Sharon Coen, autora de artigo sobre dieta balanceada de mídia
Sharon Coen

O início do ano novo provoca uma pressão enorme para “começar do zero”, com novos hobbies, regimes de exercícios e dieta saudável – mas há uma dieta que nem todos pensam em melhorar este ano: um consumo mais balanceado de mídia e de notícias.

Não é fácil se manter informado hoje em dia. Temos mais acesso a informações do que nunca, mas nem todas são de boa qualidade. Publicações são acusadas de viés. Fake news se tornam virais em segundos. E a desinformação gerada pela inteligência artificial pode aparecer em nossos feeds.

Muitas pessoas recebem suas notícias nas mídias sociais. Essas plataformas têm algoritmos e classificações que criam bolhas de filtro, nas quais os usuários são expostos a uma seleção personalizada ou personalizada de informações sobre um determinado tópico, o que pode estar promovendo a polarização.

As pessoas tendem a selecionar e consumir mídia e informações que ecoam suas próprias crenças pré-existentes. Isso pode ser devido às publicações e comentaristas que eles escolhem seguir, ou por causa dos algoritmos controlados pelas plataformas.

Uma análise recente de  pesquisas sobre o tema, no entanto, sugere que o público pode não estar tão polarizado quanto se pensava anteriormente. E os algoritmos podem realmente ajudar a aumentar a variedade de fontes que alguém acessaria de forma independente.

Apesar disso, ainda pode ser difícil percorrer as muitas fontes, vozes e opiniões – especialmente porque as pessoas que têm crenças muito fortes tendem a ser mais presentes online.

Aqui estão algumas dicas para ajudá-lo a construir uma dieta de mídia mais balanceada e de alta qualidade.

1. Explore outros pontos de vista

As mídias sociais e os algoritmos de personalização alimentam os usuários mais do mesmo, a fim de mantê-los engajados. Isso pode significar que informações imprecisas estão incluídas, desde que se encaixem na narrativa do que o usuário deseja clicar.

Se algo que você encontrar on-line se encaixa perfeitamente em sua narrativa pré-existente, pode ser o resultado de um processo de auto-seleção, combinado com personalização algorítmica.

Você pode combater isso consumindo informações de diversas fontes. Leia artigos de veículos de notícias com um alinhamento político diferente do seu. Clique em artigos que podem não fazer parte de seus temas de interesse habituais.

Isso também pode ajudar a “enganar” um algoritmo para alimentá-lo com mais fontes que você não encontraria de outra forma.

2. Fique de olho na busca por atenção

Agora, mais do que nunca, é importante estar ciente de nossos próprios preconceitos e olhar para questões sociais e políticas com o objetivo de ver as coisas do jeito que são, em vez de detectar o inimigo. Seja um batedor, não um soldado.

Lembre-se de que o que se lê online pode não ser um reflexo do que as pessoas pensam, mas do que elas pensam que atrairá mais atenção (e perturbará mais pessoas).

Um estudo de 2022 descobriu que, na tentativa de obter um maior número de seguidores, as pessoas expressaram versões amplificadas de suas opiniões reais. Preste atenção em quem está “gritando” sua opinião e quem está simplesmente compartilhando.

Mantenha a mente aberta e ouça os vários argumentos, mas não se entregue a nenhuma visão extrema sem desafiá-la com os outros.

3. Reconhecer e compartilhar fontes equilibradas

Os autores do estudo de 2022 descobriram que as plataformas de mídia social poderiam reduzir a polarização inundando o “ambiente de informação” (feeds de mídia social dos usuários) com fontes equilibradas.

Claro, a maioria dos usuários não pode produzir notícias equilibradas, nem podemos prever o que o algoritmo proporá. No entanto, é possível reconhecer o viés nas notícias e tentar combatê-lo ativamente compartilhando outras fontes confiáveis.

Pesquisas sugerem que os usuários de mídia social estão mais conscientes e críticos das notícias que leem quando são solicitados a pensar criticamente e a as aliá-las.

Em vez de apenas rolar e clicar no próximo artigo, dedique um momento para se fazer perguntas sobre o que você acabou de ler. O que você aprendeu? Quem são as fontes no artigo? O que você ainda não entende?

4. Cuidado com emoções fortes

Veículos de imprensa e empresas de mídia social fazem o máximo para tentar provocar emoções fortes nos usuários, particularmente emoções que os fazem sentir excitação positiva ou negativa. Isso ocorre porque as notícias que provocam essas emoções são mais propensas a se tornarem virais.

Ao se deparar com conteúdo que solicita uma forte resposta emocional, antes de reagir, vale se perguntar:

Há algo na forma como esse conteúdo é apresentado que seja projetado para me fazer sentir assim? É útil para mim me sentir assim?

Você pode descobrir que as emoções que sente o levam a agir por uma causa com a qual se importa. Ou, você pode descobrir que suas emoções estão fazendo com que você ignore informações e fontes questionáveis.

Uma boa maneira de verificar a credibilidade de uma determinada fonte é ler outros artigos da mesma fonte e procurar evidências de informações imprecisas ou manchetes exageradas. Você também pode verificar se a mesma história apareceu em sites que você sabe que são respeitáveis.

Outra recomendação é adicionar contas de verificação de fatos e jornalistas bem respeitados à sua dieta balanceada de mídia, seguindo-os nas mídias sociais ou assinando seus boletins informativos.


Sharon Coen é doutora em Psicologia Social e leciona psicologia da mídia na Universidade de Salford e coordena o único curso de mestrado sobre o tema no Reino Unido. Sua pesquisa concentra-se  principalmente na comunicação midiática, no jornalismo e nas novas mídias, e em seu papel na definição de questões políticas e sociais. 

Este artigo foi publicado originalmente no portal acadêmico The Conversation e é republicado aqui sob licença Creative Commons.