,
66% nos EUA)
Três em cada quatro armam que a
empresa deve assumir a responsabili-
dade pelo seu impacto (77% no Reino
Unido, 78% nos EUA)
Mais de dois terços querem trabalhar
para empresas que impactam positiva-
mente o mundo (66% no Reino Unido,
76% nos EUA)
Dois em cada três armam que suas
empresas não enfrentam como deve-
riam os desaos ambientais e sociais
(68% no Reino Unido, 62% nos EUA)
Para o consultor holandês Paul Polman,
ex-CEO da Unilever de 2009 a 2019 que se
tornou uma autoridade mundial na pressão
por negócios mais responsáveis e enco-
mendou a pesquisa, a nova era representa
a passagem da “desistência silenciosa, na
qual os funcionários insatisfeitos fazem o
mínimo que se espera deles, para a “desis-
tência consciente, na qual são capazes de
abrir mão do emprego para buscar empre-
sas com propósitos alinhados aos seus:
Quase metade dos funcionários arma
que consideraria pedir demissão se
os valores da empresa não estives-
sem alinhados com os seus próprios
valores (45% no Reino Unido, 51% nos
EUA)
Um terço arma já ter renunciado a
um cargo por esse motivo (35% no
Reino Unido e nos EUA). Os números
chegam quase à metade (48% no Rei-
no Unido, 44% nos EUA) considerando
só as gerações Y e Z
Quase metade dos entrevistados das
Gerações Y e Z consideraria aceitar
uma redução salarial para trabalhar
para uma empresa que partilha os
seus valores (48% no Reino Unido,
44% nos EUA)
32
E
nquanto as grandes corporações ca-
pricham na divulgação de resultados
ambientais a investidores e sociedade, um
estudo global que ouviu mais de 16 mil
pequenas e médias empresas (PMEs) em
16 países, incluindo o Brasil, revelou que
embora 83% reconheçam a importância da
sustentabilidade nos negócios, apenas 8%
produzem relatórios para comunicar suas
ações.
Denominado Caminho para o Crescimen-
to: Preenchendo a Lacuna de Relatórios
de Sustentabilidade das PME, o estudo foi
feito no Reino Unido pela empresa de ser-
viços contábeis Sage, com participação das
consultorias PwC e Strand Partners.
São classicadas como PMEs as empresas
com menos de 250 funcionários. Elas repre-
sentam 99% das empresas do mundo.
Além de perder a oportunidade de cola-
borar para um mundo mais sustentável,
as PMEs também deixam de aproveitar os
benecios dessa prática, como nancia-
mentos baseados no impacto sobre o meio
ambiente, contratação de funcionários que
priorizam empresas comprometidas com o
clima e conquista de clientes que valorizam
marcas com boa performance ambiental.
O motivo para a disparidade entre grandes
e pequenas empresas não é dicil de imagi-
nar: 73% citaram o custo. A complexidade
foi mencionada por 65% das empresas, e
63% disseram achar que ferramentas tec-
nológicas poderiam ajudar.
A pesquisa sugere que a remoção dessas
barreiras abriria novos caminhos nancei-
ros, crescimento e oportunidades de em-
prego para as PMEs.
E também representa uma área de negócio
para empresas de comunicação habilitadas
a ajudar empresas a formatarem seus rela-
tórios.
O estudo estima que seria possível triplicar
nos próximos dois anos o número de rela-
tórios produzidos por elas, representando
uma adição de 51 milhões de documentos
ao pool global, sinalizando uma séria mu-
dança na resposta da sociedade às mudan-
ças climáticas.
Uma em cada cinco (21%) das PMEs que
não medem seu impacto disse estar "pron-
ta e disposta" a fazer isso, seja em virtude
das oportunidades que vêm perdendo ou
pela pressão que vêm sofrendo de clientes
(59%), governo (8%) e funcionários (8%).
Soluções
Os autores do relatório recomendam algumas me-
didas para mudar o cenário:
Relatórios de sustentabilidade,
um sonho distante para a
maioria das PMEs no mundo
Incentivos nanceiros governamentais para
minimizar os custos iniciais dos investimen-
tos das PMEs em seus relatórios de susten-
tabilidade
Maior consistência na terminologia ESG para
que as PMEs possam responder aos relató-
rios com mais facilidade
Promoção do uso de tecnologias digitais
acessíveis e automatizadas para relatórios
de sustentabilidade, a m de aliviar a carga
sobre as PMEs
O Secretário-Geral da ICC, John Denton, que re-
presenta 45 milhões de empresas de 130 países,
enfatiza que com ferramentas ecazes, políticas e
incentivos certos e um esforço colaborativo, será
possível permitir que as PMEs superem os obstácu-
los para monitorar o que precisam fazer para me-
lhorar seu desempenho na área e liderar o caminho
na criação de um futuro mais sustentável.
O relatório completo pode ser visto aqui.
São Paulo
Rua Diana 914
05019-000 Brasil
Londres
2-8 Eton Avenue 30
NW33EJ Reino Unido
JoRnalistas&Cia editoRa
pUblisheR Eduardo Ribeiro
eduribeiro@jornalistasecia.com
ColaboRaRam nesta edição Aldo De Luca (Reino Unido), Claudia Wallin (Suécia), Eloá Orazem (EUA),
Fernanda Massarotto (Itália) e Márcia Carmo (Argentina).
ComeRCial Silvio RibeiRo pRoJeto GRáfiCo: Kako Frare
mediatalks
diReção editoRial Luciana Gurgel
lucianagurgel@mediatalks.com.br
PARCEIRO DE CONTEÚDO
Direitos autorais reservados – os artigos não podem ser reproduzidos sem autorização prévia.
A crise da mudança climática é um dos temas acompanhados pelo
MediaTalks, integrante da coalizão Covering Climate Now.
Confira aqui os conteúdos publicados durante a COP28 e também guias,
pesquisas e ensaios fotográficos.
A conversa continua em MediaTalks
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Temos coisas incríveis para contar”. A frase
de Angela Mendes, filha do ambientalista
Chico Mendes, assassinado no Acre em
1988, recepciona os visitantes da Amazônia
Fox, plataforma criada por jornalistas para
conectar fontes e profissionais locais com o
Brasil e o mundo.
A Covering Climate Now
lançou um guia para
desconstruir 10 mitos sobre
mudanças climáticas, com
fatos comprovando a culpa
humana pelo aquecimento
global ou a necessidade de
eliminar os combustíveis
fósseis.
O fotógrafo indígena Piratá Waurá apresentou
na COP28 flagrantes da vida em sua aldeia
e o projeto de reconstrução de uma gruta
sagrada danificada por fazendeiros no Alto
Xingu. Confira as imagens.
Uma pesquisa feita pela BBC no Google
Trends revelou que as buscas sobre
termos relacionados à ansiedade climática
dispararam em cinco anos. O maior salto
aconteceu no idioma português, com 73
vezes mais buscas. O salto em inglês foi de
27 vezes.
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