Londres – O Los Angeles Times, um dos principais jornais americanos, confirmou nesta terça-feira uma onda de demissões de 115 profissionais – mais de 20% da equipe da redação – , “em uma das maiores reduções da força de trabalho em seus 142 anos”, diz a reportagem informando sobre o corte. 

O jornal comprado há quase seis anos pelo empresário de biotecnologia Patrick Soon-Shiong teria registrado prejuízo de US$ 40 milhões em 2023. 

É mais um dos EUA a sentir os efeitos da crise, que vem provocando demissões e e fechamento de títulos importantes. 

Greve não conteve cortes no Los Angeles Times

Na sexta-feira os funcionários do veículo fizeram uma greve de um dia, mas os cortes foram confirmados, embora em número menor do que previsto, segundo a LA Times Guild, uma das associações sindicais que reúne profissionais do jornal. 

Há duas semanas, o editor-executivo do LA Times, Kevin Merida deixou o cargo onde estava há dois anos e meio, sem especificar as razões.

A saída de Merida, cuja contratação havia sido saudada como um movimento em prol da diversidade racial na esteira do Black Lives Matter, havia acendido o alerta sobre o que estava por vir. 

Há sete meses houve primeira onda de demissões, eliminando 70 postos do Los Angeles Times.  

Ao anunciar seu desligamento, no dia 9 de janeiro, ele escreveu à equipe: 

Kevin Merida – foto ESPN Press Room

“Hoje, com o coração pesado, anuncio que estou deixando o The Times.

Tomei a decisão, em conversa com Patrick, após um exame de consciência considerável sobre minha carreira nesta fase e como posso ser mais valioso para a profissão que amo.”

No entanto, o dono do LA Times não foi tão diplomático.

Segundo reportagem no jornal, ele disse que “reconheceu há vários meses que o ex-editor executivo e vários editores de alto escalão não estavam realizando o trabalho esperado.

Demissões atribuídas a prejuízos 

Em um comunicado, o proprietário disse que as perdas que a sua família absorveu nos últimos anos “ultrapassaram os 100 milhões de dólares em despesas operacionais e de capital”.

A reportagem do LA Times classifica os cortes de “dramáticos”, não apenas pela quantidade, mas também por ter atingido estrelas da equipe. 

Em um ano eleitoral nos EUA, o jornal ceifou a chefe da sucursal de Washington, Kimbriell Kelly, vencedora de um prêmio Pulitzer, e o vice-chefe da sucursal, Nick Baumann.

Também foram embora o editor de negócios Jeff Bercovici, o editor de literatura Boris Kachka e o editor musical Craig Marks. 

Vários fotógrafos premiados foram dispensados, e a unidade de vídeo foi esvaziada.

Ao justificar os cortes, o presidente e diretor de operações do LA Times, Chris Argenteri, disse que “a realidade econômica da organização é extremamente desafiadora”, e que ”apesar da vontade do  proprietário em continuar a investir, precisamos de tomar medidas imediatas para melhorar a nossa posição de caixa.”

Sindicatos tentaram pacote de demissão voluntária 

Os sindicatos de funcionários do Los Angeles Times tentaram convencer o jornal a oferecer pacotes de demissão voluntária, amenizando o impacto sobre os dispensados, mas a ideia não foi aceita. 

O Los Angeles Times Guild disse em um comunicado que jovens jornalistas negros e latinos foram os mais afetados, “apesar do compromisso público da família Soon-Shiong em 2020 com a diversidade na equipe do jornal”. 

Os problemas de um dos maiores influentes jornais americanos e o mais importante na Costa Oeste estão na mira de políticos da Califórnia. 

Um grupo de dez parlamentares do Estado escreveu uma carta para Soon-Shiong na terça-feira dizendo-se “preocupados com relatos de possíveis demissões enfrentadas pela redação do LA Times e o efeito que isso terá sobre a comunidade, a disponibilidade de notícias essenciais e a força da nossa democracia”. 

O empresário rebateu em uma entrevista, cobrando dos políticos que façam mais para apoiar a indústria de mídia em suas demandas por pagamento pelo uso de conteúdo por parte das plataformas digitais, como fizeram a Austrália e o Canadá.