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Mais um jornalista morre sob custódia policial em Mianmar; corpo estava enterrado e com sinais de tortura

Jornalista Myat Thu Tan, também conhecido como Phoe Thiha, morreu sob custódia da junta que governa Mianmar

Jornalista Myat Thu Tan, também conhecido como Phoe Thiha (foto: Western News via IFJ)

Londres – O corpo do jornalista Myat Thu Tan foi encontrado com sinais de ferimentos a bala juntamente com os de outros presos políticos sob custódia da junta militar que há três anos tomou o poder em Mianmar após um golpe. 

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), o jornalista foi preso em 22 de setembro de 2022 em sua casa em Mrauk-U, devido a  postagens críticas à junta nas redes sociais, e não havia sido julgado ou condenado. A morte teria ocorrido em 31 de janeiro. 

Myat Thu Tan foi colaborador do meio de comunicação online Western News, bem como repórter da Voz Democrática da Birmânia, uma das maiores organizações de mídia independentes do país. Embora afastado das atividades diárias como profissional de imprensa, era visto como jornalista pela junta, diz a IFJ.  

Corpo do jornalista enterrado em quartel em Mianmar 

De acordo com fontes da organização, Myat Thu Tan, também conhecido como Phoe Thiha, foi baleado por dois membros do Batalhão de Infantaria Ligeira (LIB) 378 em uma ala de detenção na cidade onde vivia, Mrauk-U, no estado de Rakhine, no oeste de Mianmar.

O corpo do jornalista foi descoberto enterrado num abrigo antiaéreo no quartel-general do batalhão, perto do hospital da cidade, junto com os de outros seis presos políticos, incluindo o rapper Kyaw Zan Wai, depois de a organização étnica armada Arakan Army ter tomado o campo em 5 de fevereiro.

Os prisioneiros tinham sido acusados ​​pela junta militar sob o dispositivo do Código Penal do país que criminaliza ‘causar medo, espalhar notícias falsas ou agitar, direta ou indiretamente, crimes contra um funcionário do Governo’.

A mídia local informou que os corpos encontrados no local apresentavam sinais de tortura, disse a IFJ. 

“A legislação draconiana tem sido consistentemente utilizada para atingir jornalistas nos três anos desde o golpe militar de 1º de fevereiro de 2021“, afirma a Federação, que considera o caso “um ataque do mais alto grau à liberdade de imprensa”. 

Pelo menos dois jornalistas já tinham perdido a vida antes sob custódia dos militares que governam Mianmar. 

Riscos para a imprensa no país governado pela junta

A Myanmar Journalists Network (MJN), apontou que o caso sublinha que os jornalistas podem ser mortos a qualquer momento no país pelas forças da junta.”

Em um comunicado, o diretor do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) para o Sudeste Asiático, Shawn Crispin, condenou “a cultura de impunidade com  raízes profundas em Mianmar desde o golpe de Estado que suspendeu a democracia em 2021”. 

“A junta deve parar de matar e começar a proteger os jornalistas”, acrescentou. 

Mianmar está classificado em 9º lugar no mais recente índice de impunidade global do CPJ. De acordo com o censo prisional de 2023 do CPJ, Mianmar também é o segundo pior carcereiro de jornalistas do mundo.

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