Londres –  Único jornalista atrás das grades em um país da União Europeia atualmente, o repórter freelance espanhol Pablo González completou nesta quarta-feira (28) dois anos na cadeia em prisão preventiva na Polônia, acusado de ser um agente da inteligência russa. 

Na madrugada de 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após a invasão da Ucrânia pela Rússia, González foi preso por oficiais do Serviço de Segurança da Polônia (ABW) enquanto cobria a crise humanitária na fronteira ucraniana. Especializado no mundo pós-soviético, o jornalista foi colaborador regular do diário espanhol Público, do canal de televisão La Sexta e da publicação basca Gara.

Ele é filho de um russo e de uma espanhola. As autoridades alegaram que González estaria trabalhando como espião para a inteligência militar russa disfarçado de jornalista. 

Repórter na prisão sem acusações divulgadas 

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), um tribunal polonês prorrogou em 15 de fevereiro a prisão preventiva de González pela oitava vez, o que significa que ele passará pelo menos mais três meses na prisão. 

A organização afirma que as acusações contra ele não foram tornadas públicas, sob o argumento de segurança por ser uma alegação de espionagem, e não há julgamento marcado. 

A única informação nova sobre o caso foi publicada no ano passado pelo meio de comunicação independente russo Agentstvo, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras.

Segundo o veículo, o repórter Pablo González estaria na prisão por ter espionado Zhanna Nemtsova, filha do líder da oposição russa Boris Nemtsov, assassinado em Moscou em 2015.

O veículo também afirma que González viajou com um membro da inteligência russa em 2017 de Moscou para São Petersburgo e vice-versa. No entanto, as revelações não foram confirmadas por fonte oficial.

As Federações Internacional e Europeia de Jornalistas (IFJ-EFJ), juntamente com as suas afiliadas espanholas, instaram as autoridades da Polônia a libertá-lo, para que possa defender-se em um tribunal e ter um julgamento justo.

“Não existem prazos máximos para detenção na Polônia. A prisão preventiva, mesmo que por vários anos, é comum em casos importantes. Se alguém é estrangeiro, o Tribunal muitas vezes reconhece que existe o risco de fuga, que é um dos motivos da prisão”, disse o advogado Bartosz Rogała à IFJ há um ano, quando era defensor de González.

Campanha para pressionar por libertação do jornalista 

A esposa do jornalista, Oihana Goiriena, condenou em diversas ocasiões as condições a que o jornalista espanhol está sujeito na prisão.

“Pablo é tratado como um prisioneiro perigoso, por isso passa 23 horas isolado em sua cela todos os dias e só pode sair para o pátio por uma hora”

Criada por seus familiares e amigos, a Associação #FreePabloGonzález criticou a falta de transparência e informação em torno do caso.

A organização Repórteres Sem Fronteiras também aproveitou os dois anos em que o repórter está preso para cobrar transparência, por ser “altamente incomum manter um jornalista detido durante dois anos sem julgamento e sob acusações secretas”

“Embora respeitemos o princípio do sigilo da investigação, apelamos ao Ministério Público para que garanta – em conformidade com as normas da UE – uma transparência mínima sobre as provas detidas contra o jornalista preso há tanto tempo”. 

Caso do repórter preso poderia ser revisto por novo governo polonês 

Desde as eleições parlamentares de outubro de 2023, a Polônia tem um novo governo cujos planos para restaurar o Estado de direito foram bem recebidos pela União Europeia.

A IFJ e a EFJ disseram esperar que o novo governo reveja o caso de González, e que o sistema judicial polaco apresente as acusações contra ele, se houver, para que ele possa se defender.

“É inaceitável que um Estado-Membro da UE detenha um jornalista de forma tão arbitrária. Não só os direitos fundamentais de Pablo González como cidadão e como jornalista estão sendo violados, mas também a liberdade de imprensa e o direito do público de saber ”, reiteraram em nota conjunta as duas entidades. 

Elas apelaram à Polônia para que respeite a Convenção Europeia dos Direitos Humanos:

“Todas as pessoas presas ou detidas (…) devem ser imediatamente levadas a um juiz (…) e terão direito a julgamento num prazo razoável ou a liberação pendente de julgamento”.

Miguel Ángel Noceda, Presidente da Federação das Associações de Jornalistas Espanhóis (FAPE), afirmou:

“É intolerável que ele continue detido, a maior parte do tempo incomunicável, dois anos após a sua detenção. As contínuas prorrogações impostas pelas autoridades judiciais polonesas de sua prisão preventiva fazem da sua detenção forçada uma verdadeira tortura”.

A Associação de Jornalistas de Espanha (UGT) também cobrou a libertação imediata do jornalista Pablo González.

“É intolerável que ele esteja preso há dois anos, com acusações gravíssimas e aguardando julgamento. Pedimos que o julgamento seja realizado o mais rápido possível, contando com todas as garantias legais de um Estado democrático.”