Londres – As tentativas de salvar uma das mais icônicas marcas do mundo da mídia digital não deram resultado: a Vice Media anunciou nesta quinta-feira (22) a suspensão da publicação de conteúdo no site principal (Vice.com) e “centenas” de demissões.
A empresa de notícias e entretenimento, que já chegou a valer US$ 5,7 bilhões, enfrentava dificuldades financeiras e foi comprada em agosto de 2023 por um consórcio formado por Fortress Investment Group, Soros Fund Management e Monroe Capital, por US$ 350 milhões, após ter decretado falência com dívida de US$ 474,6 milhões.
O comunicado interno enviado pelo CEO do Vice Media Group, Bruce Dixon, explica que serão feitas parcerias com outras empresas de mídia pois “não é mais rentável distribuir o conteúdo digital como antes”, o que levará a um “realinhamento de recursos e agilização das operações gerais”.
Vice Media não é a única a fazer demissões
A notícia não surpreeende o mercado de mídia americano, já que as dificuldades da Vice Media eram conhecidas e outras grandes organizações como Los Angeles Times , Wall Street Journal, Washington Post Condé Nast têm feito cortes nos últimos meses.
Mas causou impacto por representar a derrota de uma referência do universo de novas mídias que emergiram com a disseminação do acesso a conteúdo por via digital, desafiando o modelo clássico das empresas de entretenimento e de notícias.
Leia também | Em crise financeira, Los Angeles Times perde editor-executivo e demite mais de 20% da redação
Estrutura complexa levou à falência da Vice Media
A Vice Media começou em 1994 como uma publicação alternativa gratuita no Canadá, chamada Voice of Montreal.
O grupo chegou a ter mais de 10 sites de notícias, TV a cabo, agência de publicidade, podcasts, estúdio de cinema, gravadora e até um bar em Londres, operando em 30 países.
Ela conseguiu se firmar contando histórias de formas diferentes, mais alinhadas ao gosto dos millenials que não queriam ler os mesmos jornais que seus pais, e abordando temas considerados “sub-representados” ou com pouca atenção de outras mídias.
Nos tempos áureos, recebeu investimentos de gigantes do entretenimento como a Walt Disney Company e a Fox e bateu a marca de 3 mil funcionários. Atualmente são 900.
Reportagens aprofundadas e documentários valeram prêmios importantes de jornalismo. Em 2021, a Vice foi indicada a 23 prêmios Emmy em notícias e documentários, ganhando quatro.
Em 2017, a empresa tinha sido avaliada em US$ 5,7 bilhões, mas o valor caiu para menos de US$ 1 bilhão quando ela começou a buscar um comprador, no início de 2023.
Em uma reportagem publicada no Motherboard, site de tecnologia da Vice, quando foi decretada a falência, o editor Jason Koebler descreveu o “peso” da estrutura, lembrando que a empresa recebeu grandes aportes que permitiram a expansão, mas ganhou junto uma lista de investidores esperando retorno sobre os seus investimentos.
Ele destacou a empresa de private equity TPG, que deu à empresa US$ 450 milhões em 2017 para ampliar a TV Vice e expandir internacionalmente, além dos investimentos recebidos da A&E Networks, Disney e Fox.
Na avaliação de Koebler, esses investimentos levaram a uma estrutura corporativa altamente complexa e a uma série de dívidas que Frank Pometti, da consultoria AlixPartners, nomeado Diretor de Reestruturação da Vice, disse que acabou resultando na falência da empresa, e que os novos donos não conseguiram reverter.
Leia também | Fim do jornalismo no BuzzFeed: CEO culpa redes sociais por prejuízos que levaram ao fechamento